Reportagem

Antiga capital do Reino do Kongo celebra 517 anos

Jaquelino Figueiredo | Mbanza Kongo

Jornalista

Mbanza Kongo, antiga capital do então poderoso Reino do Kongo, fundado, segundo a história, por “Nimi Ya Lukeni”, em 1390, celebra, hoje, 8 de Julho, o 517.º aniversário de existência e o 6º da elevação a Património Cultural da Humanidade. Sem as grandes celebrações que ocorrem nesta época, devido à situação económica e financeira que o país vive, ainda assim os munícipes não escondem a sua satisfação pelos projectos de impacto social em curso.

08/07/2023  Última atualização 07H00
Habitantes satisfeitos com projectos de impacto social em curso na região © Fotografia por: Garcia Mayatoko | Edições Novembro | Mbanza Congo
Apesar de ter sido fundado em 1390, o Reino do Kongo, que abrangia, para além de Angola, a República Democrática do Congo (RDC), o Congo Brazzaville e uma parte do Gabão, é no ano de 1506, altura em que o soberano Mvemba Nzinga (Dom Afonso I) assumiu os destinos do Kongo, que se passou a considerar a data da fundação da cidade.

Passados 517 anos, os habitantes da cidade de Mbanza Kongo, província do Zaire, apesar do fraco desenvolvimento económico e social que a região regista, mostram-se satisfeitos pelos projectos em curso nos domínios da energia eléctrica, água e requalificação dos diferentes bairros.

A requalificação de alguns bairros da cidade, que consiste na  reabilitação de alguns quilómetros de vias secundárias e terciárias, foram apontados como sendo ganhos consideráveis, na medida em que estão a renovar a imagem de muitas zonas habitacionais de Mbanza Kongo.

O administrador municipal, Manuel Nsiansoki Gomes, informou que as obras de impacto social para garantir o bem-estar dos habitantes vão continuar, estando algumas em fase conclusiva. Apontou como exemplo a extensão da rede eléctrica às comunas do Luvo e Nkiende, a asfaltagem de vias secundárias e terciárias de muitos bairros de Mbanza Kongo e outras nos sectores da educação e saúde.

  Satisfação dos habitantes

A empreendedora Isabel Sousa Moreira, 26 anos, moradora do bairro Álvaro Buta, manifestou a sua satisfação pelos trabalhos de asfaltagem em curso de algumas ruas, a água corrente e energia eléctrica que estão a beneficiar há já algum tempo.

"Já temos água potável e energia eléctrica há muito tempo. Agora estão em curso as obras de asfaltagem das ruas dos bairros da cidade de Mbanza Kongo que estão a mudar o seu visual, que antes parecia como se fosse sanzala. Constitui uma vantagem. Eu, particularmente, estou satisfeita. Aqui no bairro Álvaro Buta, a asfaltagem das vias principais está na fase conclusiva, como podem ver o asfalto e a colocação de passeios. Espero que o projecto contemple, também, a iluminação pública, por causa dos que estudam de noite, pelo que encorajo o Governo a continuar, porque hoje quando chove já não enfrentamos a lama como antigamente, bem como nesta época seca já não estamos sujeitos à poeira”, disse.

Outra vantagem da reabilitação das vias é o facto do serviço de táxi chegar até ao interior do bairro sem dificuldades. "Deixo uma mensagem a todos os moradores, após a conclusão dos trabalhos de asfaltagem, espero que todos sejamos civilizados, não deixar o lixo na rua, muito menos   deixar de varrer em frente às nossas casas. Cada um pode varrer em frente a sua casa. Aproveitando esta oportunidade para solicitar à Administração municipal para que coloque, também, contentores de lixo nas ruas em construção”, apelou.

Já a estudante Maria Graça Sebastião, 26, também moradora do bairro Álvaro Buta, as obras de asfaltagem das vias secundárias e terciárias da sua área deixam para o passado os constrangimentos resultantes da lama em época de chuva e da poeira no tempo de cacimbo.

