Desde que o Governo angolano anunciou o desejo de pretender reactivar o Corredor do Lobito, aumenta o interesse de empresas, países ou organizações internacionais em participar no processo.
O setor Têxtil a nível mundial tem enfrentado vários desafios consideráveis que vão desde as questões ambientais e sociais, avanços tecnológicos, até mesmo alterações nas preferências do consumidor, proporcionando produtos inovadores a nível global. Este sector ocupa a nível da economia mundial um lugar cada vez mais decisivo, na medida que gera postos de trabalho e contribui para o aumento do produto e das exportações.
Pessoalmente não acredito em realidades imutáveis. O que me proponho hoje é tudo menos discutir filosofia. Falo em realidades imutáveis, mas escuso-me a mergulhar, embora já mergulhando, na velha querela filosófica entre o Ser e Não Ser, nas teses de Parmênides e Heráclito, com o seu “tudo flui” ou, trocado em miúdos, “tudo muda”.
A vida ensina-nos, todos os dias, que não há mal que sempre dure e nem a noite que nunca se acabe. Aliás, é bíblico. Para mim é quanto basta para acreditar sempre num amanhã melhor ou, pelo menos, diferente. Talvez seja essa a razão do meu optimismo inabalável quanto à falibilidade do mal (e dos maldosos, também), ante a força da bondade genuína. Mas não se confunda bondade genuína, aquela que gera empatia, cria pontes e facilita a busca por consensos, com o ser bonzinho, que equivale a tolo ou boelo, no linguajar tipicamente angolano. A verdade é que o ambiente adverso, muitas vezes atroz, quase selvagem, tem convertido pessoas boas em maldosas, insensíveis e sem escrúpulos.
Mas aí está. Estava eu a dizer, prevenindo-me ou autocensurando-me, que não estava afim de filosofar (e mantenho), mas quando falamos em pessoas boas converterem-se, estamos desde logo a dar razão a Heráclito. O que é, afinal, sempre foi e assim permanecerá? Ou estamos em presença de um exemplo acabado da falência da tese sobre a imutabilidade das coisas? Mas se concluirmos que as pessoas são naturalmente boas, tornando-se más ou imperfeitas apenas em função das circunstâncias, aí são outros quinhentos.
Entretanto, insisto em não acreditar em realidades imutáveis. Não há mal que dure para sempre. Sempre haverá sol depois da escuridão da noite, por mais longa e interminável que pareça. Esta é uma divisa que aprendi desde cedo com o meu querido pai, senhor Patrício José Cambuandy. Não me esqueço das sessões sem anúncio prévio, a maior parte delas depois de um episódio em que alguém (normalmente eu), tinha posto o pé na poça, e lá estava o meu velho a fazer um discurso. Como quem prepara os filhos para a frente de combate, repetia muitas vezes uma definição de Agostinho Neto sobre a vida, como uma sucessão e somatório de factores contraditórios nem sempre solúveis, segundo a sua natureza. Levei tempo até compreender o que o meu pai pretendia com algo tão profundo e ao mesmo tempo complexo. Éramos todos menores. A Yana, Eu, a Incerteza, a Fifinha e a Pacita. A Tânia não estava connosco e o Muxima e o Genilson sequer existiam. E dizia-o a mim, com algum direcionamento, e isso também levei tempo a perceber porquê.
A verdade é que antes mesmo de compreender o pensamento filosófico de Neto contido naquela definição sobre a vida, passei a agir e a pensar de modo diferente. Tornei-me um precocezito, querendo sempre adiantar-me a compreender, para fazer. Não correr para não tropeçar e não dizer nada de que me arrependesse logo a seguir. Pensar antes de falar, conforme diz ainda hoje o meu velho, porque as palavras, depois de saírem da nossa boca, deixam de pertencer-nos.
Essa talvez tenha sido a forma como inconscientemente reagi (ou fui reagindo) à necessidade de estar preparado para a vida, para as cambalhotas que ela dá, e pronto para qualquer novo desafio. Hoje assino como jornalista, mas fui barman e porteiro de discoteca. Também estudante dedicado. Aluno da professora Gabriela Antunes, ainda por cima Delegado, com tudo o que isso representa. Ainda hoje, nas conversas com antigos colegas do curso de Jornalismo, a irmandade Mussunda, dou comigo a falar como Delegado. Com autoridade, mas sem autoritarismo nem arrogância. Foi com a professora Gabriela Antunes que aprendi a lidar com isso. Ser autoritário sem ser arrogante é uma história que começa lá atrás.
A professora Rosa, minha querida mãe, de rica e feliz memória, o meu pai, Sr. Cambuandy, estes fizeram os caboucos. A professora Gaby fez o resto ao indicar-me para Delegado da turma de finalistas e só mais tarde descobri porquê. Ela deu-me a responsabilidade e autoridade para liderar aquele grupo de colegas. Com tantas feras na turma, alunos brilhantes de quadro de honra, estar à altura de os representar e por vezes falar por eles, desencorajava qualquer pretensão de me sentir melhor ou mesmo superior.
Outro dia ouvi o Ernesto Bartolomeu desfazer-se em elogios à professora Gabriela Antunes. Ela foi a principal responsável pelo profissional de referência em que se tornou. Comigo não foi diferente. E estava aí precisamente o segredo e a sabedoria da professora Gaby, que logrou, com aquela decisão, duas coisas extremamente importantes: ganhou um aliado, quase um discípulo entre os alunos, e um estudante ainda mais dedicado aos estudos. Desde então que é assim. E nisso de querer estar à frente, e permanentemente disponível e em prontidão, um general reformado, com quem tive a honra e o privilégio de trabalhar, apelidou-me de "capitão sem quartel”. Tornamo-nos próximos, ganhei um amigo.
Mas estar sempre disponível e em prontidão, tem o seu preço. Uma amiga muito querida, certa vez, chamou de "Ngangulismo militante”. Meu querido, dizia ela, noutro país qualquer serias rico de tanto trabalhar. Passam-se anos, mais de duas décadas, para ser mais preciso, e sinto que ela, apesar do esforço para não usar o termo (Ngangulismo militante), olha-me da mesma forma. E sem dizer uma única palavra, sinto como se me estivesse a sussurrar ao ouvido: seu Ngangula! Ao que ela considera Ngangulismo militante, referência à figura de Augusto Ngangula, o pioneiro que preferiu a morte a ter que mostrar aonde ficava a base dos guerrilheiros do MPLA, eu chamaria patriotismo que muitas vezes se mistura e se confunde com optimismo permanente em relação à nossa Angola.
O optimismo tem a ver com a fé na bondade dos homens. Falo da bondade genuína que proporciona a sensação de reconhecimento e empatia, e que favorece a comunicação e as negociações que levam a melhores resultados. Não é ser boelo, é saber ser e estar.
Ngangula somos todos. Uma espécie cada vez mais rara e em risco de extinção, mas que existe em cada um de nós, em cada estrofe do "Angola Avante”, que é nosso e de mais ninguém, ou toda a vez que nos encontramos longe, na ngunda, bate aquela saudade das coisas da banda. Somos todos uns Ngangulas, porque acreditamos no país que temos e somos. Acreditar em Angola não é nenhum pecado.
*Jornalista
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