Sociedade

Angola regista aumento de menores abandonados

Weza Pascoal

Jornalista

A directora do lar de acolhimento infantil Kuzola, Engrácia do Céu, manifestou-se, ontem, preocupada com o aumento do número de menores abandonados pelos progenitores em Luanda, por diversas razões.

08/05/2024  Última atualização 11H15
Direcção do centro de acolhimento infantil está preocupada com a negligência dos progenitores © Fotografia por: Maria Augusta | edições novembro

 No passado mês de Abril, informou a directora, 39 crianças, sobretudo recém-nascidas, foram acolhidas no Lar Kuzola, um número considerado bastante elevado, comparativamente aos últimos anos. "Há muitos anos que não tínhamos o registo de 30 crianças mensalmente”, disse.

Engrácia do Céu acrescentou que as crianças encaminhadas ao lar chegam com um quadro clínico preocupante de anemia severa, tendo provocado, no primeiro trimestre do ano em curso, a morte de cinco menores.

 A falta de condições económicas e financeiras das famílias, assim como a rejeição de recém-nascidos, em muitos casos, por nascerem com alguma deficiência física ou mental, foram apontadas pela responsável do Lar Kuzola como possíveis causas de fuga à paternidade.

Nos últimos tempos, acrescentou, temos enfrentado alguma dificuldade, tendo em conta o elevado número de crianças que permanecem na instituição por um longo período de tempo. "Infelizmente, temos aqui 67 pessoas com até 40 anos de idade portadoras de deficiência neuropsiquiátrica”, ressaltou a directora.

 A responsável do Lar Kuzola lamentou, igualmente, o número elevado de crianças instrumentalizadas pelas famílias, que diariamente circulam pelas ruas em situação de mendicidade. "É uma situação muito triste, o futuro das crianças está em risco e é necessário um trabalho conjunto entre o Governo, as igrejas e a sociedade em geral para combater este mal, que coloca um exército de crianças todos os dias de mão estendida nas ruas de Luanda em condições de temperaturas altas e tudo isso a mando das próprias famílias”, lamentou.

 Reintegração

Engrácia do Céu informou que para tornar possível a inserção na sociedade daquelas pessoas que permanecem no lar até atingir a fase adulta, a instituição conta com o apoio de vários parceiros, que têm possibilitado o enquadramento de vários jovens em diferentes áreas de trabalho.

 Durante o ano passado, acrescentou, 25 jovens foram empregados nas empresas do grupo Mitrelli e 11 foram enquadrados nas Forças Armadas Angolanas(FAA). Actualmente, outros 25 estão a receber uma formação promovida pela operadora de telecomunicações norte-americana Africell para posteriormente serem empregados.

 "Temos trabalhado com diferentes instituições para preparar e garantir a reintegração social dos jovens na sociedade de forma segura e sustentável, para tal temos contado com a parceria de diferentes instituições", disse a directora do Lar Kuzola, que traduzido do kimbundu para o português significa Amar ou Lar do Amor.

 "Estamos a estreitar contactos para estabelecer uma parceria com o Ministério do Interior, para permitir o enquadramento de mais jovens nos quadros daquela instituição pública de Defesa e Segurança”, disse.

 Em muitos casos, sublinhou, os adolescentes acima dos 16 anos são encaminhados para outros lares de acolhimento na capital do país, que tenham a componente da formação profissional para a devida capacitação.

 Engrácia do Céu apontou, igualmente, como uma das principais dificuldades do Lar Kuzola o número elevado de crianças, uma vez que o centro tem capacidade para albergar apenas 250 menores, contra as actuais 369 crianças que ali se encontram sob protecção social, assim como o reduzido número de recursos humanos.

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