"Antes do trabalho que o Governo leva a cabo, sempre que chovesse era difícil a vida por aqui, devido à lama. E, actualmente, com a chegada da época seca, éramos consumidos pela poeira, mas com a nossa rua asfaltada, apesar de que ainda não terminaram os trabalhos, o sofrimento ficou para trás. Com a iluminação pública o nosso bairro vai ser um "show”. Não vejo a hora do empreiteiro terminar os trabalhos para nos sentirmos muito mais felizes”, avançou.

Apelou ao Governo provincial a continuar com projectos do género que visam conferir uma nova imagem aos diferentes bairros da cidade de Mbanza Kongo. "O meu conselho aos vizinhos, é que cuidem as ruas em reabilitação, varrer, manter a limpeza, porque a higiene faz bem à saúde. Devemos ser organizados”, frisou.

Ambrósio Nzoyansady, morador do bairro Martins Kidito e estudante da 12ª classe, 28 anos, disse ser uma mais-valia o trabalho de modernização dos bairros que o Governo do Zaire leva a cabo, porque está a conferir uma imagem urbana aos bairros da cidade.

"A asfaltagem das ruas do interior dos bairros constitui uma mais-valia, porque coloca fim ao sofrimento dos moradores na época chuvosa e ou no tempo seco em que fazia muita poeira que, também, nos provocavam doenças respiratórias. Com a iluminação pública, acredito que vai reduzir a criminalidade no bairro”, acrescentou.

Administrador destaca ganhos no sector social

O administrador municipal de Mbanza Kongo, Manuel Nsiansoki Gomes, considera a edição 2023 das festas da cidade como um momento de reflexão sobre o passado, o presente e o futuro da região. "Na verdade, 517 anos não são poucos. Para este ano, consideramos a presente edição como um momento de reflexão sobre o que encontramos, já fizemos; e que pretendemos fazer com a cidade de Mbanza Kongo”, frisou.

De acordo com Manuel Nsiansoki Gomes, após a conquista da paz, em 2002, a região registou muitos ganhos nos sectores da energia eléctrica, água potável, saúde, educação e outras infra-estruturas com impacto directo na vida dos habitantes.

"Neste momento podemos dizer que há muitos ganhos resultantes da conquista da paz. E nós, a nível da Administração municipal, os projectos sociais não param. Estamos a falar da água potável, da energia, a vias urbanas, são muitos ganhos que nós podemos contabilizar ao longo deste período de paz ao nível do município”, avançou.

Quanto à energia eléctrica, Manuel Nsiansoki Gomes assegurou que os projectos estão em curso, no sentido de estender a rede a todos bairros de Mbanza Kongo que ainda não beneficiaram, bem como para outras comunas, com destaque para a do Luvo e do Nkiende, onde os trabalhos estão numa fase bastante avançada.

"Neste momento está em curso a extensão de outras linhas para poder reforçar naqueles bairros da sede municipal onde temos energia com pouca intensidade. A nível de todo o município, para além da sede, temos as duas comunas, a do Luvo e a do Nkiende. Em relação ao Luvo vamos, na primeira fase, electrificar a aldeia do Nkoko e a sede comunal, cuja execução física está na ordem de 70 por cento. As obras da comuna do Nkiende encontram-se, também, avançadas, acreditamos estarem na ordem de 30 por cento. A linha vai dar uma cobertura a partir do Nzolani, passando pelo condomínio Falubamba,  estação rodoviária, escola do Tuku (arredores da cidade de Mbanza Kongo) até à sede do Nkiende. A colocação de postes de transportação de média e baixa tensão está avançada. Na mesma zona está, também, em construção o novo aeroporto”, frisou.

No tocante as vias urbanas, o administrador de Mbanza Kongo informou que estão a conferir uma imagem diferente aos diferentes bairros que nunca tinham sido asfaltados.

"Na sede temos dois projectos. No âmbito do Plano Integrado e Intervenção nos Municípios (PIIM), temos nove quilómetros de estradas, dos quais, seis estão concluídos. Quanto às vias urbanas, temos sete quilómetros que estão a ser intervencionados, com uma execução física acima da média, porque estamos na fase de sinalização e iluminação pública das ruas contempladas. No cômputo geral, as obras encontram-se a bom ritmo, como podem constatar nos bairros Bela Vista, Álvaro Buta e Martins Kito”, acrescentou.

