Opinião

Quem tudo quer pode tudo perder (IV)

Carlos Calongo

Jornalista

Naquela sexta-feira, 13, Mariana entrou para a faculdade, contrariada na vontade de “matar a aula”, preferindo aceitar a carona do professor, que apenas irrompeu o quintal do hospital universitário, justamente, para a deixar ficar, pois não tinha, ele, aula nenhuma para ministrar.

22/05/2021  Última atualização 08H30
E como ela também não queria mesmo assistir qualquer aula que fosse, desatou em papo recto com o professor, num tom de voz que nada tem  a ver com a meiguice que seu rosto oferece a quem presta a mínima atenção, longe daqueles olhares tendenciosos, sempre na perspectiva dos desejos carnais."Com todo o respeito, senhor professor, é verdade que passou o recado aos colegas no sentido de que estou proibida em faltar às suas aulas”?..Será que sou obrigada a tanto? Isso é ordem, pedido, ameaça, ou o que é que o professor pretende com tais palavras, uma vez que nem sequer me conhece bem?

Ouve cá, menina!...Para além de não gostar da forma que se dirige para mim, repito: Estás proibida a faltar qualquer aula minha, sob pena de reprovares com "sucesso.com.br” Ainda que chores lágrimas de crocodilo e te queixar onde quiseres, saiba que nada me acontecerá, pois sou pai grande nesta Universidade.Atordoada, com o sentimento de que aquelas palavras ratificam o sentido de azar atribuído às sextas-feiras, 13, a estudante que acordara disposta a ter um dia tranquilo e preferível, que alguém a dissesse coisas afáveis, sabe-se lá como prelúdio do primeiro amor, olhou fixamente no rosto do professor e disse:

Por acaso sou sua filha? Eu até posso decidir trancar a matrícula para não ter ninguém no meu pé assim como o senhor professor quer fazer comigo. Isso me deixa desconfortada, para além de hoje não estar com pachorra para aturar quem pensa que pode tudo o que quer.Marina parecia ter feito bem o scouting da situação. Aproveitou a ocasião para, ainda a que não na perspectiva da que faz o ladrão, começar a fazer perceber ao professor que, afinal, ela sabe alguma coisa sobre as incursões amorosas dele na fau, cuja perícia em engatar as estudantes  tem a mesma na perfeição a do ensino da anatomia.Explorando a beleza exuberante que até é aplaudida por rapazes de todas as idades, e que deve ser elevada quando se impõe, seja para o que for, por pouco Mariana não desabrochou em incontinência verbal e dizer ao professor Matos Ferreira Guedes, que "Quem tudo quer tudo pode perder”.

Haja calma, menina, disse o professor, com sentimento de recuo, próprio de quem  percebeu que a sua desejada "presa”, pode não ser tão leviana como outras que constituem o seu harém de não assumidas, enclausuradas no temor de que, o mínimo grito de discórdia representava afronta a um dos mais temíveis professores da Faculdade de Medicina.E o professor Matos Guedes, tinha, de facto, a fama, ainda que em surdina, de transformar as alunas avantajadas pela beleza, em sua reserva fundiária, e ai de quem contrariasse a tendência, candidatava-se à sucessivas ou até mesmo eternas reprovações e, com isso, hipoteca ao sonho de ser médica.

O perfil de professor modelo no zelo, assiduidade, pontualidade e outros tantos atributos, que qualquer pupilo procura imitar, -e Mariana estava nesta linha de pensamento, pois era aspirante à monitora da disciplina-, estava encapuzada no protótipo de um voraz predador das estudantes.Se ele pensa que pode tudo e que todas têm que ceder aos seus apetites "ngombelísticos”, então saiba que "Quem tudo quer tudo pode perder”, falava Mariana, partilhando com os colegas a conversa que manteve com o "pai da anatomia”, que afinal também é o pai de vários bebés, cuja paternidade muitos deles desconhecem, sendo que o resto fica para o próximo e último capítulo. Até lá.

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