O continente africano é marcado por um passado colonial e lutas pela independência, enfrenta, desde o final do século passado e princípio do século XXI, processos de transições políticas e democráticas, muitas vezes, marcados por instabilidades, golpes de Estado, eleições contestadas, regimes autoritários e corrupção. Este artigo é, em grande parte, extracto de uma subsecção do livro “Os Desafios de África no Século XXI – Um continente que procura se reencontrar, de autoria de Osvaldo Mboco.
A onda de contestação sem precedentes que algumas potências ocidentais enfrentam em África, traduzida em mudanças político-constitucionais, legais, por via de eleições democráticas, como as sucedidas no Senegal, e ilegais, como as ocorridas no Níger e Mali, apenas para mencionar estes países, acompanhadas do despertar da população para colocar fim às relações económicas desiguais, que configuram espécie de neocolonialismo, auguram o fim de um período e o início de outro.
Há algum tempo, a perspectiva de alguns líderes africanos serem sucedidos pelos filhos, no poder, predominava em África, como consequência dos poderes longevos dos Presidentes. Há mais de vinte anos, a realidade africana, do Norte ao Sul, em que os Presidentes do Egipto, na altura Hosni Moubaraki, da Líbia, Muammar el Kadhaffi, da Argélia, Mohammed Bouteflika, apenas para mencionar estes, era de preparação clara de uma sucessão familiar.
O jogo democrático, com as alternâncias no poder, e a Primavera Árabe, no Norte de África, contribuíram para desbaratar pretensões de sucessão dinástica no Egipto, entre o ex-Presidente Hosni Moubaraki pelo filho, Gamal Moubaraki e na Líbia, de Muammar pelo filho, Saif al Islam, que assumia o papel oficioso de "primeiro-ministro de facto” e de Zine Bem Ali por um delfim, provavelmente também por um parente.
Na parte subsariana do continente, em países como Togo, onde realmente se efectivou a mudança de cargo do pai, Gnassimbe Eyeadema, pelo filho e actual Presidente, Faure Gnassimbe, Gabão, onde ocorreu a substituição do pai e ex-Presidente Omar Bongo pelo filho e actual Presidente, Ali Bongo, no Tchad, com a morte inesperada de Idriss Déby Itno pelo filho e chará, sobraram algumas realidades em que continua na forja a mudança dinástica de poder e com muita controvérsia pelo meio.
Trata-se dos casos da Guiné-Equatorial, em que a linha de sucessão do Presidente Teodoro Nguema Basogo está claramente definida, e no Uganda em que os posicionamentos do filho do Presidente e tido como sucessor constituem verdadeiros avisos à navegação, a julgar pelas intervenções problemáticas nas redes sociais. Os seus tweets em apoio aos rebeldes do Tigray, na Etiópia, durante o conflito militar que opunha o Governo Federal e os rebeldes do referido território etíope, irritaram Addis Abeba, o posicionamento sobre a invasão russa da Ucrânia e sobre o golpe de 2021 na Guiné, levantam muitas dúvidas sobre o mesmo relativamente ao cargo que o espera.
Uma outra gaffe, cometida por Muhoozi Kainerugaba, filho de Museveni e na altura comandante das forças terrestres, foi quando chegou a ser citado pela agência AFP como tendo dito alegadamente que "não levaria duas semanas para eu e o meu exército capturarmos Nairobi ", um comentário infeliz que alarmou Kampala e a capital do Quénia.
Foi, por isso, destituído do cargo, mas ironicamente promovido depois pelo pai ao posto de general, facto que levou muitos a encarar o sucedido com um misto de surpresa e reservas, numa altura em que, com as mesmas controvérsias, se pavimentam os caminhos da sucessão, ainda não assumida oficialmente, independentemente do papel ascendente que Muhoozi Kainerugaba desempenha na hierarquia militar e política ugandesa.
No poder desde 1986, Yoweri Museveni, um antigo líder da guerrilha que derrubou o Presidente Milton Obote, era um crítico ferrenho dos poderes longevos em África, sendo hoje apenas superado pelo Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Nguema Basogo, e dos Camarões, Paul Biya, curiosamente todos eles na rota de serem substituídos pelos filhos.
Com a particularidade de o processo de sucessão em andamento no Uganda envolver a controvérsia que devia levar a maior ponderação, atendendo à inconstância, alguma incontinência verbal e desalinhamento entre Museveni e filho.
Hás dias, Muhoozi Kainerugaba, o controverso filho do Presidente do Uganda, anunciou numa das redes sociais a intenção de se candidatar às eleições presidenciais de 2026, numa altura em que nada consta oficialmente, quer em termos da desistência do pai e de escolha definida do futuro candidato.
"Em nome de Jesus Cristo, meu Deus, em nome de todos os jovens do Uganda e do mundo e em nome de nossa grande revolução, me candidatarei à presidência em 2026”, escrevia no Twitter o filho do Presidente Museveni, contra todas as expectativas, chegando ao ponto de retirar o twitt horas depois.
A controvérsia em torno dos twitts do filho de Museveni amontoa-se na proporção em que recorre às redes sociais, mesmo depois de ser advertido pelo Presidente e pai para evitar tratar de assuntos de Estado por aquela via, além da oferta do Presidente Paul Kagame para "editar os seus twitts”.
Em 2026, o Presidente do Uganda e pai do controverso general completará 81 anos e até agora não deu mostras de desistir de se apresentar às eleições, razão pela qual poucos compreendem o posicionamento de Kainerugaba quando defende que "chegou a hora de a sua geração dirigir”.
A controvérsia, relativamente aos posicionamentos inconstantes de Muhoozi Kainerugaba que, por exemplo, em Abril do ano passado tinha anunciado que se iria retirar do Exército, que iria desactivar a conta pessoal na rede social Twitter e que não voltaria a abrir, mas horas depois reverteu tudo quanto tinha declarado e assumido.
Se por um lado, todas essas controvérsias passem ao lado para o Presidente Museveni, deveriam ser rigorosamente avaliadas pelo partido no poder, o National Resistance Movement, para acautelar situações futuras cujos indícios abundam hoje nos posicionamentos de quem vai eventualmente suceder ao Presidente do Uganda.
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