A ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
Kaissara é um poço de revelações quase inesgotável, como a seguir verão ao longo desta conversa, em que aponta os caminhos para um futuro mais consequente da modalidade; avalia o presente das políticas adoptadas sobre a massificação e formação. Mostra-se convicto de que o país pode, sim, continuar a ser a maior potência africana do Hóquei em Patins
O primeiro presidente eleito do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED) do Uíge, Mona Panzu, fala, nesta entrevista ao Jornal de Angola, dos principais desafios da instituição durante os cinco anos de mandato, que assentam no ensino, investigação e extensão universitária. E diz que está engajado em combater muitos males enraizados na instituição, como por exemplo, práticas de corrupção relacionadas com a venda de notas aos estudantes
Que condições dispõe o ISCED para o ensino e para a gestão administrativa?
Nós não gostamos das
condições do ensino, das nossas salas e dos nossos laboratórios. Depois da
nossa gestão, queremos deixar uma imagem diferente. As salas de aulas não podem
continuar como estão. Esse projecto está em curso e quase todas as salas de
aulas estão a ter electro-projectoras e computadores. A questão das
infra-estruturas não é só na parte dos equipamentos de aulas, mas até na
própria acomodação dos estudantes. O ISCED é uma instituição em que quando não
há aulas, os estudantes não ficam no ISCED. Quando o professor está na sala
estão na sala, quando o professor sai, os estudantes também saem. E um estudo
rápido feito revela que os estudantes não têm muitos espaços de acomodação,
quando não têm aulas não têm onde sentar. Só têm os nossos corredores com dois
ou três bancos. Não tem outro espaço para a leitura, para troca de experiências
entre colegas, para discussão em grupos, para partilhar algumas matérias. Estes
espaços fazem muita falta e faz com que dois tempos (minutos) de atraso do
professor sejam o suficiente para que este não encontre mais nenhum estudante,
por não terem por onde sentar. Por essa razão, concebemos o projecto da criação
de espaços para leitura e acomodação dos estudantes e também o apetrechamento
dos laboratórios.
O ISCED realizou, no ano passado, as suas primeiras eleições. Mas a vossa eleição contou apenas com um único concorrente, que foi o senhor. O quê é que se passou?
Não gosto muito da expressão único candidato. Tratou-se de "único candidato admitido” mas houve outros candidatos. Fui o único candidato admitido para o concurso às eleições, por causa da Norma, por causa da Lei. A lei diz que primeiro tem que ser Doutor, depois tem que ser um Doutor que pertence às duas categorias profissionais do topo. Tem de ser ou professor catedrático ou professor associado. O ISCED só tem dois professores catedráticos. Os dois são padres e a religião, parece que há algum interesse da religião, que não combina muito bem com a chefia e então ficaram menos interessados. A categoria a seguir, que é a segunda do topo, onde me encontro, é a de professores associados, que somos quatro.
Por que razão nenhum deles concorreu?
Temos um que foi à reforma,
o outro é actualmente o presidente do Nzenzo Estrela (Instituto Superior) e a
Lei proíbe a quem exerce cargo de chefia e direcção nas instituições do ensino
superior privadas de concorrer para a
gestão de uma unidade do ensino superior pública. A não ser que renuncie
primeiro ao cargo que exerce lá fora. Aquele candidato não foi admitido por
este facto e outros pelo que a Lei impõe. Tivemos uma outra candidata que não
concorreu. Não se candidatou, provavelmente, por desinteresse. O outro
professor associado já constava na minha lista como meu vice. Dois potenciais
candidatos já estavam comigo e os demais estavam fora, como o gestor e aquela
que se desinteressou. Os demais não podiam concorrer mesmo sendo doutores,
porque a categoria também contava, assim como as publicações. Ter publicações
científicas nos últimos três anos era igualmente um pressuposto a ter em conta.
Se é doutor e não publicou não pode concorrer.
Mas as eleições foram contestadas…
Sim, as eleições foram
contestadas, mas depois o processo não teve pernas para andar, porque o
Ministério do Ensino Superior refutou as alegações invocadas. As eleições
tinham sido convocadas pelo Ministério, através de um despacho da própria
ministra e os colegas diziam que o ISCED tinha pressa de realizar eleições,
justificando que não estavam ainda
reunidas as condições para o efeito. O ISCED realizou as eleições dois meses
depois do despacho de convocação do pleito. Mesmo assim eles insistiam que
"ainda não havia condições para a realização das eleições” e que tinham sido
apanhados de surpresa.
