Entrevista

“Falhámos o CAN porque faltou investimento”

Paulo Caculo

Jornalista

Uma semana depois do afastamento de Angola nas eliminatórias de qualificação ao Campeonato Africano das Nações (CAN) dos Camarões, em 2022, Pedro Gonçalves acedeu ao convite do Jornal dos Desportos para fazer o balanço da campanha da Selecção. O seleccionador nacional rejeita aceitar que se trata de um fracasso e aponta como justificação ao percurso dos Palancas Negras as consequências da pandemia e a crise directiva na FAF. Numa conversa franca, o treinador português, obreiro da inédita qualificação da selecção de Sub-17 ao Mundial do Brasil, aproveitou para fazer vários desabafos, tendo assegurado num deles, nunca ter visto em toda a sua carreira como treinador, jogadores de uma selecção a serem impedidos de ocupar lugares vazios da classe executiva de uma aeronave fretada pela federação.

05/04/2021  Última atualização 13H35
Pedro Gonçalves, Seleccionador Nacional dos Palancas Negras © Fotografia por: Vigas da Purificação| Edições Novembro
Que lhe apraz dizer sobre o fracasso de Angola nas eliminatórias ao CAN dos Camarões?
Chamar-lhe de fracasso é, sem dúvidas um exagero, porque só temos um fracasso quando o ponto de partida é elevado e o ponto de chegada é realmente muito baixo. Temos de perceber que tipo de investimento tivemos ao longo deste trajecto para poder considerar se foi fracasso ou não. Tínhamos um objectivo e não o alcançámos, mas chamar-lhe de fracasso é demasiado pesado, honestamente.


Que denominação, então, se pode dar a prestação da selecção, no seu entendimento?
Para conseguirmos alguma coisa temos de colocar investimento. Nesta medida e, disse-o, na entrevista do final do jogo, que, de facto, estavam de parabéns a Gâmbia e o Gabão, porque na verdade foram as selecções que ao longo de toda a classificação conseguiram se munir de recursos necessários para enfrentar tudo aquilo que se sucedeu, nomeadamente à Covid-19. Conseguiram manter sempre um equilíbrio ao longo de toda a classificação. Se reparar, na verdade, à sexta ronda já estava tudo decidido.


O que é que isso reflecte em termos práticos?
Isto reflecte bem tudo aquilo que foi a necessidade que tivemos ao longo do trajecto, as constantes alterações e adaptações que tivemos de implementar, e daí que, isso depois se reflecte nas performances desportivas e os resultados. No lançamento dos jogos que fizemos para esta qualificação, o ponto de partida acabou por ser também algo difícil, mesmo para mim a nível pessoal e profissional.


Porquê?
Durante a pré-eliminatória eliminámos a Gâmbia numa fase em que também estava no percurso da preparação para o Mundial de Sub-17. Conseguimos qualificar a selecção 'AA' para a fase de grupos da Campanha ao Mundial, mas nisto a minha incidência continuou nos trabalhos da selecção de Sub-17. Isso levou a que não trabalhássemos em Outubro com a selecção de honras.  Nesse período, em 2019, a Gâmbia, o Gabão e a RDC fizeram os seus trabalhos de preparação nas Datas-FIFA. A Gâmbia é uma selecção que tem vindo a crescer consideravelmente. O Gabão fez dois jogos de preparação. Ganhou ao Marrocos e ao Burkina Faso, selecções de proeminência. Quando chegámos, em Novembro de 2019, tivemos vários factores que nos influenciaram.


A que tipo de factores se refere?
Acabávamos de sair do Mundial de Sub-17. Houve, de facto, uma necessidade de interagirmos no sentido de que tudo tivesse sido planeado para que pegássemos logo de entrada nesta fase de qualificação fortes, mesmo sabendo que já não tínhamos aproveitado o mês de Outubro. Sucede que houve um conjunto de forças negativas que implicaram que o nosso jogo fosse numa quarta-feira. Não utilizamos o mês de Outubro para nos prepararmos, jogámos logo, sem termos tempo nenhum de trabalhar os jogadores, inclusive uma boa parte dos atletas chegou na terça-feira de manhã. Treinámos nos Coqueiros na terça-feira à tarde e ainda falha a luz durante este treino.


