Coronavírus

Moçambique espera vacinar 16 milhões de pessoas até 2022

Moçambique quer vacinar 16 milhões de pessoas contra a Covid-19 até 2022, meta que corresponde a toda a população elegível à inoculação no território nacional, anunciou ontem o Ministério da Saúde.

06/03/2021  Última atualização 14H43
Plano de imunização lançado ontem © Fotografia por: DR
"Vamos fazer de tudo para que toda a população elegível seja vacinada até 2022 e, para isso, teremos de saber gerir o processo de vacinação”, afirmou a directora nacional adjunta da Saúde, Benigna Matsinhe.
Benigna Matsinhe falava, ontem, aos jornalistas sobre o lançamento do plano de vacinação contra a Covid-19. Num cenário mais optimista, a meta de vacinação contra a Covid-19 em Moçambique pode ser atingida até ao final do primeiro trimestre do próximo ano e num panorama mais conservador até ao final do próximo ano, acrescentou.

"Será um processo extremamente longo e difícil, tendo em conta as dificuldades financeiras do nosso país e a complexidade na produção de disponibilidade das próprias vacinas”, enfatizou Benigna Matsinhe.
A responsável assinalou que o universo de pessoas a vacinar até ao próximo ano exclui crianças menores de 15 anos e gestantes, uma vez que as vacinas até agora disponíveis no mundo não foram testadas em indivíduos desses grupos populacionais. A directora nacional-adjunta da Saúde avançou que Moçambique espera alcançar a imunização colectiva através da combinação das vacinas até agora disponíveis.

Além das 200 mil doses da vacina Verocell, oferecidas em Fevereiro pela China e que serão usadas para a campanha de vacinação lançada ontem, o país vai recorrer aos fármacos disponíveis através da iniciativa internacional Covax, um mecanismo coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para distribuir vacinas a países pobres.
"Vamos explorar todas as opções de vacinas disponíveis, quer através de mecanismos bilaterais, quer multilaterais, como a Covax”, frisou Benigna Matsinhe.

Matsinhe mostrou confiança na adesão da população moçambicana à vacinação contra a Covid-19, defendendo uma campanha de comunicação eficaz, para "apagar os medos” sobre a eficácia das vacinas.
O país, continuou, vai realizar estudos e monitorizar os resultados da administração das vacinas contra a Covid-19, por forma a apurar o seu grau de efectividade.
A campanha de vacinação lançada ontem prevê a imunização de cerca de 60 mil profissionais de saúde, número que vai absorver cerca de 60% das 200 mil doses doadas pela China.

Moçambique soma um total de 653 mortes por Covid-19 e 59.607 casos de infecção, dos quais 69% são considerados recuperados e 205 estão internados (70% destes na cidade de Maputo).

Risco de uma terceira vaga
O director do Instituto Nacional de Saúde (INS) de Moçambique, Ilesh Jani, alertou para o risco de o país poder enfrentar uma terceira vaga de Covid-19 "mais intensa”, caso se verifique um "relaxamento” das medidas de prevenção.
"No nosso entender, o relaxamento das medidas restritivas poderá resultar numa terceira vaga com transmissão mais intensa”, afirmou Jani.

O responsável falava durante a apresentação de dados sobre a evolução da pandemia, num encontro entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e representantes de clubes moçambicanos, para um ponto de situação sobre a criação de condições para a retoma de provas desportivas no país, interrompidas devido ao novo coronavírus.
O director do INS avançou que os óbitos e infecções pelo novo coronavírus estão a mostrar "sinais de estabilização” nas últimas semanas, depois da subida registada em Janeiro.
"A situação epidemiológica no país, incluindo na região metropolitana de Maputo, tende a estabilizar-se, provavelmente devido às medidas restritivas tomadas”, referiu Ilesh Jani.

Ainda assim, prosseguiu, o país continua com uma taxa de positividade alta, atingindo actualmente 20%, ou seja, "uma em cada cinco amostras testadas é positiva para a Covid-19”.
Em Fevereiro, o país registou mais internamentos e mais óbitos do que em Janeiro e espera-se ainda um "número significativo” de mortes em Março, acrescentou.
"Geralmente, o pico de óbitos acontece um pouco mais tarde do que o pico de casos”, explicou.
O director do INS assinalou que a taxa de letalidade do vírus em Moçambique é de 1,1%, sendo mais baixa do que a média do continente africano, que é de 2,5%.
"Achamos que os cuidados médicos que temos providenciado como país jogam um papel importante nessa taxa”, destacou.

O epidemiologista Avertino Barreto, um dos mais conhecidos do país, também alertou para uma eventual terceira vaga, se houver uma suavização das medidas de prevenção.
"Não lancemos foguetes, porque daqui a dois ou três meses teremos uma terceira onda, se não tomarmos precauções agora”, declarou Barreto, em entrevista ao canal televisivo STV.
O especialista, que faz parte da comissão científica contra a Covid-19, criada pelo Executivo moçambicano, defendeu que o país não deve "aliviar agora, nem um bocado”.

"Sou da opinião de que se deve manter o recolher obrigatório e, mais, estender para outras cidades onde se julgava que a situação estava controlada, como Nampula, Beira e Quelimane”, afirmou.
Avertino Barreto considerou que a segunda vaga de Covid-19 que o país vive desde o início do ano deve-se a diversos factores, entre eles a forma como as "elites” festejaram a quadra natalícia e a passagem de ano.
"Quem fez as festas grandes não foi o nosso (cidadão) desgraçado, a vender tomates”, numa alusão à venda informal de rua de que depende boa parte da população. Na opinião do especialista, as elites "contribuíram grandemente” para a propagação da doença.

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