Desde tenra idade, acompanhou os passos de sua mãe que fazia e falava sobre negócios com as vizinhas, e ao atingir a sua juventude, devido à situação financeira da família, na década de 90, decidiu enveredar para a venda mercantil.
Trata-se de Rita Miguel, carinhosamente chamada de dona Ritinha ou tia Ritinha, pelos colegas de trabalho, no mercado histórico dos Congolenses. Hoje, com mais de 30 anos de trabalho, tornou-se colega das suas filhas e ambas trabalham em família, com produtos de confeitaria, perfumaria e calçados.
A sua filha, Vilma, contou que as maiores vantagens de auxiliar a sua mãe no trabalho de vendedora são a independência financeira e o maior tempo de qualidade com a família. "Com a renda que obtenho no mercado, consegue criar os meus filhos, até serem independentes”.
Vilma disse que a mãe, também, é mais participativa na sua vida, desde o momento em que eu decidi integrar a estatística de mulheres vendedoras, por não conseguir um emprego melhor. "Ela não hesitou, não criticou, mas abraçou as minhas ideias e contribuiu para que hoje eu tenha a minha bancada e o meu próprio negócio. A venda, não somente permitiu alcançar a autonomia financeira, como também a construir a minha casa”.
Para Ritinha, a principal diferença entre as gerações é a maneira como lidam com os consumidores. "Minha filha obriga-me a ser mais globalizada, juntas usamos bastante as redes sociais para publicitar os nossos produtos. As minhas clientes, hoje, gostam de entrega, então vou até elas ou elas vêm até mim”.
Ritinha afirma que a parceria na venda com filha, já lá vão duas décadas, e em diversos períodos da actividade, foi responsável pelo sustento de toda a família e contribuiu, também, para a educação dos seus filhos. "Sempre trabalhei com vendas, é a fonte de renda principal da nossa família. Foi o que me ajudou a arcar com os estudos dos meus filhos, além de me permitir realizar sonhos como a construção da minha casa”.
A parceria e troca de experiência entre mãe e filha acontece principalmente no uso das ferramentas digitais disponibilizadas, porque Vilma tem sempre de dar à mãe algumas orientações, para não cair na rede de burladores cibernéticos.
"Ela sempre teve ideias diferentes e criativas, principalmente na questão das novas tecnologias e uso das redes sociais para amplificar as vendas. Por isso, sempre peço ideias e dicas para conseguir me actualizar - como ela me diz, podem te burlar, mãe”, explicou Ritinha.
A filha, por sua vez, admira orgulhosamente o talento que a sua mãe tem para a venda e a forma como lida com os clientes. E, apesar de terem objectivos diferentes com a actividade, o dom da matriarca é uma inspiração. "Ela sabe conquistar o cliente e eu sempre achei isso incrível. A pessoa vem atrás dos produtos de confeitaria da mãe, mas ela também convida para visitar a minha bancada e comprar sempre, um par de chinelas ou um perfume”.
Vilma vê a mãe um exemplo de superação, aquela que nunca se envergonhou por vender no mercado desde os seus 20 anos de idade. Acrescentou que sem sombras de dúvidas, tem o dom da sua mãe, pela maneira como se relacionam com os clientes, a sua maior referência.
Acrescentou que a sua mãe sempre soube lidar com isso, o que orgulha a todos os familiares, pelo facto de nunca ter baixado a cabeça por vender no mercado, e por ser do suor das vendas que foram criados, formados e realizado o sonho da construção da própria casa.
Com um forte abraço, Vilma aproveitou para, antecipadamente, desejar o Feliz Dia da Mãe, "foste e continuarás sendo a minha referência de vida. Espero que continuemos cúmplices e colegas para sempre. Amo-te, minha mãe”!
Legado familiar
Para seguir o legado da mãe, não foi opção, apesar de não estar arrependida, mas foi mesmo para não constar da estatística de mulheres desempregadas. Enquanto explicava, a sua mãe a olhava de forma profunda, algumas vezes como quem quisesse dar um sinal para falar menos. Elas em determinados momentos falavam ao mesmo tempo, atropelavam-se durante as declarações e se colocavam em altas gargalhadas, demonstrando a cumplicidade quando se olhavam, se entendiam.
Sempre foi natural o ir e vir delas pelo mercado. A matriarca comentou que carregou Vilma e seus irmãos ao mercado desde o ventre. "Muitas vezes não tinham com quem ficar, e mesmo que tivesse, sempre gostaram de seguir a mãe, ver o que faço e como faço. Quando pequenas, as crianças corriam pelos corredores do mercado. Já adolescentes, atendiam as clientes, ficavam a controlar as pessoas para não irem a outras bancadas. Foi assim que começaram a ter conhecimentos sobre vendas, contas e finanças”.
No horário do almoço, mãe e filha estão sempre juntas, "aproveitamos para falar da família, porque a Vilma já constituiu o seu lar. Eu estou feliz por saber que a minha filha não anda pelas ruas mendigando o pão de cada dia, ou sentada em casa à espera do marido. Ela própria tomou a decisão de trabalhar e sente-se orgulhosa da opção, apesar de não ser o seu sonho”.
Dona Ritinha comentou que nem tudo é um mar de rosas, também há espinhos na relação das duas, quando muitas vezes o negócio está em baixa, por causa da subida dos preços dos produtos, ou até mesmo quando lá em casa no relacionamento conjugal as coisas não vão bem, e Vilma recorre à mãe.
"Somos amigas, mas a vara verbal nunca deixou de funcionar, porque nem sempre a filha está certa, ou eu estou certa. Dialogamos muito acerca das coisas do lar, do comportamento e posicionamento da mulher no lar, e principalmente sobre as finanças da família”, concluiu dona Ritinha, desejando um feliz Dia da Mãe a todas as vendedoras de Angola, especial às do mercado do congoleses.
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