Acha que Angola não teve a preparação que esperava?

Não fomos para estes jogos devidamente preparados. Vamos para o Gabão e aconteceram coisas surreais. A dinâmica organizativa do que se passou no Gabão foi de um nível muito baixo, ao ponto de nem treinarmos no Gabão, como estava previsto. Ficámos no hotel sem qualquer tipo de condições. E digo que não tinha condições mínimas. Isto levou a que depois chegássemos ao campo e não conseguíssemos as performances desejáveis e arrancamos logo com estas duas derrotas e a terceira e quarta jornada iria ser com a selecção do pote 1, a mais qualificada do ranking. Depois iríamos voltar a jogar em Março de 2020 e foi quando rebentou a situação da Covid-19.


Que condições foram colocadas à disposição da selecção?

Tivemos tempo para perceber que determinadas condições não podíamos ter. Teríamos de fazer o nosso trabalho dentro daquilo que são os nossos recursos e nos munirmos de sinergias que nos ajudassem a obter mais recursos. É importante uma organização interna de formas que determinadas coisas que sucederam nesta Data-FIFA não podem jamais voltar a acontecer. Fizemos este percurso, melhorámos um conjunto de procedimentos internos, estávamos de facto preparados até a um bom momento, coisa que aconteceu até Novembro de 2019.


A partir de que momento começou a sentir que as coisas não estavam a correr bem na preparação da selecção?
Uma boa parte dos profissionais com referência até então na Selecção principal não tinham integrado o grupo, porque ainda não tinham os compromissos com os clubes resolvidos, outros acabavam de resolver estas situações e alguns tinham vindo de lesão. Em Março de 2020, felizmente, estávamos num bom momento. Sucede que rebentou a pandemia e os jogos foram cancelados à última da hora. Ninguém chegou a saber da convocatória, porque os jogos foram cancelados numa sexta-feira e iríamos divulgar no sábado.

QUALIFICAÇÃO AO MUNDIAL DO QATAR
"Não sou vendedor de sonhos"
Que possibilidades acha que Angola dispõe de voltar a alcançar a qualificação a um Campeonato do Mundo de seniores, no caso o do Qatar em 2022?

Vivemos de objectivos e tentar qualificar Angola ao Mundial do Qatar é um objectivo. Mas, também, temos de ser honestos e perceber que das 54 selecções em África, apenas cinco vão ao Campeonato do Mundo. Houve a promessa do presidente FIFA em aumentar este número. Esteve inclusive em Luanda, em Novembro, e, nesta ocasião, reportou que a sua luta é que no Mundial de 2026 já seja, no mínimo, com nove representantes africanos. Já considero muito mais justo.


 Acha o número de vagas para a África demasiado reduzido?
Cinco é altamente limitativo. Sabemos que este número vai deixar muito boas selecções africanas robustas e competentes de fora do Mundial. Esta é a verdade. Posto isto, temos de perceber neste momento que não somos um colosso africano. Dizer que o nosso objectivo é atingir o Mundial, estamos a pôr-nos um bocado para 'fora de pé'. Mas vivemos de objectivos e progressos. Queremos ser mais competentes e ombrear com os adversários directos e num plano de igualdade.


 De que forma olha para os adversários de Angola nas eliminatórias ao Mundial: Egipto, Líbia e Gabão?
São selecções em constante progressão. Agora, vamos poder disputar jogos cara-a-cara com o Egipto, Gabão e a Líbia? Claro que vamos. Mas também sabemos que só se qualifica um à fase de grupos. Prometer a qualificação, acho que não devo. Não sou vendedor de sonhos! Sou, quanto muito, dinamizador de trabalho e, no fundo, um elemento catalisador para o sucesso, mas vendedor de sonhos não sou.


