O continente africano é marcado por um passado colonial e lutas pela independência, enfrenta, desde o final do século passado e princípio do século XXI, processos de transições políticas e democráticas, muitas vezes, marcados por instabilidades, golpes de Estado, eleições contestadas, regimes autoritários e corrupção. Este artigo é, em grande parte, extracto de uma subsecção do livro “Os Desafios de África no Século XXI – Um continente que procura se reencontrar, de autoria de Osvaldo Mboco.
A onda de contestação sem precedentes que algumas potências ocidentais enfrentam em África, traduzida em mudanças político-constitucionais, legais, por via de eleições democráticas, como as sucedidas no Senegal, e ilegais, como as ocorridas no Níger e Mali, apenas para mencionar estes países, acompanhadas do despertar da população para colocar fim às relações económicas desiguais, que configuram espécie de neocolonialismo, auguram o fim de um período e o início de outro.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, confirmou ontem a decisão de enviar uma missão africana a Kiev e Moscovo, a fim de tentar alcançar a paz no actual conflito da Ucrânia.
Essa iniciativa havia sido lançada em meados do mês passado, conforme revelou então Jean-Yves Ollivier, líder da organização não-governamental Fundação Brazaville. Segundo Ollivier, o objectivo da missão é "iniciar e ajudar a lançar um diálogo entre os dois países” (Rússia e Ucrânia). As posições dos países africanos, acrescentou ele, "são incondicionais”, isto é, não são favoráveis a qualquer uma das posições em confronto.
Cyril Ramaphosa corroborou o facto esta terça-feira, depois de se ter reunido com o Presidente Azali Assoumani, das Ilhas Comores e actual líder em exercício da União Africana, e os Presidentes do Egipto, Abdel Fattah Al-Sisi, do Senegal, Macky Sall, do Uganda, Yoweri Museveni, e da Zâmbia, Hakainde Hichilema. Segundo o comunicado do encontro, os referidos líderes "concordaram em dialogar com o Presidente Putin e o Presidente Zelensky sobre os elementos para um cessar-fogo e uma paz duradoura na região”. Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países em questão foram instruídos, conforme disse o estadista sul-africano, a finalizar os elementos para um roteiro para a paz na Ucrânia.
A deslocação da missão de paz africana está prevista para meados do corrente mês. Um facto precisa de ser realçado: a iniciativa africana é a primeira que tanto Putin como Zelensky concordam em receber. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, também apoia a iniciativa.
Como é sabido, as posições dos países africanos em relação à guerra na Ucrânia não são unânimes, mas a maioria inclina-se para uma posição de neutralidade. O complexo EUA/OTAN/UE tem pressionado fortemente os países do continente a adoptarem uma posição clara de condenação da Rússia, pois a neutralidade favorece mais esta última. A África do Sul, que está por detrás da iniciativa de paz africana, tem sido dos estados mais pressionados, aparentemente sem sucesso.
Conforme os sinais exteriores disponíveis, Angola também não escapa a essas pressões. A recente declaração do Primeiro-Ministro português, António Costa, quando esteve em Luanda, elogiando o facto de o maior país africano de língua portuguesa ter condenado a invasão russa da Ucrânia insere-se nessas pressões. A verdade é que isso sucedeu apenas numa primeira votação; nas votações posteriores, Angola passou a abster-se, o que é mais consentâneo com a posição africana maioritária.
A tendência dos observadores e comentaristas ocidentais é atribuir a neutralidade africana em relação à guerra na Ucrânia a factores históricos e até ideológicos. Se os primeiros podem ter algum peso, os segundos não fazem grande sentido, pois, tal como a Rússia não é a antiga URSS, hoje nenhum país africano se continua a considerar "socialista” e mesmo os partidos que, no passado, pertenceram a essa linhagem, foram todos capturados pelas delícias do capitalismo (com aspas ou sem aspas, conforme a posição de cada um).
A posição africana em relação à guerra na Ucrânia é explicável por um facto que foi recentemente recordado pela ministra sul-africana dos Negócios Estrangeiros, Naledi Pandor, na reunião dos Brics realizada na cidade do Cabo: - "A atenção e os recursos dos nossos parceiros mais ricos foram desviados e as agendas das nossas organizações multilaterais já não respondem às necessidades e exigências do Sul Global”.
Ou seja, não se trata, ao contrário do que tentam fazer passar os "ideólogos” do envolvimento do Ocidente Alargado na guerra da Ucrânia, de apoiar a invasão russa, mas de impedir que um conflito localizado no leste da Europa faça esquecer os grandes desafios da humanidade, alguns dos quais, como a pobreza, atingem particularmente o continente africano.
As migalhas com que os países ricos nos acenam não justificam alimentar a loucura de uma guerra que poderia perfeitamente ter sido evitada. Essas promessas podem ser superadas, de longe, pelos fundos disponíveis no chamado Sul Global. Por isso, e apesar de eu não estar nada optimista, a iniciativa africana de paz na Ucrânia faz todo o sentido.
Seja o primeiro a comentar esta notícia!
Faça login para introduzir o seu comentário.
LoginTrata-se de um relevante marco o facto de o Conselho de Ministros ter aprovado, na segunda-feira, a proposta de Lei dos Crimes de Vandalismo de Bens e Serviços Públicos, para o envio à Assembleia Nacional que, como se espera, não se vai de rogada para a sancionar.
Semana passada, estive atento a um debate televisivo sobre o processo autárquico versus nova Divisão Político-Administrativa, com as duas principais forças políticas representadas, num painel em que também estiveram representadas outras sensibilidades, nomeadamente da sociedade civil. Um exercício interessante, que veio uma vez mais provar que é possível, na comunicação social angolana, reunir intelectuais de diferentes credos políticos para debater questões de interesse do nosso país.
O Presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, é muito conhecido globalmente por vários feitos e circunstâncias, nem sempre consensuais, sobretudo em termos ideológicos. Todavia, Lula da Silva tem o condão de ser o rosto de um dos mais revolucionários programas de transformação estrutural e social, em diapasão com os principais Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, para 2030, aqueles relacionados ao combate à fome e à pobreza.
A ética e a deontologia na Antiguidade sobretudo a partir do século V a.C na cultura do povo heleno, sempre ocuparam um papel central nas reflexões filosóficas, em virtude de possuírem na sua essência uma linha orientadora da conduta do homem em sociedade, capaz de despertar nele a consciência de cidadania, alteridade, responsabilidade e integridade na gestão da coisa pública em prol do bem comum.
O Projecto “Dinheiro Digital é Melhor” (DDM) foi apresentado, esta quinta-feira, na província de Benguela pela operadora de telefonia móvel Africell e a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
O Presidente João Lourenço convidou, esta quinta-feira, em Lisboa, os Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para honrarem Angola com a sua presença nas comemorações do 50.° aniversário da Independência Nacional, a assinalar-se em Novembro do próximo ano.
O Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (FADA) realizou, hoje, na província do Huambo, a cerimónia de entrega de 12 motocultivadoras e cinco tractores à cooperativas e associações de agricultores locais.
A provedora de justiça, Florbela Araújo, dissertou, na terça-feira, sobre o papel do provedor de Justiça aos cadetes do Instituto Superior de Ciências Policiais e Criminais (ISCPC/PNA).