Política

Oportunidades de negócios aceleram acordo de protecção de investimentos

Paulo Caculo | Seul

Jornalista

Angola está a acelerar a aprovação e entrada em vigor do Acordo de Protecção Recíproca de Investimentos com a República da Coreia do Sul, revelou, segunda-feira, em Seul, o Presidente da República, João Lourenço, à margem da visita oficial ao país asiático.

30/04/2024  Última atualização 06H41
Presidente da República reconhece a importância do investimento coreano para o país © Fotografia por: Paulo Mulaza | Edições Novembro | Seul

Ao discursar na abertura do Fórum Empresarial Angola-Coreia do Sul, co-organizado pelo Ministério do Comércio e Indústria sul-coreano e a Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX), o estadista angolano disse que o Executivo tem muito interesse em ver unidades fabris de máquinas pesadas, automóveis e de electrónica instaladas no país, como parte da parceria sólida e duradoura que ambos os países querem construir, para benefício das respectivas economias e povos.

Mediante o exposto, João Lourenço assegurou que é com sentido "de estarmos mais próximos” e de "tirarmos o máximo de proveito das oportunidades de negócios oferecido pelos dois países” que se vai acelerar a aprovação do acordo pretendido sobre a protecção de investimentos mútuos.

"As autoridades angolanas reconhecem a importância do investimento coreano em Angola e estão abertas e disponíveis para encontrar as melhores opções, para que uma relação estável e de vantagens mútuas possa ser construída e preservada”, esclareceu.

Para garantir que qualquer tentativa de investimento, em Angola, seja uma certeza de sucesso, o Chefe de Estado sustentou a tese do seu discurso referindo que o país tem um "grande potencial turístico por explorar e desenvolver”, apesar de reconhecer que "carece de infra-estruturas hoteleiras”, para valorizar mais as atracções turísticas e beleza natural das paisagens de lindas praias, lagos naturais, quedas de água dos principais rios e a rica fauna das reservas ambientais e parques naturais.

"Angola é uma das principais economias emergentes do continente africano, sendo actualmente a quinta maior economia da África subsaariana, com uma população maioritariamente jovem”, elucidou João Lourenço, dirigindo-se a uma plateia maioritariamente preenchida por empresários sul-coreanos.

"O nosso país tem trilhado o seu percurso de desenvolvimento, assente em princípios democráticos, de justiça e de equidade social”, acrescentou o Presidente da República, para em seguida sublinhar que Angola possui uma economia aberta e com enormes potencialidades, assegurando estar a ser consolidado um conjunto de reformas com o propósito de melhorar o ambiente de negócios e incentivar o investimento privado na economia angolana.

A Lei do Investimento Privado, actualmente vigente, prosseguiu João Lourenço, confere a liberdade de movimentação de capitais, de formação de parcerias e de acesso a benefícios fiscais. "Em 2018, iniciámos um amplo programa de reformas económicas, institucionais e financeiras com o objectivo de criar as condições para um crescimento económico diversificado e sustentável”, enfatizou.

 
Potencial sul-coreano

O Presidente da República reconhece haver, também, do lado sul-coreano "um país com credenciais reconhecidas nos mais variados domínios”, destacando o rápido crescimento económico, "pela sua resiliência e capacidade de inovação científica”, que colocam o país num patamar de destaque entre as nações mais desenvolvidas do mundo.

João Lourenço valorizou, por isso, a realização do Fórum Empresarial que reuniu, ontem, pela primeira vez, em Seul, agentes públicos e privados de ambos os países, como o modelo ideal para melhor conhecer e avaliar as potencialidades de reforço das relações económicas e financeiras entre Angola e a Coreia do Sul.

"As marcas de automóveis, os equipamentos tecnológicos e de telecomunicações da Coreia do Sul, apenas para citar alguns, são muito procurados e consumidos em Angola”, revelou o Chefe de Estado, a título de exemplos, para depois garantir que Angola conta com a "competência e valências” dos sul-coreanos "para juntos construirmos as pontes de ligação permanente entre os dois países e povos”.

"Ambicionamos um crescimento sustentável e inclusivo para o nosso país, temos uma população jovem, empenhada e desejosa por novas oportunidades de superação profissional e de emprego”, referiu.

 
Agricultura

O Chefe de Estado incentivou as empresas sul-coreanas para investimentos no domínio da Agricultura, assegurando aos homens de negócios do país asiático que Angola possui uma vasta extensão de terras cultiváveis e tem em curso um programa de segurança alimentar que está a mobilizar a sociedade.

O arroz, citou o Presidente da República, "é um dos produtos principais do programa”, pelo que assegurou, igualmente, haver "muito interesse” à iniciativa das autoridades sul-coreanas de apoio às nações africanas na produção deste cereal, através do projecto "K-Rice Belt”, partilhando conhecimento e tecnologia.

Em face disso, continuou o Chefe de Estado, Angola pretende, também, integrar o projecto, reconhecendo as inúmeras vantagens que pode trazer para o país, "não apenas no domínio da agricultura”, mas também no alargamento das relações económicas noutros sectores.

 
Projectos relevantes

João Lourenço foi incisivo em relação aos investimentos feitos pelo país em termos de infra-estruturas de apoio à actividade económica, destacando aqueles que considerou relevantes, como é o caso do conhecido Corredor do Lobito, mas também a construção de plataformas logísticas em várias regiões do país.

