Em Angola, como em muitos países do mundo, o 1º de Maio é feriado nacional e costuma ser celebrado com marchas e comícios, em que se fazem discursos reivindicativos de direitos dos trabalhadores. Não é uma data qualquer.
Hoje, a nossa Nação e, particularmente, a comunidade jurídica assinala um ano da entrada em funções dos juízes de garantias, magistrado com dignidade constitucional que, entre nós, passou desde 2 de Maio de 2023 a ter a responsabilidade de salvaguardar os direitos individuais de qualquer pessoa alvo de investigação por um suposto acto criminal derivado da sua conduta.
O 25 de Abril de há meio século continua a ser lembrado pelos portugueses, embora sem o fulgor dos primeiros anos, nos quais o povo saía à rua para gritar liberdades proibidas, até então, por decreto.
Exprimir ideias, apenas isso, mesmo no recato de conversas surdinadas em cafés, casas particulares, confraternizações familiares, inclusivamente cerimónias religiosas, eram caminhos incertos a poderem desembocar em interrogatórios eivados de torturas decalcadas dos métodos de Hitler. A par de perdas de emprego, prisões sem julgamentos em tribunais isentos, desterros, campos de concentração, exílios forçados, clandestinidades, vidas duplas fora e dentro daquele país "à beira mar plantado”.
Os povos, sejam eles quais forem e línguas falarem, dizem nas sabedorias que os definem, que cuidados jamais são excessivos, pois "o seguro morreu de velho” e "cuidados e caldos de galinha não fazem mal a ninguém”.
Os agentes da polícia política do regime de Salazar e Caetano faziam questão de espalhar as manhas das quais se serviam, para, por exemplo, todos desconfiarem de todos e tudo, entre "amigos” desde a nascença, "companheiros” de lutas contra tiranias, vizinhos de longa data, parceiros de inocentes jogos de cartas ou de matraquilhos, acérrimos defensores dos mesmos clubes desportivos e ideais políticos, entre tantas outras simuladas causas, com as quais se escreve - continua a escrever - a palavra traição.
Amoralidade, apego ao dinheiro, independentemente do modo de o conseguir, cobardia e medo são alguns dos ingredientes próprios dos que não olham a meios para atingirem, durante infindáveis décadas de escuridões tirânicas, objectivos em sociedades, nas quais, também, se luta por todas as liberdades a que o ser humano tem direito, logo sem discriminações que o tolhem: xenofobias, racismos, nepotismos, ignóbeis descriminações de género, infanticídio, filicídios. Resumindo, tudo a que o ser humano tem direito.
Portugal viveu todos aqueles problemas, fazendo dele uma nação triste, cinzenta, que nem nosso Cacimbo na hora de regressar à casa, lá longe, onde céu e mar se dão encontro.
O fascínio de quem manda pelo poder, comum a qualquer ditador, era mais do que evidente em Salazar, Caetano e abnegados correligionários que fizeram daquele país a mais atrasada, analfabeta e isolada nação do Ocidente. Apesar de toda a propaganda para contrariar aquelas evidências, que desnudavam a tacanhez de quem "primorosamente” o (des)governava, prejudicando, para não variar, maiorias em prol de emergentes minorias pagas para bajularem, intrigarem, traírem, quem confiara neles.
Naqueles anos sem fim sobre estórias de "vitórias”, "descobertas”, "conversões” - agora sem aspas - invasões, violências, desterros forçados, sobranceiras, pilhagens de terras fantasiadas em compêndios escolares que crianças e jovens eram obrigados a decorar, de cor e salteado, nem que fosse à custa de ignóbeis castigos físicos. Em nome da verdade, recorde-se, houve sempre quem, por "este Mundo fora”, se opusesse às tiranias, inclusive, de armas na mão. Essas acções, contudo, são desencadeadas, por” traidores” e "bandidos”, proibidos de serem relatadas. A censura à imprensa é que decide o que deve ser divulgado ou não. Tudo "a bem da nação”, como apregoavam o tuga Salazar e quejandos que, desde sempre, pululam por todos os cantos do Universo, levando devotos seguidores a esquecerem raízes ancestrais, desde que lhes façam sentir os bolsos a transbordarem dinheiro e lhes abram contas bancárias em paraísos fiscais. Fazem tudo o que lhes mandam. São câmaras de eco, imitadores de papagaios domesticados, ecoando o que ouvem os donos a dizer, a troco de um grão de jinguba ou caroço de manga já chupado. Chegam, igualmente, a parecer camaleões, a mudar de cor consoante os cenários que lhes convêm. Delatores sempre os ouve. E Escariote não foi o primeiro, mas poucos sentiram o sufoco do arrependimento, sequer vergonha ao ver ex-companheiros virarem-lhe as costas, cuspirem para o chão, quando passava por eles. Por isso, salientam as escrituras, suicidou-se. Vá lá, entre os delatores seguintes, cada vez em maior número, poucos o imitaram neste particular. Por falta de coragem? Desvergonha? Porque a venda de Jesus, mesmo tendo em conta a actual e constante desvalorização das várias moedas em circulação no Mundo, não valer agora nem um dólar furado?
Com o aproximar das comemorações do 25 de Abril, a comunicação social portuguesa tem dedicado particular atenção ao facto, até por perfazer meio século. As televisões daquele país têm abordado a data com imagens da noite em que, finalmente, o regime colonial fascista sucumbiu. Tratou-se de um golpe de Estado militar, com laivos de romantismo, concretizado por jovens militares. Mostrando e ouvindo alguns dos heróis, dos que se lhes opunham, mas, igualmente, de desistentes.
A RTP África tem, naquele âmbito, um programa com estudiosos sobre o fascismo na Europa, comparando-os e referindo diferenças. Na edição dedicada aos "reinados” de Portugal e Espanha, dominados por Salazar e Franco, ouviu estudiosos do tema, pessoas que falavam do que sabiam, toda, acentue-se, críticas de regimes ditatoriais. Ao autor destas linhas, sem a formação académica e profissional deles, pareceu que o ditador luso foi poupado. De certeza pelo que conhece da influência do tirano nos crimes nas antigas colónias, designadamente em Angola, que, ainda hoje , paga caro as fúrias daquele déspota, imitador de Hitler.
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