Entrevista

Gilberto Gomes: Indústria Espacial (desmistificação)

O coordenador do Programa Nacional de Educação Espacial, Gilberto Gomes, afirmou, em entrevista ao Portal Correio da Kianda, que Angola saiu há um tempo a esta parte de um país desconhecido no sector espacial e hoje tem uma posição de destaque entre os países emergentes na área espacial mundial e em África

27/01/2023  Última atualização 09H48
O coordenador do Programa Nacional de Educação Espacial, Gilberto Gomes, afirmou, em entrevista ao Portal Correio da Kianda, que Angola saiu há um tempo a esta parte de um país desconhecido no sector espacial e hoje tem uma posição de destaque entre os p © Fotografia por: DR

Entende-se que desde o lançamento de um satélite até à disponibilização de serviços envolve toda uma cadeia produtiva. Como isso acontece? Quais sectores a indústria espacial movimenta?

Do ponto de vista da indústria espacial, o processo de fabricação, lançamento, colocação em órbita, operação e comercialização das capacidades de um satélite seguem várias etapas.

Primeiramente vale referir que o sector aeroespacial é um dos sectores importantes na economia mundial. Dados da Euroconsult de 2021 apontam que só a indústria espacial a nível mundial detém um mercado de 370 biliões de dólares americanos e uma projecção de crescimento na ordem dos 74% chegando aos 642 biliões até 2030 segundo a mesma fonte.

Do montante actual, nós os africanos gerimos apenas 19,49 biliões segundo o report de 2021 da Space in África, com uma perspectiva de crescimento na ordem de 16,16% até 2026, que se traduz num mercado 22,64 biliões.

Relativamente às etapas que vão desde a produção, lançamento até a prestação de serviços de satélite, é um processo que se inicia maioritariamente por governos e grandes empresas multinacionais que desenvolvem estudos, desenham programas espaciais, criam estratégias e financiam projectos que normalmente são executados por agências espaciais. Tais projectos podem ser satélites, sondas, equipamentos e estações terrenas para atender questões prementes ou futuras de um determinado programa espacial.

 

Qual o valor da indústria espacial? 

Na prossecução dos projectos de construção, lançamento até à prestação de serviços à indústria espacial possui uma cadeia de valor que movimenta governos, agências espaciais, serviços de fabricação de satélites e equipamentos terrestres, serviços de lançamento, operador de satélite e provedores de serviços e ocorre da seguinte forma:

Tomemos como exemplo a fabricação e comercialização dos serviços de um satélite de Telecomunicações. Os Governos e/ou grandes empresas com a ajuda de Instituições Técnico-Científicas realizam estudos e financiam projectos de satélites e/ou equipamentos terrestres, e a seguir entra a figura de Operador de Satélite. O Operador de Satélite, contrata e acompanha os serviços de fabricação do segmento espacial e terrestre, ou seja, a compra de um satélite e construção ou implementação de um Centro de Controlo e Missão. Paralelamente, contrata-se um possível serviço de aluguer de uma posição orbital e de um Lançador de Satélites para a colocação do artefacto espacial em órbita. Após o lançamento e testes em órbita, as capacidades do satélite são vendidas pelo Operador de Satélite aos Provedores de Acesso à Rede, como a empresa INFRASAT por exemplo. Apenas um pormenor aqui, os provedores de acesso não compram os transponders ou repetidores de sinais do satélite, mas sim arrendam capacidades no satélite (medidas em MHz), que se revendem a retalho, por via de um contrato de serviço que é fornecido em Mbps (megabits por segundo) ao Provedor de Serviço. Este por sua vez, disponibiliza ao consumidor final hardware (antena+modem) e serviços. O Usuário Final, seja ele operador On-The-Top (Netflix, Amazon...), Distribuidor de Conteúdos ou pessoa singular estabelece com o provedor de serviço um contrato mensal/anual de serviços como TV, Rádio, Dados e Internet.