Quais são os principais desafios da instituição?
A nossa aposta está virada
para a melhoria do ensino, no incentivo dos docentes a se virarem mais para a
investigação assim como dar uma outra dimensão à nossa instituição. Esses três
pilares fazem parte dos nossos desafios para os cinco anos do nosso mandato e
eventualmente para os desafios fora da nossa gestão, porque não se pode compreender
que tenhamos hoje uma instituição do ensino superior onde só se ensina sem
investigar. Os alunos aprendem sem investigar. Ensina-se aquilo que vem dos
outros e nunca trazemos à tona os resultados da nossa própria investigação
científica. Queremos que o ISCED tenha uma palavra, tenha respostas a dar em
termos de investigação científica, mostrando soluções para os problemas que
afectam a província e o país, na esfera da educação, com a realização de
actividades de investigação científica e não somente o ensino para a formação
de professores.
E quanto aos próprios professores?
Queremos deixar um ISCED com professores com um nível académico mais elevado em relação aos níveis encontrados. Se continuarmos assim, nunca teremos mestrados em Inglês, em Química, porque não temos PhD. Esse projecto de formação está em curso e neste momento já temos alguns professores fora do país a estudarem e a serem apoiados pela instituição.
O processo de ingresso de novos estudantes gerou inúmeras reclamações e protestos. O que é que aconteceu?
Esse processo foi gerido com
muita sabedoria, com muita mestria. Mas reconhecemos que todo o trabalho humano
acarreta imperfeições. É difícil que num universo de cem pessoas se consiga
controlar o que todas estas pessoas fazem. O nosso processo foi carregado de
alguma insuficiência, algumas lacunas, houve erros de lançamento, pessoas com
notas negativas que passaram, pessoas com notas positivas que não entraram. Por
causa de algumas denúncias e insatisfação de alguns candidatos que se sentiram
injustiçados, fez-se um trabalho de inquérito com o IGAE e, conjuntamente,
verificou-se e detectou-se todas essas falhas e corrigimos os erros.
Qual é a situação neste momento?
Neste momento, todos aqueles que estavam para entrar e não
entraram, porque houve uma falha do nosso lado (admitimos estes erros e
falhas), entraram. Aqueles que de forma irregular conseguiram entrar, fazendo
as suas matrículas, neste momento já se encontram fora. Também houve candidatos
que ficaram de fora por expulsão mas também por má leitura do nosso lado ou do
lado de quem fez o inquérito, esses também voltaram a fazer outras reclamações
e os casos estão a ser reapreciados para entrarem. No fundo, no fundo, são
erros humanos que foram cometidos e hoje essas situações estão totalmente
ultrapassadas.
Quantos alunos foram apurados neste processo, depois das correcções efectuadas fruto das reclamações?
Por causa do que se afirmou,
tivemos de continuar a fazer as matrículas em atraso durante o mês de Dezembro,
para acolher aqueles casos que ainda podiam entrar e que ainda não tinham
entrado. Até aquele momento, o ISCED tinha cerca de sete mil candidatos, sem
contarmos com os que fizeram as matrículas atrasadas por causa das reclamações
referidas. Vamos ter muito mais do que foi estimado.
Qual é o número de estudantes finalistas?
Desde o ano passado que está em preparação a cerimónia de outorga de diplomas a 1.254 candidatos. Esse número deve-se ao encerramento de alguns cursos e a todos aqueles que andaram relaxados, que voltaram para fazer as defesas, atendendo a extinção dos cursos de Pedagogia e de Psicologia.
Como é que o ISCED está em termos de laboratórios?
Herdamos um ISCED onde
muitos laboratórios funcionavam como laboratórios e salas de aula ao mesmo
tempo, o que era muito perigoso. Um laboratório de Química com todos aqueles
agentes químicos lá dentro e noutro lado estudantes a estudarem. Também
acontece com os laboratórios de Física e de Biologia. Dentro do laboratório não
se pode estudar, porque existem muitos produtos e é preciso muita cautela e
prudência. Então esta gestão pretende separar as salas de aula dos laboratórios
e criar novas condições nestes laboratórios que, praticamente, não têm quase
nada, como o laboratório de Geografia que só tem um mapa simples de Angola e do
Mundo e ainda por cima em péssimas condições. Então, queremos trabalhar para
dar um novo visual aos nossos laboratórios.
Para além da formação de docentes, que outras contribuições o ISCED pode dar para a sociedade?
