Desporto

África celebra hoje dia histórico com meio século de conquistas

O desporto, tal como o conhecemos hoje em África, foi trazido da Europa. Embora o continente tivesse os seus jogos nativos, os diferentes desportos chegados do chamado Velho Continente impuseram-se, com alguma naturalidade. É verdade que, em alguns casos, há ainda desportos nativos muito populares, como a luta-livre africana, no Senegal e na Gâmbia. De um modo geral, foi entre o fim do Século XIX e princípio do XX que a prática desportiva organizada começou no “continente-berço”. Primeiro, no litoral Norte de África e depois noutras costas, com cruzadores e outros tipos de embarcações britânicas que atracavam para comercializar, carregar e descarregar produtos. Aquelas introduziram o futebol, que se foi expandindo para o interior, de forma célere e, também, rapidamente adoptado.

25/05/2024  Última atualização 12H10
“Estrelas” de distintas gerações e disciplinas contribuíram para o desenvolvimento © Fotografia por: DR

Deve-se também aos britânicos, mas, sobretudo, com as suas companhias majestáticas, a introdução de desportos náuticos. Remo, vela, canoagem, natação e outros chegaram à África por via de funcionários do alto escalão dessas empresas, sendo primeiramente praticado de modo lúdico e, mais tarde, no apogeu do colonialismo, mais ou menos na década de 1950, de forma competitiva.

Por seu turno, as modalidades de salão foram introduzidas sobretudo no início do Século XX por militares europeus, principalmente nas colónias francesas. Mas, houve uma organização a qual se deve muito a expansão de desportos ocidentais em África. Trata-se da Associação de Jovens Cristãos (YMCA, na sigla em inglês). Basquetebol, andebol e voleibol, por exemplo, entraram no continente por via dessa instituição, fundada por George Williams, com o propósito de aplicar os fundamentos do cristianismo, por via do desenvolvimento do espírito, da mente e do corpo.

Na introdução de modalidades nascidas na Europa, o pioneirismo coube às de origem britânica, tais como golfe, ténis, cricket, badminton, rugby e, naturalmente, futebol. Por maioria de razão, foram igualmente as colónias britânicas as primeiras a "beneficiarem” desse privilégio. Nos primórdios, porém, apenas os europeus, quase todos na pele de colonizadores, praticavam desporto. Este cenário não foi duradouro, pois, os nativos também aderiram à prática, sendo que na maior parte dos casos, inclusive em colónias francesas, havia organizações desportivas separadas para brancos e negros. Ou seja, durante anos a fio brancos e negros não competiam nas mesmas provas. Até em Moçambique, país colonizado por Portugal, pórem com fortes influências da África do Sul do período do apartheid, era assim. Já em Angola, não.

A separação não impedia que os negros se desempenhassem ao mais alto nível e houve situações em que, das poucas vezes que equipas de negros cruzavam com formações de brancos, aquelas saíam vencedoras. E aos poucos, os europeus que dirigiam estruturas organizativas de desportos, em vários países africanos, foram tomando consciência de que a integração racial era inevitável, a bem da competitividade. De modo que, em alguns territórios colonizados, foram disputadas competições mistas.

 

Pós-colonização

As independências, porém, tornaram livre a prática do desporto. Primeiro nos países anglófonos, a partir de finais da década de 1950, depois nos francófonos na de 1960 e os lusófonos na de 1970. Nos países nascentes, havia uma particularidade comum a todos: herdaram os desportos dos colonizadores. O único transversal a todos é o futebol, embora haja outras modalidades mais ou menos universais como o basquetebol e o andebol. Por exemplo, o hóquei em campo é essencialmente praticado em países anglófonos e o hóquei em patins apenas nos lusófonos.

Na década de 1960, entretanto, surgiram as primeiras confederações continentais e, na sequência, iniciaram no mesmo decénio as competições de clube e de selecções, em diferentes modalidades. Em todo esse processo, o Egipto,  um dos primeiros países a conhecer a prática desportiva, tal como se apresenta nos dias de hoje, desempenhou papel fulcral na criação das instituições continentais, algumas das quais, como a de futebol e de basquetebol, albergou por largos anos as respectivas sedes.

Além das competições por modalidades, para afirmação do desporto no continente, concorreu, também,  a criação do Conselho Superior dos Desportos em África (CSSA, na sigla em francês) – herdeira de uma designada CPSA. A organização nascida a 14 de Dezembro de 1966, em Bamako, era entendida e usada pelas lideranças políticas africanas como ferramenta de coordenação do movimento desportivo continental e um expediente de combate ao apartheid e ao colonialismo por via do desporto.

Jogos Africanos

O CSSA ergue-se como braço da Organização da Unidade Africana a 3 de Julho de 1977, isto depois de organizar a I edição dos Jogos Africanos em Brazzaville’65, ainda nas vestes de CPSA, no que foi a festa da fraternidade e irmandade desportiva africana. Sob a sombrinha do CSSA, entretanto, dissolvido em 2013, foram realizadas a cada quatro anos – nem sempre a periodicidade foi cumprida – 10 edições dos Jogos. A partir, contudo, daquele ano, a organização do maior evento desportivo africano ficou sob égide da Associação dos Comités Olímpicos Nacionais de África (ACNOA) e da União das Confederações Desportivas Africanas (UCAS).

No contexto mundial, os resultados do desporto africano não são nada famosos. Vez por outras há um lampejo em Jogos Olímpicos ou campeonatos do Mundo, mas de um modo geral os resultados são mirrados, algo que decorre das fragilidades que a África apresenta. Desde já, porque o sucesso no desporto está intimamente ligado à pujança económica, algo que a generalidade dos países africanos não possui. E não há sinais de que a coisa vá mudar. Desafortunadamente.

Em contraponto, vários atletas africanos destacaram-se ao longo dos Jogos Olímpicos, algo que aconteceu quase exclusivamente no atletismo. O que é muito pouco para um continente que em apenas uma ocasião, em Moscovo’80, logrou uma medalha de ouro,  num desporto colectivo, algo que aconteceu com o Zimbabwe no hóquei em campo feminino. 

Portanto, a história do desporto africano tem ainda muitos capítulos por escrever. E se lhe reconhece potencial para tanto.

                          *Jornalista

Silva Candembo *

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