  Não assume a qualificação como objectivo?
Vamos trabalhar, estou completamente engajado nisso, para que reunamos as condições para lutarmos de igual para igual com os adversários. Este tem sido o meu trabalho, meu esforço e da minha equipa técnica. Também procuramos agregar mais gente nesta onda. Caso isso aconteça, podemos atingir os 'play-offs'. Se conseguirmos atingir este patamar, acredito que  vamos entrar no Campeonato do Mundo. O grande objectivo, nesta altura, é reunir as condições para agregar as mais-valias.


Nessa altura a pandemia complicou o trabalho da selecção...
Com certeza. Fizemos uma travessia até Outubro de 2020, altura em que voltamos a ter possibilidade de trabalhar novamente. Fizemos um estágio em Portugal, na região de luso, e depois com jogos em Rio Maior, que foi uma grande mola impulsionadora. Tivemos tempo para trabalhar e preparar. Conseguimos aglutinar um conjunto de jogadores e tenho de dizê-lo, sem grandes recursos. Fizemos isso dentro do quadro de recursos extremamente limitados que temos.


 O estágio de preparação em Portugal correspondeu às expectativas?

Fizemos um estágio muito bom, com boas condições de trabalho, excelente entrega e compromisso. O menos bom que sucedeu foi o facto da Guiné nos ter falhado ao compromisso, devido aos testes da Covid-19. Portanto,  não aproveitamos este jogo de preparação, que seria muito interessante e permitir mais tempo de competição a todos os jogadores. Queríamos observar mais tempo todos os jogadores. Não foi possível, mas jogámos com Moçambique. Fomos muito mais eficazes e, na verdade, igualamos o melhor resultado de sempre no histórico de confronto entre as duas selecções.


A qualidade do trabalho em Rio Maior trouxe confiança ao grupo...

De facto. Voltámos em Novembro confiantes com o trabalho que tínhamos produzido em Outubro de 2020. Iríamos jogar contra uma forte selecção, mas o problema é que após a convocatória tivemos um conjunto de jogadores limitados. Uns estavam com Covid-19, outros a viajar e no trajecto para Luanda, nos voos de ligação houve necessidade de fazer novos testes, como foi o caso do Fredy, que a caminho teve a necessidade de repetir o teste para um segundo voo e ficou retido porque acusou positivo. Este é apenas um exemplo, porque tivemos outros que já nem viajaram.


Houve inúmeras contrariedades?
Tínhamos projectado uma ideia e nos deparámos com um cenário completamente diferente. Pior do que tudo isso, vamos para o jogo com a RDC, na terceira e quarta jornada, sabíamos das dificuldades que iríamos encontrar, porque estávamos a defrontar a selecção mais cotada do grupo, mas estávamos extremamente limitados e a RDC na máxima força.  

Mas nem por isso o resultado em Kinshasa foi tão penalizador...

Batemo-nos muito bem em Kinshasa, curiosamente até igualamos o melhor resultado entre Angola e a RDC em jogos oficiais. Com o empate abrimos a porta para acreditarmos. Viemos a Luanda jogar convictos de que seria mais um jogo difícil, mas tínhamos condições de vencer, para relançar a nossa qualificação. Mas sabíamos também que não estávamos em igualdade de circunstancia do nosso adversário e faltava-nos vários jogadores que queríamos utilizar.

 
Depois do empate, a derrota em Luanda foi um duro golpe...
Tivemos que lançar alguns jogadores que até deram uma boa resposta, porque é em tempo de crise que surgem as oportunidades. Estamos muito satisfeitos com o desempenho de alguns jogadores, mas sabemos que a determinado nível são aqueles jogadores ausentes que fazem a diferença e que realmente acabam por sobressair. Fizemos um jogo bastante conseguido, curiosamente acabámos por sofrer o golo numa altura que estávamos por cima do jogo. Fomos penalizados por todo o envolvimento e por não termos conseguido dar a resposta que a RDC deu fora do relvado para ter todas as mais-valias no jogo. Ficamos num cenário ainda mais difícil.