Apesar dos trabalhos de asfaltagem em curso, o administrador de Mbanza Kongo manifestou a sua preocupação com o comportamento de alguns moradores dos bairros que estão a beneficiar de obras de requalificação, que depositam o lixo nas novas vias.

"A única coisa que nos deixa triste é que as poucas ruas que estamos asfaltar, a população está a deitar lixo,  quando temos alguns pontos para o efeito. Temos a certeza que ainda não concluímos a colocação de contentores de lixo em todo os sítios, mas existem pontos onde se deve depositar os resíduos. Infelizmente, os que existem estão vazios, porque as pessoas preferem colocar lixo no chão e nas ruas, pelo que pedimos a mudança de comportamento”, disse.

Sector de Saúde

Manuel Nsiansoki Gomes considera o sector da Saúde como sendo o mais complexo, devido ao estado degradante de algumas infra-estruturas a nível das comunas, mas que garante ser superável. "O sector da Saúde é o que mais dificuldades apresenta, concretamente no tocante às infra-estruturas, mas que não são insuperáveis. A solução tem sido encontrada dentro da nossa quota financeira. Quanto aos fármacos, não temos problemas. Também não temos problemas de técnicos a nível do município. Temos, sim, algumas situações nas comunas, devido à degradação das infra-estruturas. Estamos a lutar para ver se entram em reabilitação, são obras que inserimos no PIIM deste ano, mas até ainda não temos luz verde, pelo que continuamos a aguardar”, frisou.

Manuel Nsiansoki Gomens garantiu que o município não tem problemas de medicamentos, porque os essenciais têm sido adquiridos com regularidade, com excepção daqueles que não constam do programa oficial de distribuição.

"Quando dizemos que temos medicamentos, muitos questionam sobre as receitas que têm sido passadas nos hospitais. O Estado compra medicamentos essenciais, mas existem outros que não temos, porque não constam do programa, são esses que têm sido prescritos para serem adquiridos em farmácias”, acrescentou.

Informou que para além das 22 unidades sanitárias existentes, estão em construção vários projectos no Sector da saúde, no sentido de dar cobertura a toda população.

"Temos em construção, no âmbito do PIIM, o centro materno-infantil, um centro de Saúde com capacidade para 30 camas na comuna do Kaluka, cujas obras estão a 85 por cento;  a morgue municipal, que aguarda apenas por apetrecho, também, faz parte da solução dos problemas do sector”, assegurou.

Quanto à Educação, Manuel Nsiansoki Gomes disse não haver motivos de queixa, porque estão em construção várias escolas, entre as quais uma de sete e  outra de doze salas de aula, bem como as outras já em funcionamento.

Centralidade com 1500 casas e lotes para autoconstrução dirigida

Quanto à centralidade de Mbanza Congo, que vai ter 1500 casas, o administrador municipal pediu a população para ficar descansada, assegurando que o local já está identificado. "Como sabem, o projecto é de subordinação central. A população pode ficar descansada, porque havia sido anunciado pelo Presidente da República. Já temos o local para a sua implantação, vai ser na comuna do Nkiende, onde, também, está em construção o novo aeroporto”, assegurou.

Sobre o projecto de autoconstrução dirigida, informou que o dossier encontra-se no Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, que deve definir a estratégia, bem como a quantidade para cada município.

"Enviámos, no mês de Junho, os dados ao Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, em Luanda. Estamos a aguardar a criação de condições necessárias para a execução de infra-estruturas, nomeadamente o loteamento, a rede técnica para que seja um pacote completo e o cidadão vai, apenas, erguer a sua casa seguindo as regras”, avançou.

Para simbolizar a data está previsto, para o dia 15, um espectáculo musical no largo Dr. António Agostinho Neto e uma feira no mesmo local. Quanto ao embelezamento, os trabalhos de limpeza decorrem em todas as artérias da cidade.

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