Em diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
Por acaso, apanhei a festa da RTP África (em vez dos Palop a quem é dirigida). Muita pompa e circunstância. Lembrei-me que, outro dia anunciavam o concerto do cantor lusófono Matias Damásio, o benguelense, de cabeça grande, angolano, parece… que agora é lusófono.
Saramago é português…Damásio é lusófono ou Palop. Já falei que não faria sentido fazermos aqui uma TPA Portugal e emitirmos programas sobre Portugal e portugueses. Claro que isso contraria as Epistemologias do Sul. A "linha abissal”. O pensamento é Norte. E a lusofonia, os Palop e até a CPLP são um prolongamento da ausência da "Ecologia dos Saberes.” Estou a socorrer-me do sábio pensamento de BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, na obra "Epistemologias do Sul.”
Curiosa é que se apregoa a língua, falseiam os números porque se esquecem as línguas regionais a que essa de tal televisão costuma, às vezes, chamar dialetos.
Mudei de canal e a locutora a corpo inteiro, de saia travada falou que "o marido agarrou numa faca e esfacou a mulher com facadas,” ainda esperei que ela rectificasse mas nada, foi mesmo com facadas que esfacalhou. Que bonitos neologismos com faca. Eu não quis pôr no título mas na minha infância nós chamávamos cocó, ranheta e facada. Agora é Lusofonia (com a Guiné Equatorial), Palop e CPLP.
E as facadas? Se observássemos, detalhadamente, na Sociologia Da Violência, chegaríamos à conclusão de que os instrumentos de trabalho, cutelaria e outros como cacetes, exigem poucas acções do ser humano que as utiliza. Por regra, eram utilizadas pelos mais fracos, os oprimidos, caso das catanas ousadas do 4 de Fevereiro contra as armas de fogo coloniais.
Também, no antigamente, levar uma enxada de pau comprido às costas, era instrumento de trabalho que poderia ser arma de defesa.
Os tiroteios em escolas na América nem por isso fizeram diminuir a venda de armas que são uma parte da cultura estadunidense, incluída em emenda à constituição.
Mas, de repente, em Portugal e não só, o homem vai à cozinha, agarra na faca, vem à sala, filho ou filha a ver, dá facadas na mulher, os bombeiros levam a desdita…tem vezes, directamente para a medicina legal. A guerra entrou dentro de algumas casas de família, esquecendo-se da frase de João Paulo II "a paz exige quatro condições essenciais: verdade, justiça, amor e liberdade.”
Sendo certo que a maior parte dos homicídios ainda são com armas de fogo. Lembramos que aquelas facas que se vendiam em lojas de armas, facas de matar como as de ponta e mola andam proibidas. Agora, encontro a ideia da proximidade do poder e exercício de prolongamento do sofrimento com acto simbólico como na Idade Média em que a morte era provocada por meios que prolongassem o sofrimento. Mas para além das facas, tem garrafas partidas, navalhas e até limas de unhas ou chaves de fendas.
Muitas mulheres escondem a violência doméstica, principalmente, quando são domésticas e dependem economicamente do companheiro.
Na prática, as mulheres deveriam ser autorizadas a terem consigo um spray para lançar nos olhos do agressor e uma mínima faca eléctrica para castrar o agressor e adeus bilhas porque estes agressores têm um ímpeto de lastro sexual.
Ou descobrir aplicativos em que haja um sinal de alarme sempre que o homem pegue na faca. Não sei. Nada disto ia resultar. Porque o problema é cultural…do fim da globalização.
Penso que aqui em Angola não eclodiu o feminicídio com facas. Eu nem galinha, olhava de lado enquanto minha mãe aproveitava o sangue com vinagre para cabidela que também comia de esforço.
Uma vez, minha mãe mandou-me à capoeira buscar dois ovos. Levava sempre um porrinho comprido na mão esquerda e uma catana na mão direita. Entrei. Uma cobra grande esgueirou a cabeça. De um só golpe porrinho no rabo e a catana na cabeça. Voltei para ao pé da minha mãe a chorar com medo da minha coragem e nunca mais fui à capoeira buscar ovos. Só abria com uma enxada morros de salalé que as galinhas comiam à solta quando saiam da capoeira.
Naquele tempo, nunca imaginei as catanas do heroico 4 de Fevereiro.
Mas, agora, não se desapontem. Apaixonei-me pelo "cangaço” no Brasil. Movimento armado da classe pobre que chegou a dominar por muito tempo o nordeste brasileiro. O chefe era Lampião e sua mulher Maria Bonita. No cangaço usavam facalhões parecidos com as nossas catanas. Em 1938, acampado em Sergipe, na fazenda Angicos, foram surpreendidos, mataram 11 cangaceiros, entre eles Lampião e Maria Bonita, mais lindos que Romeu e Julieta. Cortaram-lhes as cabeças que ficaram expostas nas escadarias da Prefeitura de Piranhas, interior de Alagoas. Brasil! Lampião tinha um punhal icónico, gostava de bordar e costurar e caprichava nas roupas e peças de metal. Também o chapéu de bicos que havia de ser usado pelo cantor João Gonzaga. Esses adereços e adornos eram a simbologia do poder. Lampião e Maria Bonita caprichavam em pose para fotografia. Transcrevo do BOM DIA BRASIL: Faz parte do fascínio de Lampião essa dualidade: brutalidade do banditismo com a delicadeza da boa educação. Ai que ciúmes eu tenho de Lampião…eu de braço dado com Maria Bonita e a "Banda Maravilha” a tocar!
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