O último jogo com a RDC ditou praticamente o afastamento. Que o levou a acreditar que ainda era possível a qualificação, mesmo estando na última posição e com apenas um ponto?

Com um simples ponto, a conclusão evidente era a de que já estávamos fora, mas havia uma hipótese matemática não tão impossível assim. Deitar a toalha ao chão nunca é nossa perspectiva. Enquanto houver condições e oportunidade vamos lutar por elas. Definimos como primeiro objectivo lutar pela qualificação. Ninguém andou a traçar cenários idílicos, a dizer que estamos em óptimas condições. Não. Dissemos que as nossas hipóteses são escassas, mas vamos ser briosos e lutar por elas.


Abre a porta à entrada de mais jogadores da diáspora?

Temos de os convidar a entrar para um projecto onde eles queiram fazer parte e ajudar a crescer. É este sentimento que queremos agregar na Selecção de Honras.


Das vezes que convocou jogadores da diáspora nem sempre todos responderam positivamente. Mantém a ideia de voltar a convocar os faltosos tendo em vista as eliminatórias ao Mundial do Qatar?
Houve um conjunto de jogadores que esteve disponível para vir, outros nem por isso, porque também temos aqueles que no meio de tudo desistem e temos de fazer uma filtragem. Há outros que estão indecisos e alguns ainda comprometem-se e na hora da verdade fogem. Estes já comecei a dizer que não os vou perdoar e começar a denunciá-los, porque é muito feio haver jogadores que para a comunicação social vêm dizer que estão disponíveis e na hora da verdade argumentam que ainda é muto cedo. Queremos jogadores de carácter na Selecção Nacional. Que sejam transparente e honestos.


"As repercussões do impasse na FAF são elevadíssimas”
Qual tem sido a interacção com o elenco federativo?

Tenho uma excelente relação com o presidente e toda a direcção. Sinto-me à vontade. Tenho tido o apoio possível. Precisava de mais apoio. A própria circunstancia deste momento dita que não está fácil. Estamos a atravessar um momento em que a direcção está para tomar posse, para poder arrancar com um conjunto de actividades que quer levar à cabo, mas também não pode.


 De que forma olha para a crise de liderança instalada, desde as eleições, na Federação Angolana de Futebol?
Extremamente preocupado. Urge que se resolva e se ultrapasse este impasse. As repercussões do tempo que estamos a passar neste impasse são elevadíssimas. E não vão ser só repercussões do momento. São repercussões que se vão estender e quanto mais tempo passarmos assim, mais tempo vamos precisar para recuperar.


 Podemos associar o fracasso nas eliminatórias ao CAN como uma das repercussões da crise vigente na FAF?
Tudo aquilo que lhe expliquei sobre o trajecto na qualificação, fomos claramente condicionados por questões organizativas, pandemia e, sem dúvida, este momento que atravessa o actual elenco que não pode tomar posse e dar início às actividades que pretende executar, coarcta naquilo que são os nossos trabalhos directos. Sem dúvida nenhuma.


De que forma é que olha para o futuro da selecção?

Com esperança de que tudo isso se ultrapasse o mais rápido possível. E quando falo o mais rápido, a minha esperança era que fosse já amanhã. Ontem era tarde. E que possamos desenvolver um conjunto de procedimentos para agregar as valias desportivas que querem de coração, fazer parte e levar Angola ao mais alto nível.


CONTRATAÇÃO
Houve incapacidade de reunir atletas da diáspora

Que erros acha que Angola cometeu em termos de organização e que foram determinantes para este insucesso?
Sabe quantos jogadores falharam à Gâmbia na convocatória? Nenhum. Não falhou um único jogador. E eles têm 100 por cento dos jogadores a evoluir na Europa. Colocaram um avião e trouxeram os jogadores todos, porque o voo privado era uma das premissas. E ao Gabão, quantos jogadores falharam? Zero. Porque apostaram num voo privado e trouxeram os jogadores. Nós não nos dispusemos destas condições. Ficámos, obviamente, limitados e ainda com um outro problema: É que mesmo nas viagens, em que se esperava já estarem um bocado mais restabelecidas, estavam altamente restritas e os jogadores para fazerem os longos percursos, demoravam oito horas, ou seja, passaram a demorar 16 a 18 horas.