 

As agendas 2030 (ONU) e 2063 (União Africana) orientam os países subdesenvolvidos a investirem em tecnologia espacial para ajudar na mudança das suas realidades. De que forma isso pode ocorrer?

A Organização das Nações Unidas, no âmbito da sua Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável adoptada por 193 países, dentre vários outros benefícios reconhece o potencial das tecnologias espaciais no de- senvolvimento sócio-económico, cultural e científico que têm contribuído principalmente na ajuda a prevenção contra as catástrofes naturais e melhor coordenação na subsequente distribuição das ajudas, bem como optimizar o uso sustentável dos recursos naturais para fornecer apoio eficaz às populações vulneráveis.

Por exemplo, o comité de Satélites de Observação da terra (CEOS), na edição especial de 2018 do relatório "Satélites de Observação da Terra no Suporte as metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)” enfatiza que dados de observação da Terra têm um papel importante relativamente à maioria dos 17 ODS. Mais especificamente, cerca de 40 das 169 metas (representando quase 1/4) e cerca de 30 dos 232 indicadores (quase 1/8) são suportados.

 

Por meio da Agenda 2063

A África que Queremos, a União Africana identificou as tecnologias espaciais como uma ferramenta crítica que pode impulsionar o crescimento e o desenvolvimento económico de África e levar à rápida transformação do continente. Actualmente segundo a Space in Africa, 81 projectos de aplicações espaciais estão sendo implementados em todo o continente, financiados por instituições africanas e estrangeiras. Esses projectos estão  a capitalizar recursos de observação da Terra e comunicações via satélite para abordar vários problemas socioeconómicos em todo o continente, desde monitoramento de desastres até segurança, agricultura, uso e manejo da terra, manejo florestal, entre outros.

Numa análise muito particular, podemos considerar o Programa Espacial Africano como o núcleo da Agenda 2063, pois ele tem impactos directos e indirectos nos outros programas estruturantes da mesma Agenda. Por estes motivos, nas últimas décadas, algumas nações africanas focaram-se nesta direcção e conseguiram fortalecer suas capacidades tecnológicas espaciais e criaram as suas agências espaciais nacionais para execução dos seus Programas Espaciais Nacionais.

O programa espacial africano visa permitir que o continente obtenha o máximo de benefícios da ciência, tecnologia e aplicações espaciais. Ele centra-se na observação da Terra, meteorologia, comunicação por satélite, navegação por satélite e astronomia, com impacto nos domínios da agricultura, gestão de desastres, sensoriamento remoto, previsão climática, banca e finanças, bem como defesa e segurança.

Por exemplo, nos dias de hoje um único investimento feito pelo Estado ou Governo no sector espacial vai permitir o desenvolvimento de produtos e serviços que de forma transversal ajudarão a minimizar custos em vários outros sectores da vida económica e social dos países e no alcance das metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como a Erradicação da Pobreza (ODS-1), Fome Zero e Agricultura Sustentável (ODS-2), Saúde e Bem-Estar (ODS-3), Educação de Qualidade (ODS-4), Indústria, Inovação e Infra-Estrutura (ODS-9), Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS-11), Acção Contra Mudança Global do Clima (ODS-13) e Parcerias e Meios de Implementação (ODS-17).

 

Sabemos que a indústria espacial está dividida em fabricação de satélites, fabricação de equipamentos terrestres de apoio e indústria de lançamentos. Tais sectores estão em desenvolvimento em Angola?

Devido à sua complexidade tecnológica o sector de lançamentos de satélites ainda é uma realidade longínqua para nós angolanos, mas ainda assim temos realizado actividades de desenvolvimento conceptual e lançamento de mini-foguetes para inspirar as novas gerações.