O ISCED, sendo uma
instituição do ensino superior, não pode só ficar na formação de professores.
Aliás, no princípio eu falava numa trilogia em que queremos edificar o ISCED
que é ensino, investigação e extensão universitária, que é a partilha de
conhecimentos dos resultados da investigação científica junto das comunidades.
Se o ISCED tem curso de Química, não é só para a formação de professores de
Química. Os químicos podem trabalhar para resolver problemas da sociedade com
base na ciência. Temos cursos de Biologia, que não se dedicam apenas à formação
de professores mas também para olhar os problemas da sociedade, por exemplo as
questões de saneamento, a gestão do lixo. Então, o ISCED tem de dar essas
respostas. Faz parte dos nossos desafios, juntar ao ensino e investigação a
extensão universitária. Levar o conhecimento, resultado da investigação
científica, para impactar a sociedade.
Existem outras áreas de actuação para além destas que apontou?
Há uma outra dimensão do
ISCED que é pouco conhecida. O ISCED não é só uma escola de formação de
professores. É uma escola de formação de professores e agentes de educação. A
componente agente de educação é pouco explorada. Temos professores, mas nas
escolas não actuam só professores. Há quem trabalhe numa escola mas não é
professor, é um agente de educação. Há quem trabalhe na administração, na
gestão de crianças, na elaboração de programas, em questões ligadas à educação,
os inspectores, por exemplo. É desta maneira que o ISCED vai dando respostas.
Já tem havido intervenções do ISCED na solução de questões que preocupam a sociedade?
Seria imprudente afirmar que
ainda não tenha feito este tipo de intervenção. O que posso dizer é que esta
actuação deve ser institucional. Acredito que os professores do ISCED já fazem
este trabalho, mas fazem-no de forma isolada, em nome próprio. O que se
pretende é que esta actuação na sociedade seja institucional. Há muitos
professores do ISCED que investigam, trabalham ou colaboram, por exemplo, com
os ministérios da Agricultura e do Ambiente. Fazem muita coisa nestas e noutras
instituições, só que fazem-no em nome próprio, não é o ISCED que vai lá. Nós
queremos institucionalizar essas actuações. As actuações feitas de forma
singular têm uma abrangência menor. Por falta de recursos, o projecto não é
grande e se calhar o investigador não tem muitas condições para desencadear um
projecto de grande envergadura. Se for institucional o projecto tem mais
impacto, com o envolvimento de muitas pessoas e os recursos serão também
significativos, porque podem ser obtidos através de outras instituições.
Como é que o ISCED publica os resultados da investigaç-ão científica dos seus docentes?
Estamos em fase de
reformulação do que já existia. Já temos pessoas nomeadas e está em curso o
estabelecimento de uma parceria com a Universidade Óscar Ribas, que tem muita
experiência em termos de gestão de revistas científicas. Pessoalmente tenho
trabalhado com o Reitor daquela instituição para a formação dos nossos
técnicos. Depois desta formação vamos criar a revista. A intenção é criarmos
uma revista que não terá o mesmo nome, "Ngindu za nlongi”, que existia aqui,
mas será uma revista para publicação de investigação dos professores, as
melhores monografias defendidas pelos estudantes do ISCED a nível de mestrado e
licenciatura. Essas monografias defendidas pelos estudantes com muito mérito
serão retrabalhadas para saírem em forma de artigos. Vamos publicar livros
individuais e colectivos dos professores do ISCED, através da secção
recentemente criada. Temos aqui de destacar uma coisa, em termos de divulgação
científica: não é muito ético que na revista do ISCED se publiquem obras dos
professores do ISCED, porque retira algum mérito.
Como assim?
Se os professores da
instituição publicam, por excesso, na revista da mesma instituição, isto reduz
o rigor na apreciação dos artigos submetidos. O que se aconselha é que na
revista do ISCED não haja muitos professores da instituição a publicar nela, porque os que trabalham dentro da
editora são colegas, que podem fazer passar até artigos sem grande qualidade,
mas simplesmente com a finalidade de dar alguma visibilidade a um colega, que
tenha feito um trabalho, às vezes, de
péssima qualidade. Mas como temos parcerias com outras instituições, os nossos
vão lá e os de lá virão aqui publicar, para dar maior crédito à revista da
nossa instituição. Isso não quer dizer que os professores do ISCED não vão
publicar. O que queremos é prevenir o excesso de publicações internas, porque
reduz o rigor da análise e apreciação dos dados da investigação científica.
Silvino Fortunato | Uíge
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