Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
A forma como os governos dos países olham para as necessidades populacionais influencia o comportamento generalizado da sociedade. Nisso, para a formatação de uma visão e consciência colectivas da sociedade, os Meios de Difusão Massiva (MDM) e, nos tempos que correm, os multimédia, exercem um papel fundamental.
Saídos da devastadora II Guerra Mundial (1939-45), que deixou um rasto de milhões de mortos e inválidos, os Estados vencedores e perdedores da Guerra, assim como suas colónias, investiram milhares de dólares na comunicação de massa, incutindo nos jovens a beleza do convívio familiar (um pai, uma mãe e filhos). Tal resultou, obviamente, no reforço da sacralização do casamento e da família, tendo como consequência o "baby boom” dos anos cinquenta e sucedâneos.
Veio, a seguir, a produção virada para o consumo intensivo, o mercantilismo, o despesismo, o bem-estar e outras comodidades indispensáveis deste tempo. As televisões abraçaram a ideia basilar que lhes foi "vendida” e distribuíram-na aos jovens que vêem o casamento e a família como empecilho ao carreirismo, ao bem-estar material e ao lazer.
Caminhando pela marginal de Sea Point (Cape Town), observo, algo intrigado, a presença de muitos cães (perde-se no número, raças e tamanhos dos canídeos exibidos) a fazer companhia a singulares e aos poucos casais que se apresentam no "calçadão” que percorre a marginal. O que menos se vêem são as amáveis e doces crianças pronunciando os nomes de seus progenitores e ou de seus "frateres”.
Ao saber que muitos deles são turistas que viajaram de seus países com tais animais de estimação, transportados sob cuidados muito especiais e em situações muitas vezes delicadas, sendo muito mais complexos de cuidar do que um filho, uma intrigante pergunta me persegue: mais vale a essas damas e cavalheiros um "filho” que ladra ou um nenê que chora quando calha?
Seguir o exemplo dos idosos que caminham de mãos dadas seria o mais expectável, mesmo quando estes se fazem acompanhar de um cachorro que vai no lugar do neto que lhes foi negado pelo(s) filho(s). Um dia, a carreira terá fim. As pessoas trabalham de forma intensa, abnegada e chega reforma. Os cães têm vida curta e cada cão é mesmo um cão. Há de haver com quem conversar, trocar experiências e desfrutar juntos à mesa de um restaurante ou viajar coladinhos nos assentos de um avião. Com certeza que não será um "bobi”.
Cada país é como uma família inteligente. Busca o que lhe falta e serve-se dos meios de persuasão para incutir comportamentos psicológicos colectivos. Sem me rever nos que defendem a reprodução massiva, mesmo quando incompatível com a produção de bens de subsistência e renda, sou pela família e pelo crescimento populacional moderado, cujo efectivo, quando adulto, atenda as necessidades produtivas do país e o equilíbrio das contas públicas que suportem o pagamento de uma pensão adequada aos reformados.
Para que tal aconteça, é preciso tomar-se uma decisão e unir esforços em direcção ao desiderato traçado. Os MDM devem seguir a linha mestra, mostrando o lado bom do caminho escolhido por quem nos governa. Vamos dar primazia aos filhos ou aos animais de estimação?
O Japão e outros Estados que registam taxas de fecundidade abaixo de dois filhos por mulher já pedem mais nenês do que cães.
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