Todavia, nos outros subsectores tem sido possível lançarmos algumas iniciativas possibilitadas pelo surgimento da nanotecnologia que está a impulsionar o surgimento de novos entrantes na indústria chamada New Space, que democratizou a entrada da Academia e de países classificados como subdesenvolvidos como é o nosso caso, com projectos relativamente baratos de construção e colocação em órbita de pequenos satélites científicos denominados Cubesats e desenvolvimento de produtos, aplicações e serviços espaciais que permitem com investimentos menos avultados Estados e instituições académicas desenvolverem projectos e inclusive programas espaciais como é o caso do Zimbabwe, Quénia e Uganda só para citar alguns.

 

Como o programa está a ser implementado no país?

Em Angola, desde 2015 o GGPEN tem-se desenvolvido com a Academia Nacional de programas de formação e capacitação em pequenos satélites incluindo no Japão que permitiu estudantes e professores em 2019 terem a sua primeira experiência em construção e lançamento em terra de um pico-satélite denominado Cansat Angolano, bem como o desenvolvimento de um protótipo de um Cubesat, cujo o resultado final esperado é o lançamento e colocação em órbita do primeiro Cubesat Angolano produzido inteiramente pela Academia Nacional.

Paralelamente ao âmbito do seu Sistema de Observação da Terra, o GGPEN deu início às primeiras iniciativas da indústria de desenvolvimento de produtos, aplicações e serviços espaciais em Angola baseados em imagens de satélite de observação da Terra e ferramentas de inteligência artificial, tendo disponibilizado já três (3) aplicações a saber, TECH-ECOLOGIA, TECH-AGRO E TECH-GEST. Este mesmo conhecimento tem sido passado a academia nacional e Startups tecnológicas nacionais e ainda que de forma não muito expressiva, começamos a assistir o surgimento de startups tecnológicas com interesse em desenvolver produtos e aplicações espaciais como a AROTEC, Academia dos Kandengues Cientistas, Autonação, só para citar algumas. Vale frisar que, o crescimento e desenvolvimento da indústria espacial no país dependerá muito do nível de envolvimento do sector privado e da concretização do binómio academia-indústria.

 

Comparado com outros países africanos, como está enquadrada a indústria espacial nacional? Qual o potencial de desenvolvimento?

Angola saiu há um tempo a esta parte de um país desconhecido no sector espacial e hoje tem uma posição de destaque entre os países emergentes na área espacial mundial e em África. Neste momento posicionamo-nos entre os oito países do continente que mais avanços fizeram no sector espacial. Esse avanço é justificado pelos resultados que Angola alcançou na arena internacional.

A nível da SADC, lideramos o Comité directivo que desenvolve o Programa de Partilha de Infra-Estrutura de Satélites da SADC. A nível internacional fomos admitidos como membros do Comité para a Utilização Pacífica do Espaço Ultraterrestre das Unidas (COPUOS), que é o fórum internacional de referência para discussão de temas relacionados com a utilização civil do espaço. Admitidos também como mebro da Federação Astronaútica Internacional (IAF, sigla em inglês), o principal órgão mundial de defesa do espaço.

Como resultado do investimento que tem sido feito na formação de quadros, os técnicos do GGPEN estiveram, por dois anos consecutivos, entre os dez melhores da Indústria Espacial Africana, premiação da Space in África para jovens com menos de 30 anos.

Relativamente ao potencial de crescimento, face ao actual quadro em termos de infraestruturas e recursos humanos, podemos afirmar que este crescimento está directamente relacionado a contínua aposta na formação de quadros e um forte investimento na investigação e desenvolvimento na área espacial para garantir a formação mais independente, estimular a comunidade académica à inovação e ao gosto pelas ciências, tecnologias, engenharias e matemáticas, através de um programa estruturado de Educação Espacial, visando formar e informar a sociedade sobre os benefícios do uso do espaço para o desenvolvimento sustentável e sensibilização ao investimento e apoio da população angolana às actividades espaciais de Angola.

 

O continente africano é o menos desenvolvido no que diz respeito à indústria espacial. O que tais países devem fazer para superar esse atraso?