Nesta fase não seria mais viável apostar apenas nos jogadores do Girabola?
Temos de perceber que dimensão estamos a falar. O que é que queremos projectar? Um CHAN ou uma qualificação para o Mundial? Se queremos projectar um CHAN, temos condições para ombrear, acredito eu, e eventualmente, almejar a conquista deste torneio. É fácil? Não. Mas temos condições para tal. Se estamos a falar de um CAN ou de uma qualificação para um Mundial é diametralmente diferente. As pessoas têm que perceber isso, porque a dimensão de um CAN ou de uma qualificação para o Mundial não tem nada a ver com o CHAN ou Cosafa. Nada. São dimensões desportivas absolutamente diferentes.


A ausência constante de jogadores complicou sobremaneira o seu trabalho?

Houve clubes que nos responderam até na pré-convocatória e de uma forma correcta usando a circular da FIFA. Foi o caso do Marítimo de Portugal, onde actua o Milson, cujo clube deu a conhecer a situação vigente na região da Madeira, argumentando que se o jogador sair vai ter que cumprir determinados dias. Fruto disso, já nem entrou na convocatória final. E o Milson é um jogador que já tem vindo a fazer parte dos trabalhos e que também contamos com ele e que encaixa no perfil que queremos. Este é um exemplo do jogador que tivemos de abdicar.


Acha que faltou aqui um maior envolvimento da estrutura governamental do país, no sentido de criar condições de transportação dos jogadores que evoluem na diáspora?

Era uma solução, porém não dispusemos destes recursos. Veja que acabámos por ter um conjunto de jogadores com necessidade de vir para Angola por questões administrativas, porque tinham de renovar o passaporte. Como o nosso primeiro jogo era na Gâmbia, e eles em função do dia que tinham jogado a disponibilidade de voo era restrita, então tivemos de abdicar destes jogadores para o primeiro jogo e só poderiam vir para o segundo. Houve um conjunto de situações que nos limitou muito. Fomos jogar com menos 12 jogadores na Gâmbia. Ao contrário de nós, a Gâmbia não precisou de fazer nenhuma adaptação de jogadores, porque tinha todos disponíveis.


Que lições conseguiu tirar para o futuro este insucesso nas eliminatórias ao CAN dos Camarões?
Sermos uma equipa muito mais bem preparada para as transições defensivas, que era um dos aspectos que o Gabão foi fortíssimo em todo o apuramento. Não permitimos grandes ocasiões nessa situação em que o Gabão tirou partido em quase toda a campanha.


Em algum momento sentiu que estava a ser abandonado. Precisava de um maior apoio da estrutura federativa?
A verdade é que quando houve uma senhora embaixadora (Fátima Jardim) que se engajou no sentido de nos ajudar, rapidamente as coisas andaram. O Mbala Nzola desde Novembro de 2019 que estávamos a querer trazê-lo. Nessa altura, ninguém em Angola sabia quem era o jogador. Estava a jogar na segunda liga italiana, mas ninguém sabia quem era e se tinha ligação a Angola, excepto os familiares e amigos. Mas nós sabíamos. Quando, felizmente conseguimos disponibilidade da senhora embaixadora, deixou-me encantado. Espero que motive e abra portas para que outros possam ajudar de forma semelhante, porque na verdade, rapidamente se resolveu uma questão que já se arrastava há um ano e meio.


