O Presidente russo, Vladimir Putin, chega hoje à Coreia do Norte, na sua primeira visita ao país, estando previsto que o programa oficial decorra na quarta-feira, designadamente com a assinatura de "documentos importantes".
A Rússia e a China estão a desenvolver um quadro nas relações internacionais focado numa abordagem mais democrática e respeitando o direito e soberania dos Estados, realça o professor titular de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves.
O professor, ouvido pela imprensa brasileira, argumenta que "a cooperação estratégica "Rússia-China, comprometida com o BRICS, está empenhada em alterar a ordem internacional, logrando obter maior abertura nas relações, criando condições para escolhas baseadas em interesses justos e livres”. "Notamos que as posições de Moscovo e de Pequim, sobretudo na abordagem democrática e no respeito ao direito da soberania dos Estados perseguem um equilíbrio mundial".
Williams Gonçalves comentava a entrevista do Presidente russo, Vladimir Putin, ao jornalista norte-americano Tucker Carlson, referindo que ficou claro nessa conversa, pelos sinais, que a aliança Rússia-China é um desafio internacional de grande interesse das potências ocidentais.
Aponta o fortalecimento das relações económicas entre Rússia, China, Índia e países africanos como uma resposta à insuficiência da actual ordem internacional, que está presa em assuntos com menos importância na visão de desenvolvimento e sustentabilidade dos Estados. "A economia russa não apenas resistiu, mas também cresceu", afirma.
O professor titular de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves referiu que as motivações por trás das acções na Ucrânia, apoiada pelos Estados Unidos da América e União Europeia, está a ser posta em causa em vários círculos internacionais, com destaque no Ocidente.
O complexo militar-industrial dos EUA é acusado de se opor a qualquer mudança na ordem internacional que possa ameaçar os seus interesses económicos e estratégicos, indica Gonçalves. A situação na Ucrânia e os acordos de Minsk, segundo Gonçalves, merecem hoje muita atenção de analistas políticos e militares, animando linhas de debate sobre a postura do Governo ucraniano perante as negociações para um tratado de paz.
O professor Williams Gonçalves enfatiza que tanto a Ucrânia quanto os países ocidentais têm que se adaptar no quadro de uma realidade emergente. Neste contexto, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderada pelos EUA, deve abrir uma nova abordagem à Ucrânia, apesar de parte de sua estratégia estar focada em conter a influência russa na Eurásia, em defesa dos interesses genuínos do povo ucraniano em prol de uma agenda geopolítica.
Pacto de Xangai
As relações da Rússia e da China na Ásia foram referidas como fundamentais para conter o terrorismo e impulsionar a economia na região. Nesse sentido, a Organização para Cooperação de Xangai, também conhecida como Pacto de Xangai, aliança de defesa surgida no mundo pós-Guerra Fria, que inclui a Rússia e a China, está a consolidar os interesses mútuos dos Estados-membros.
O professor de Geopolítica na Universidade do Estado do Mato Grosso (UEMG) e autor do livro "Geopolítica das Organizações de Cooperação em Defesa", Vinicius Modolo Teixeira, citado na imprensa brasileira, afirmou que as organizações de defesa passaram por transformações importantes nos últimos séculos.
"O Pacto de Xangai se constrói para combater forças extremistas, terroristas e separatistas, os "três grandes males que atingem as potências da Ásia Central", disse Teixeira. No entanto, em 2001, quando o Pacto dos Cinco de Xangai (Cazaquistão, China, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão) se torna a Organização para Cooperação de Xangai, novos membros e novos acordos são feitos, e seu carácter como uma força reorganizadora da Eurásia se consolida.
Perante o desafios internacionais, as alianças continuam a ser de maior necessidade, defendendo entretanto que as mesmas devem-se adaptar aos contextos, refere o pesquisador. A título de exemplo, cita a inclusão da Índia e do Paquistão (rivais geopolíticos) no pacto de Xangai e as perspectivas de entrada do Afeganistão, governado pelos talibãs.
"A intenção russo-chinesa é pacificar a Ásia Central, dar um instrumento de cooperação e também um ambiente de diálogo entre esses países", sublinha, acrescentando a seguir: "É uma tentativa de pacificar e de organizar a Ásia Central de modo que Rússia e China possam operar com tranquilidade dentro do seu território e entorno estratégico", realçou.
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