Sim. A esse respeito podemos dizer que África precisa desenvolver sua própria infraestrutura espacial e traçar políticas claras para atracção e protecção do investimento na área espacial. E para alavancar a indústria espacial no continente é imperioso também patrocinar os desenvolvedores de sistemas e subsistemas de satélite para que esta produção não seja exportada e fique no continente, bem como também garantir que as iniciativas regionais como o Programa de Partilha de Satélites da SADC liderado por Angola e a iniciativa "Satélite de desenvolvimento africano” liderado pelo Egipto que visa reunir as nações africanas para desenvolver um sistema espacial para monitoramento das mudanças climáticas e capacitação, produzam realmente os resultados preconizados.

Para superar tal atraso, podemos ainda apontar como um caminho eficaz o que está proposto na Estratégia Espacial Nacional 2016-2025 da República de Angola, na qual orienta no eixo 2 o seguinte: "(...), através da criação de um programa estruturado de capacitação em matéria espacial que abarque as áreas científicas e tecnológicas essenciais neste domínio e, por outro lado, através da formação dos utilizadores finais. Em adição à necessidade de alocar esforços para assegurar que as actuais instituições de ensino e formação apostem nestes sectores, (...) é também relevante centralizar o caminho nesta área através de um Centro de Estudos Espaciais. Adicionalmente, a capacitação por via da experiência prática em projectos, designadamente na construção e operação de pequenos satélites científicos (Cubesat) em contexto académico, desempenhará um papel muito relevante.”

O enfoque nos Cubesats que são os nanossatélites, uma nova tecnologia de baixo custo que tem permitido aos países não só desenvolver tecnologia mas também aprimorar educação e incentivar os estudantes, as crianças e jovens ao acesso ao espaço e conhecerem um pouco mais essa tecnologia e se engajarem nesses projectos na perspectiva de que no futuro se envolvam no desenvolvimento de projectos de nanotecnologia para aplicações científicas para a melhoria das condições de vida dos africanos e desenvolvimento sócio-econômico do continente.

 

Como alterar o quadro no continente africano?

Outro aspecto importante para a mudança do paradigma da indústria espacial africana, é uma forte aposta na colaboração e parcerias internacionais entre governos e instituições científicas de referência no sector espacial no âmbito da formação de quadros transferência de tecnologia e do Saber Fazer.

Isto é fundamental para que os países africanos possam superar-se e avançarem mais rapidamente em termos de desenvolvimento da indústria espacial e do alcance das metas de desenvolvimento sustentável. Um grande apelo aos governos africanos é que se preocupem mais com a ciência e desenvolvimento tecnológico porque sem isso não se consegue construir uma nação forte e independente conforme todos almejamos

África tem a maior porcentagem de jovens do mundo; precisamos nos beneficiar do poder da juventude para o benefício do continente. Somos um continente rico em recursos naturais e precisamos promover a ciência e a tecnologia para fazer a revolução industrial acontecer e converter o mercado africano de um grande consumidor para um mercado produtor.

 A indústria espacial desempenha um papel fundamental na consecução do plano econômico nacional dos países desenvolvidos, portanto uma estratégia espacial bem conseguida promoverá a indústria espacial entre os países africanos para contribuir no PIB.

 

Segundo dados divulgados pelo banco Citi, no ano passado, empresas ligadas ao sector espacial devem movimentar, até 2040, cerca de USD 1 trilhão. Quais oportunidades que a expansão dessa indústria no país traz para os angolanos?

Num cenário mais conservador, preferimos ter como referência os dados da Euroconsulting cuja a projecção de crescimento está na ordem dos 74% chegando aos 642 bilhões até 2030.

Conforme pode-se ler na edição de 2021 do Relatório Anual da Indústria Espacial Africana publicado  pela Space in Africa, a indústria obteve receita de US$ 7,37 bilhões em 2019 e espera-se que gere mais de US$ 10,24 bilhões em receita até 2024, com crescimento em observação da Terra e serviços geoespaciais, serviços de comunicações por satélite, serviços de navegação por satélite e fabricação de componentes e serviços de equipamentos.