AVALIAÇÃO
"Temos limitações severas"

Sente que faltou apoio à Selecção Nacional?
Se calhar, algumas empresas internamente nos podiam assistir, para não dizer subsidiar, porque às vezes fica a parecer que é só uma questão financeira. Há questões que não têm tanto a ver com aspectos financeiros, mas podem nos assistir e ajudar. Vou dar aqui um exemplo, que me deixou muito triste e que na minha concepção é difícil de entender: Isto não é uma critica aos responsáveis da empresa, mas é uma realidade e constatação de um facto. Fiquei boquiaberto e nem queria acreditar que seria possível. Na viagem a Banjul tínhamos jogadores cansados e o Mbala Nzola é um exemplo, porque chegou mais tarde e após passar por duas noites mal dormidas. Fomos num voo em que havia alguns lugares vazios na zona executiva, onde se consegue viajar mais confortável. Solicitámos ao comissário de bordo que se pudesse utilizar estes lugares, para acomodar alguns jogadores que se mostravam fatigados e precisavam de recuperar melhor. A resposta foi a de que não podíamos. Questionamos, porquê? Num voo privado e com os lugares vazios. Foram muitas as vicissitudes e temos de trabalhar nesse sentido. Este é um simples exemplo.


Defende a construção da selecção com uma base de jogadores maioritariamente proveniente da diáspora?
Absolutamente. A Gâmbia jogou contra nós com os onze jogadores iniciais e os suplentes 100 por cento vindos da Europa. O Gabão também teve 100 por cento dos jogadores vindos da Europa. No jogo com a RDC, apenas dois jogadores do TP Mazembe. E no jogo em Angola, apenas um jogador  que evolui em Kinshasa foi convocado. Temos de perceber a realidade em que nos encontramos. Não é desvalorizar ninguém ou fechar portas a jogadores, mas temos de perceber em que ambiente competitivo estamos a viver.


Pese todas as vicissitudes, Angola foi capaz de vencer o seu último jogo, em Luanda, diante do Gabão. O que mudou do primeiro ao último jogo para que a selecção fosse mais capaz?
É evidente que à sexta jornada já teve uma dimensão diferente. O que é que mudou? Mudou muita coisa neste percurso. Desde logo, houve nove mudanças no onze inicial. Entre o primeiro e o sexto jogo houve sete. Houve mudanças na maneira como nos dispomos em campo e como interpretamos o jogo; na organização exterior de todo o estágio; na estrutura; perspectiva e estamos numa dimensão completamente superior em relação quando iniciamos a qualificação. A verdade é que tivemos que reconstruir, unir uma situação extremamente delicada. Não estava tudo impecável e nem agora está tudo impecável. Temos limitações severas.


Ao serviço dos Sub-17 conseguiu bons resultados, mas não tem tido a mesma sorte na Selecção principal, onde os êxitos tardam a aparecer. Alguma justificação para isso? Sente que ao nível da Selecção 'AA' a pressão é maior?
Estou umbilicalmente ligado à geração de Sub-17 que atingiu o Mundial e estou muito orgulhoso disso. É uma página bonita no futebol de Angola e no meu curriculum desportivo. Posso dizer que este êxito influenciou muito para aquilo que é o meu sentimento em relação a Angola. Vivi experiências que me marcaram no coração e não tem como não ser um marco na minha vida. Portanto, temos que perceber o caminho para se chegar ao sucesso. Houve uma diferença substancial daquilo que as selecções jovens tinham vindo a fazer e se olharmos para o passado vão notar que houve um efeito de desenvolvimento. Fico satisfeito e, obviamente, não podemos baixar os braços.

QUEM É QUEM?
Nome Completo: Pedro Valdemar Soares Gonçalves
Idade: 45
Naturalidade: Lisboa
Percurso como jogador: Futebol Amador
Percurso como treinador: Treinador profissional UEFA Pro
Títulos (como treinador): 11 vezes Campeão Distrital Lisboa (vários escalões)
• Campeão Distrital de Setúbal (Sub-15)
• Campeão Nacional de Portugal (Sub-15/2 vezes)
• Campeão Provincial de Luanda (Sub-15/2 e Sub-17/1)
• Campeão Nacional de Angola (Sub-17)
• Campeão da África Austral (Sub-17)
• Vice-campeão Africano (Sub-17)

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