Na região da Barra do Dande, disse, está a ser concluída uma nova zona franca, destinada à instalação de unidades fabris de empresas que pretendem ter em Angola uma base privilegiada de produção de bens para o consumo interno ou para exportação.

"É nessa mesma zona que a Sonangol está a edificar o seu terminal oceânico, que vai permitir armazenar em terra cerca de 580 mil metros cúbicos de produtos refinados”, esclareceu, anunciando, também, a reabilitação e modernização dos portos e aeroportos do país.

"Na província mais a Norte do país, Cabinda, estamos a construir o maior porto de águas profundas de Angola, cuja obra se prevê concluir em finais de 2025”, afirmou, seguindo com a incontornável referência ao novo Aeroporto Internacional de Luanda, para quem a infra-estrutura moderna e já inaugurada será importante "para servir os cidadãos, a economia e, naturalmente, os investidores”.

 
Energia e Águas

No domínio da Energia e Águas, o Presidente da República destacou que os vários investimentos transformadores em curso. No caso concreto da energia, o Chefe de Estado informou que Angola possui, hoje, uma produção acima da capacidade de consumo, que provém das três principais barragens hidroeléctricas em funcionamento.

A previsão da maior delas, a de Caculo Cabaça, acrescentou João Lourenço, uma vez terminada, "colocará o país com mais de nove mil megawatts”, além de que o país está, também, a produzir acima de 300 megawatts de energia a partir de centrais fotovoltaicas com painéis solares.

De acordo ainda com o estadista angolano, que se fez acompanhar ao Fórum Empresarial na companhia da Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, o "país está empenhado na construção da rede de transporte e distribuição de energia, atraindo, de preferência, o investimento privado para este negócio, que lhe dá a possibilidade de poder, também, vender aos países vizinhos da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), sobretudo para a região mineira do "Copperbelt”, na Zâmbia, e República Democrática do Congo (RDC).

 
Sector petrolífero

O Chefe de Estado referiu, ainda, que os estaleiros coreanos têm a sua impressão digital no sector petrolífero em Angola, justificando que muitas das instalações de exploração, produção, armazenamento e de transporte de petróleo bruto angolano foram construídas com o suporte de técnicos do país sul-coreano.

"Vamos continuar a contar com o vosso engenho, pelo que aproveito para lançar o repto de estarem instalados em Angola, para a prestação de serviços de manutenção de equipamentos navais”, disse.

A refinaria de petróleo de grande dimensão em construção na cidade do Lobito, segundo o Presidente da República, estará associada a uma importante indústria de petroquímica, razão pela qual sublinhou que gostaria, também, de ter a participação e o investimento de empresas sul-coreanas no projecto.

"Desencadeamos um ambicioso programa de modernização das infra-estruturas de suporte ao desenvolvimento económico e social”, ressaltou.


Ministro sul-coreano defende definição de base de cooperação

O ministro do Comércio, Indústria e Energia da Coreia do Sul, Inkyo Cheong, defendeu, ontem, o estabelecimento de uma base de cooperação entre Angola e a Coreia do Sul.

Inkyo Cheong, que discursava no Fórum Empresarial dos dois países, disse que o nível de cooperação entre os Estados angolano e sul-coreano tem ficado, nos últimos tempos, um pouco aquém do potencial apresentado pelas duas nações.

"Gostaria de aproveitar esta oportunidade, com a visita do respeitável Presidente João Lourenço, para falar sobre a relação económica entre os nossos dois países. Primeiro, é necessário estabelecer uma base para continuar a cooperar de forma mutuamente vantajosa para os dois países”, disse.

A assinatura, hoje, do acordo no quadro de promoção de investimentos e comércio entre os Ministérios da Indústria e Comércio dos dois países, disse, "é uma plataforma económica especializada onde as áreas de interesse podem ser discutidas”.

Inkyo Cheong disse, ainda, que espera que ambos os países decidam identificar projectos de cooperação substanciais e continuar a cooperação a longo prazo.

"O dinamismo do sector privado dos dois países deve ser colocado em teste, para enfrentar os desafios com as cadeias de crescimento e as mudanças climáticas”, acrescentou, para em seguida assegurar que a cooperação entre os Governos é essencial, mas acima de tudo "precisamos da cooperação no sector privado”.

O ministro sul-coreano frisou que Angola e a Coreia do Sul são países irmãos, que compartilham dores semelhantes, dado que ambos sofreram com o domínio colonial e enfrentaram uma guerra civil severa e, também, a extrema pobreza.

Apesar da distância geográfica, prosseguiu o titular da pasta do Comércio, Indústria e Energia da Coreia do Sul, apesar da história relativamente curta das relações diplomáticas entre os dois países, as semelhanças fortalecem o sentimento de união entre os dois povos.

"Acredito que a introdução da Coreia como um dos principais parceiros de cooperação de Angola, entre os 12 mencionados pelo Presidente João Lourenço no seu discurso de tomada de posse, baseia-se, também, neste sentimento de grande proximidade”, ressaltou.

Inkyo Cheong referiu, a finalizar, que desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre Angola e a Coreia do Sul o volume comercial entre os países aumentou mais de 25 vezes, com a estreita cooperação focada nos sectores dos Petróleos, Energia e Construção Naval para o offshore.


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