Reportagem

Ravina ameaça engolir sistema de abastecimento de água potável

Francisco Curihingana | Malanje

Jornalista

Situado a 210 quilómetros da cidade de Malanje, o município de Massango tem alguma notoriedade por ser um dos maiores produtores de ginguba, a partir das comunas de Kihuhu e Kinguengue.

22/08/2023  Última atualização 10H47
Ir para a comuna de Kihuhu, para além da areia ao longo do troço, o outro problema é das gigantescas ravinas que tendem a cortar a circulação © Fotografia por: Francisco Curihingana | Edições Novembro | Massango
Porém, se a produção da ginguba, do café, da banana, do inhame, da mandioca e até a extracção de diamantes trazem algum conforto aos munícipes, o grande problema mesmo é das ravinas.

As ravinas existentes naquela região tiram o sono aos munícipes e as autoridades administrativas locais. Na sede do município há uma ravina que ameaça engolir o sistema de abastecimento de água à sede municipal.

A administradora municipal, Ânsia Salatiel Camuanga, receia que com o início da chuva, dada a fragilidade dos solos, o sistema venha a ser engolido pela ravina que teimosamente vem progredindo em direcção àquela infraestrutura, que custou muito dinheiro aos cofres públicos. "Assim que não está a chover, elas também pararam. Nesta região chove muito, tão logo comece a cair a chuva, aquilo anda e,no entanto, o sistema de água custou muito dinheiro ao Estado. Então, devemos protegê-lo. Estamos já a interagir com o Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, no sentido de dar resposta ao problema. Há uma esperança”, disse.

Ir para a comuna de Kihuhu, para além da areia ao longo do troço, o outro problema é das gigantescas ravinas que tendem a cortar a circulação.

"A ravina é muito grande”, disse a administradora à reportagem do Jornal de Angola, que esteve no local. "A título de exemplo”, prosseguiu, "fui muito recentemente à comuna de Kinguengue. Saímos da sede municipal por volta das 5 horas da manhã. Chegamos ao destino quando eram precisamente 11 horas e 30 minutos, um troço de aproximadamente 100 quilómetros”, lamentou.

Ânsia Salatiel Camuanga disse que apesar de terem viajado a bordo de viaturas Toyota Land Cruiser, encontraram um grande desafio, ou seja, a areia que travou a marcha das mesmas.

"Tivemos que nos fazer acompanhar de catanas, enxadas e outros meios para fazer face aos obstáculos encontrados”, disse.

Região tem grande potencial

A administradora municipal de Massango destacou o grande potencial da região que, além da ginguba de maior qualidade produzida nas comunas de Kihuhu e Kinguengue, do bom maruvo, do diamante e outros produtos, encontra uma outra valência: a madeira.

"Massango não é um mu-nicípio qualquer. Antes chamava-se Forte República, então, só o nome já dizia alguma coisa. A região tem um grande potencial. Massango tem a melhor madeira, a melhor madeira da província de Malanje encontra-se no município de Massango”, disse.

Desafia a classe empresarial interessada a investir no sector madeireiro a ir ao município. "Convidamos as empresas que fazem a exploração da madeira, credenciadas, para fazerem investimento no município de Massango. Precisamos dessas empresas para explorarem a madeira do município”, apelou.

Vias de circulação

As vias que dão acesso às duas comunas e sectores não oferecem condições de circulação. Por isso, a administradora municipal estende o convite às empresas interessadas em investir na região a ajudarem a resolver alguns desses problemas.

Nesta fase, ir ao Sector do Zenzeca, Kitalabanza e à conhecida zona Baixa, "só a sonhar”, pois não há meio de transporte algum que consiga transpor os obstáculos criados pela natureza.

As estradas ficaram reduzidas a simples caminhos, devido ao estado avançado de degradação que as mesmas apresentam. "O município de Massango tem dificuldades sérias no que toca às vias de circulação. É um município rasgado por ravinas. Pedimos a quem de direito, com as empresas que estão aqui sediadas, que nos ajudem a colmatar o problema das ravinas que estão próximas, para permitir a livre circulação de pessoas e bens”, realçou.

Saúde e educação

No que toca à educação, a nossa interlocutora disse que o município está bem servido, apesar da necessidade de se construir mais salas de aula para atender o aumento da procura.

A administradora informou que a falta de professores nas zonas de difícil acesso vai ser colmatada com a formação de jovens naturais que concluíram o ensino médio.