A Tunísia lançou o Challenge-One em Março de 2021, enquanto as Maurícias lançaram o MIRSAT-1 em Junho de 2021. Estes dois satélites elevam o número de satélites africanos lançados até à data para 44.

Ao mesmo tempo, 125 satélites estão agora em desenvolvimento em 23 países africanos, todos devem ser lançados antes de 2025. Novas oportunidades surgiram em torno das constelações de satélites no continente, com Egito, África do Sul e Tunísia liderando várias iniciativas. Embora a África seja atualmente incapaz de lançar satélites do continente, novas oportunidades estão surgindo para que os players estrangeiros capitalizem vários locais de lançamento disponíveis no continente.

 A indústria obteve receita de US$ 7,37 bilhões em 2019 e espera-se que gere mais de US$ 10,24 bilhões em receita até 2024, com crescimento em observação da Terra e serviços geoespaciais, serviços de comunicações por satélite, serviços de navegação por satélite e fabricação de componentes e serviços de equipamentos.

Segundo o mesmo relatório, mais de 282 empresas operam agora na cadeia de valor da indústria, tanto empresas upstream quanto downstream. As suas operações abrangem a fabricação de componentes e serviços de equipamentos, observação da Terra e serviços geoespaciais, serviços de comunicações por satélite, serviços de astronomia, entre outros. Mais

empresas foram fundadas na última década, em todo o segmento da indústria, do que nas cinco décadas anteriores. Enquanto a maioria das empresas downstream está domiciliada no Egito, Quênia, Nigéria e África do Sul, a maioria das empresas upstream está domiciliada na África do Sul. Face ao acima exposto, é bem visível o mar de oportunidades existente para startups, pequenas e médias empresas angolanas investirem com uma margem de lucro bastante atractiva, no desenvolvimento de aplicações, produtos, serviços baseados nas tecnologias espaciais.

 

Com o início da comercialização do ANGOSAT-2 será possível contribuir para a geração de novos empregos?

Naturalmente que sim. Antes de mais é importante referir que a formação e a capacitação para o emprego no âmbito do Programa Espacial Nacional, é uma das principais metas perseguidas pelo Executivo através da sua Estratégia Espacial Nacional 2016-2025.

Com o início da comercialização dos serviços de comunicação via satélite a serem providenciados pelo Angosat-2, mormente serviços de Telefonia, TV, Rádio, Dados e Internet, fica evidente mais um dos benefícios que o satélite angolano de telecomunicações traz para o país, que é a possibilidade de maior expansão do mercado das telecomunicações via satélite em Angola.

 Nisto, já temos visto várias empresas nacionais a redefinirem os seus planos de negócio com foco nesta direcção, abrindo-se assim um leque de oportunidades para a absorção da força de trabalho jovem que está sendo formada em massa nos últimos dois anos no quadro do Programa de formação em Comunicação via Satélite do MINTICS realizado pelo GGPEN e o Instituto de Telecomunicações (ITEL) no curso de Comunicação via Satélite, Instalação e Manutenção de Antenas VSAT no âmbito do Projecto "Eu Sei Fazer” do CFITEL, que já conta com mais de trezentos (300) técnicos formados, oriundos de dez (10) províncias do país, sendo que alguns já se encontram enquadrados nalgumas empresas do sector das Telecomunicações e outros no auto-emprego.

 

A temática espacial tem tido maior visibilidade nos últimos anos, com a entrada no mercado de privados com, inclusive, projectos para transporte de cidadãos comuns ao espaço. Acha que isso contribuiu para mudar a compreensão das pessoas sobre o espaço?

Certamente que sim, a nossa compreensão sobre determinada coisa ou assunto melhora a partir do momento que começamos a ganhar interesse pelos mesmos e sobretudo, quando nos envolvemos.

