Opinião

“Malta, vamos lá p’ro Triângulo tomar café”

Guimarães Silva

“Balumuca. Vamos tomar café no triângulo do Bengo!” O convite para sorver e apreciar a bebida aromática, mundialmente famosa, caiu como uma bomba, só que desta, serviu, igualmente, para rebuscar terras do Bengo famosas na produção do bago vermelho. O papel impresso à zebra com mensagem ousada passava a ideia de que iríamos descobrir algumas verdades e potencialidades adormecidas.

31/03/2024  Última atualização 10H54

Dito e feito. Afinal o périplo não se resumia ao triângulo. O papel/convite apócrifo,que passava de atropelo à única fonte informativa, citava igualmente: "afinal o Ambriz tem o robusta, o Dande também tem café e nas matas cerradas de Nambuangongo, que afinal foi irmão mais velho de Cazuangongo, a produção da cafeína tem fama e vende bem”. Preto no branco, agenda recheada, muito para conhecer e apreciar.

Confesso que a gula e ansiedade moram em cada um de nós. Assim, ainda com os pés fora da rota do café, já imaginava matas e matas do bago vermelho. A informação que possuía era o primário. "Cresce por baixo de árvores, reparte sempre o sol com a sombra. O cafeeiro é um dos poisos dos pássaros, porque o seu fruto é dos manjares especiais das aves, que por sua vez, fazem parte da cadeia alimentar. Dos predadores destes sobressaem cobras de diversos tipos e nomes em latim, com a particularidade de inocularem veneno a animais de grande porte, sobretudo nós, humanos atrevidos”.

Outro aditivo informativo, prende-se com as diferenças entre as principais espécies. Segundo a Google, os grãos do arábica são ovais, menores e mais claros. Os do robusta, como o nome indica, são arredondados, maiores e mais escuros. Entretanto, segundo aquela rede social, o arábico é a variedade mais produzida e consumida no mundo. Possui sabor puro e suave. É naturalmente mais adocicado e um pouco ácido. Além disso é rico em benefícios para a saúde.

Avisos e informação colhidos. Elas não matam o turista entusiasmado, são apenas peças de consumo imediato, digestão e esquecimento rápido. O que importa mesmo é ver e conhecer o plantio, crescimento, colheita e outros itens da cadeia de produção, até "ser pisado, torturado, vai ficar preto”, desta não da cor do contratado, mas do negro que torce o olhar do curioso e dos apreciadores, quando fervido em expresso, capuchino, misturado com etílicos e outras variantes.

O morcego no café

Os dados sobre o café do Bengo fornecidos pelo chefe de brigada, Lázaro Henriques, em Junho de 2023, ilustravam que os resultados da campanha 2022/23 cifravam-se em 935 sacos, equivalentes a 70 toneladas, com o preço de 500 kwanzas por quilograma na porta do cafeicultor, que se debatia, como sempre, com a falta de transporte para escoamento. Ainda assim, sempre de acordo com o especialista do Bengo, para 2024 há estimativas do alcance na ordem das 80 toneladas, desde que se cumpram alguns pressupostos, com destaque para o incentivo aos produtores, sobretudo de ordem financeira.

Do interlocutor tomamos conhecimento de que na zona do triângulo do café (Bula Atumba, Dembos Quibaxe e Pango Aluquém), a primeira detéma primazia em quantidades. O curioso na comunicação, primeiro foi a informação de que a variedade que mais se cultiva na zona é a robusta-ambriz; depois a existência de alfobres, técnica de disseminação de mudas de café, a partir de excrementos de morcegos que se alimentam do "bago vermelho”.

A acção animal mexe com os especialistas. Um complemento da transmissão natural que provoca o povoamento vegetal, neste caso, do café, um ícone mundial do qual o país já foi dos maiores produtores.

Há, no entanto, outro partícipe, os elefantes que no pós-guerra redescobriram as rotas dos seus antepassados. Por onde andam, espalham a fama de bom gosto no manjar, especialmente de vegetais que os humanos gostam, como a banana, batata-doce, milho, abacaxi, mas estas o estômago paquiderme destrói na totalidade. Quando tromba, marfim e goela apreciarem o café, aí serão elas. Teremos café fertilizado com a bosta de elefante em quantidades industriais para um repovoamento cafeeiral e produção alcalóide quanto baste no Bengo.

Curioso, o morcego, o elefante e o homem tornam-se parceiros de empreitada, no esforço para colocar o país outra vez na fila dos maiores produtores de café, num apego para espreitar cambiais. Como "não há bela sem senão”, vai ser bom sentir o orgulho ferido dos humanos, que mordidos pela tarântula sempre assumiram posição de destaque na cultura, transformação e consumo do café. Inclusive daquele sem cafeína, vejam só!

Admite-se como perspectiva da APPSA (Programa da União Europeia de Apoio à Produtividade Agrícola para África Austral),a promoção de um estudo sobre o assunto em duas áreas de Bula Atumba; três de Dembos-Quibaxe e uma em Pango Aluquém.

 

Conferência sobre o café do Bengo

O convite para tomar café no Bengo afinal tem sustentabilidade. A cidade de Caxito acolheu a 7 de Marçoa 1ª conferência provincial do café, um fórum que recomendou "mais facilidades no acesso ao crédito bancário e taxas de juro bonificadas”. Na mesma linha, "os produtores querem uma definição clara do preço mínimo do café no mercado nacional e do que deve ser comercializado nos mercados internacionais”.

Ainda de acordo com as recomendações, "as administrações municipais, no âmbito das capacidades financeiras deverão direccionar alguns recursos para a produção de mudas, em parceria com o sector privado e envidar esforços para melhorar as vias de acesso às fazendas, para facilitar o escoamento da produção”.

Ao que tudo indica tomar café do Bengo, em qualquer parte do planeta, vai ficar facilitado. Contudo, temos que ser dos primeiros a prová-lo, para saber do sabor, gosto e aditivos, como a quantidade de açúcar, leite. Afinal, fomos convidados. Temos que honrar o compromisso.

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