"Temos neste momento 19 jovens que estão a se formar na escola da ADPP, na comuna do Lombe, município de Cacuso, com bolsas de estudo concedidas pela administração municipal. Estes sim, vão ser colocados nas zonas de difícil acesso. São jovens nascidos e formados aqui que estão a ser preparados para trabalhar nas áreas de difícil acesso”, sublinhou.

Não obstante isso, Massango vive o mesmo problema que muitas outras zonas rurais do país enfrentam: muitos pais levam os seus filhos para as lavras a fim de lhes ajudar a trabalhar, relegando a escola para segundo plano.

"Esse é um problema que pensamos acabar com a realização de trabalhos de sensibilização nas comunidades e convencer os pais e encarregados de educação a deixarem as crianças irem à escola”, sustentou.

No domínio da saúde, a administradora informou que foi resolvido o problema da energia eléctrica para o hospital, que agora é abastecido por um grupo gerador do município, 24 horas ao dia.

A assistência médica e medicamentosa é garantida por jovens enfermeiros formados em escolas técnicas de saúde.

É o caso de Kissanga Vieira Mendonça, que trabalha naquele município há dois anos.  "Sinto-me bem. Os pacientes têm colaborado. A família toda vive na cidade de Malanje, mas quando se tem vontade de trabalhar, não tem como. Temos de nos dedicar e focar nos objetivos pretendidos. As folgas têm servido para visitar as nossas famílias”, disse a jovem enfermeira.

Hélio Neto é técnico de Enfermagem há dois anos colocado naquele município. "Sinto-me bem, apesar de estar distante da família. Sou do Cuanza-Norte. Fiz o concurso público a partir de Malanje e calhei cá. Por vezes a saudade bate, mas temos de nos conformar e dar o nosso máximo para o bem da saúde da população”, disse.

  Obras do PIIM

Sobre as obras do Plano  Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), Ânsia Salatiel Camuanga informou que Massango foi contemplado com seis projectos, mas apenas dois foram concluídos, a saber, o do Saneamento básico e o Centro Materno Infantil.

"Estamos interrogados sobre os outros quatro projectos. Pretendemos localizar e responsabilizar as referidas empresas  no sentido de cessarem as actividades”, salientou.

Notou, contudo, haver uma diferença abismal entre a execução física e financeira. "Vamos responsabilizar as empresas, pois, com aquilo que foram recebendo do Estado, devem concluir as obras. Temos o aval de três que se responsabilizaram, que é o caso do sistema de água na comuna de Kinguengue, com praticamente 85 por cento de execução física. Já notificamos a empresa Dala Ganga, que aceitou dar continuidade aos trabalhos. Esta empresa é a mesma que concluiu o centro materno-infantil”, disse. Diz que o grande problema é com a empresa Dieze, encarregue da construção de uma escola de 12 salas de aula. "Esta empresa está incomunicável. Estamos com um processo no tribunal, assim como a empresa Espaço Digital, que tinha que arranjar a estrada que vai até ao desvio de Kinguengue, também nos abandonou. Essas empresas vão ser levadas a tribunal, principalmente a empresa Espaço Digital. Já tivemos duas audiências em tribunal”, realçou.

  Munícipes esperam por melhorias 

Jorge Vaz é professor do  segundo ciclo colocado em Massango há um ano. "Sou do último concurso público. Gostei, fomos bem-recebidos. Nos garantiram o alojamento por parte da administração, alimentação e o resto foi só adaptação”, contou.

Venâncio Figueira vive e trabalha em Massango, município que faz fronteira com a República Democrática do Congo, separado apenas pelo rio Cuango. Pede que as autoridades continuem a direccionar para o município programas de desenvolvimento para que volte a ser aquele "Forte República” que foi no passado.

Elias Gonga Celestino considera que houve mudanças visíveis no município mas, ainda assim, pede que as autoridades redobrem cada vez mais os esforços para melhorar a imagem do município.

"Se não for pedir muito, nós também queremos que a energia de Capanda chegue aqui no nosso município. Por exemplo, nós os jovens, lamentamos tanto a questão dos estudos. Aqui o ensino está limitado ao PUNIV. São muitos os jovens que se formaram no PUNIV e não têm acesso aos concursos para a função pública, como na educação, saúde e outros. Então, queremos a diversificação das opções no ramo da educação e saúde, para inserir os jovens”, apelou.

O município de Massango é abastecido de energia eléctrica através de grupos geradores. Uma fonte ligada ao sector disse à nossa reportagem que foram feitos 459 contratos, beneficiando 14.200 famílias do município sede e do bairro Secuca, 24 horas ao dia.

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