A sociedade de informação e o surgimento da indústria 4.0 têm ajudado bastante na democratização do acesso ao espaço, permitindo assim a entrada de novos players no sector espacial, e portanto, o envolvimento a nível mundial do sector privado, Instituições, Startups e pessoas singulares estarem envolvidas em questões relacionadas a exploração espacial, inclusive transporte de cidadãos comuns para o espaço algo que no início da corrida espacial era algo impensável.

 O que era uma exclusividade de poucos países e dos mais audazes, hoje está a se tornar um tema bastante popular pelo facto de que, os benefícios da exploração espacial começam a ser mais sentidos pelas pessoas e sociedades, trazendo assim a consciência que sim, o investimento na exploração espacial vale a pena ser feito para o desenvolvimento sustentável dos países e sociedades, pois os seus benefícios são transversais a todos os aspectos sócio-económicos.

 

Quais os benefícios?

São vários os benefícios destes investimentos. Primeiramente é que a humanidade passa a conhecer e a usar melhor o espaço ao nosso redor, inclusive para lançar e activar satélites. São os satélites que hoje trazem funções como GPS, Sinal de Televisão, Internet, Telefonia e muitas outras coisas. Além disso estudo de várias áreas utilizam imagens de satélite de observação da Terra de alta resolução com um alto grau de detalhe que permite um melhor entendimento do clima, do meio ambiente e o impacto das mudanças climáticas como o que acontece no sul de Angola. Estudos feitos abordo de naves e da Estação Espacial Internacional (EEI) também têm sido importantes, porque este laboratório espacial permite analisar de forma única o comportamento e a estrutura de animais, plantas e células, sendo que no campo da medicina, são feitas análises das células cancerígenas para entender o comportamento e a reação delas, com o objectivo de que com isso se possa agilizar o desenvolvimento de medicamentos e de curas de doenças que hoje afligem a humanidade.

 

Que tecnologias existem?

São várias as tecnologias e produtos que foram descobertos ou aprimorados através da pesquisa e exploração espacial. A razão disto deveu-se a dois motivos: 1) ou a empresa contratada é terceirizada e vende o produto depois ou ex-funcionários criam seus próprios negócios com base nessa experiência, dando assim origem a uma lista enorme de coisas, passamos a citar alguns:

O paraquedas que ajudou a pousar as sondas Viking I e II em Marte era da GoodYear, que foi usado depois como base do pneu radial, que é mais resistente que os comuns;

 A comida enriquecida para bebés, é fruto de pesquisa para alimentar astronautas;

O sensor CMOS utilizado em câmeras digitais de smartphones, veio de pesquisas para diminuir esse componente e usar fotografia no espaço; A proteção térmica de alumínio para primeiros socorros, também é resultado da pesquisa espacial; Outras contribuições relevantes da pesquisa espacial são: melhoria de membros artificiais, destruidores de minas terrestres, fatos de bombeiros, purificadores de água, aspiradores de pó portáteis, implantes cocleares, termômetros auditivos, lentes resistentes contra arranhões, o processo de liofilização, congelamento com vácuo e muito, muito mais.

As missões espaciais têm uma importância muito maior do que parecem. Todos os estudos feitos no espaço e nos laboratórios aqui na Terra geram conhecimento e novos produtos e serviços como é o caso do TECH-AGRO, TECH-ECO e TECH-GEST desenvolvidos por especialistas angolanos do GGPEN. Portanto, para que nós como país e sociedade possamos usufruir de todos esses e outros benefícios da exploração espacial, urge a entrada do sector privado e uma aposta muito séria na formação de quadros e estruturas nacionais de pesquisa e desenvolvimento e acima de tudo identificação de fontes de financiamento seguras para a materialização da carteira de projectos do Programa Espacial Nacional que vão levar o país num outro nível de desenvolvimento social, económico e tecnológico.

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