Reportagem

Populares clamam pela reactivação das casas nocturnas

João Upale | Moçâmedes

Jornalista

Quase, senão mesmo todas as casas nocturnas da cidade de Moçâmedes encontram-se inoperantes e entregues à sua sorte. Umas estão transformadas em armazéns ou cantinas, e outras em salões de beleza, recauchutagens ou mesmo igrejas.

24/12/2023  Última atualização 09H56
Dancing ou centro recreativo ou ainda de uma discoteca, no Namibe, remete-nos para um passado nostálgico cheio de lembranças © Fotografia por: Edições Novembro
Os entrevistados pela reportagem do Jornal de Angola atribuem a culpa do "fracasso” das casas nocturnas de diversão ao medo causado pela onda de delinquência, pelo modernismo tecnológico que cativa as pessoas em suas casas e o elevado custo do aparato de som que "agora custa os olhos da cara”.

A antiga dançarina do Bairro Forte Santa Rita Domingas Kapunga recorda locais como o Malembe, zona da Torre do Tombo (Bairro Valódia, vulgo Platô), o Bongo (idem), o Tapamar (bem junto à Praia das Miragens, na Marginal da cidade), Havemos de Voltar, o Tosco (casco urbano), o Palhota, o Kimbu (no Bairro Forte Santa Rita) e tantos outros, que disse estarem praticamente fechados "por motivos sobejamente desconhecidos”.

No Bairro dos Eucaliptos, outra periferia da cidade, a antiga bailarina lembra, de igual modo, um quintal onde frequentemente tocavam as músicas dos Kassav, do África Negra, a sungura, etc. Ela conta que para aceder a esses locais era preciso "subtrair” algum dinheiro da mamã ou do papá.

Para dar o charme, ela esfregava no salto alto óleo vegetal usado para fritar peixe, a fim de manter o lustro e, desse jeito, conquistar os olhares dos cavalheiros, conta com risadas. Domingas Kapunga salienta que as músicas acima referidas não passam de moda e que também gosta as da década de 1960, como as de David Zé e as latinas (de cubanos e espanhóis). "Eu gosto. É mesmo assim, cada tempo é um caso e lá vai a vida”, ressalta.

A antiga bailarina lembra ainda o traje usual, na altura, para o final de semana, que não passava de uma saia "lambada” de duas cores, que de vez em quando era também emprestada a uma amiga. O ingresso rondava abaixo de 150 kwanzas, numa época, anos 1980, em que "a moeda tinha um bocado de peso e não era como agora. Você, conseguindo 50 ou 100 kwanzas, era dinheiro. Agora, uazebele!” (gargalhadas).

Com um amiguinho, narra a nossa fonte, dançava-se o "silow” (slow), música romântica que não se dançava com qualquer parceiro, pois a música lenta convidava a que a lâmpada multicolor fosse imediatamente apagada e, todos, seguindo a cadência, escreviam no chão tal como na rumba.

Os locais predilectos da cidade, segundo Domingas Kapunga, vulgarmente conhecida por "Mingoyo”, "Minguilay” ou "Wepata”,eram o Palhota, na sua zona de residência, e o Tapamar, na Marginal. Já o Bongo e o Malembe ficavam em áreas distantes.

"Mas a gente ia em grupo, em caravana e a pé, quando fossem 18 ou 19 horas. Não havia muitos bandidos como agora e a gente andava normalmente, ia e voltava só lá para as 4, 5 horas da manhã”, diz envaidecida, adiantando que o grupo era de raparigas, porque os rapazes, já conhecidos, encontravam lá. E tudo era feito na normalidade. "Foram bons tempos”, recorda com tristeza no olhar, citando as companheiras de outrora: Irina, Madó, Salomé, e tantas outras, embora entenda que cada tempo é um tempo e a diversidade músico-cultural também se vai mudando.

A tia Minga Wepata confidenciou que até ao momento continua a bailar, "porque os toques fazem bem e aliviam a alma”, mas só nos caldos. "A farra, as discotecas, para a gente agora é caldo. Quando não se tem caldo nem tchipwayendo (entenda-se mega diversão), a gente não dança. Mas em casa eu também gosto de bailar, na companhia das músicas do tio José Augusto, sobretudo aos sábados, no seu programa radiofónico Recordar é Viver, da RNA, a nível local”. 

Reafirmou a vontade de desbundar que ainda prevalece nela, mas, atormentada pela incerteza dos noctívagos agressores, prefere mesmo não mais continuar a deambular. "O medo tomou conta de nós. Agora, tudo está do avesso, tudo está violento. Até de dia, na porta de sua própria casa, você pode ser agredida, quanto mais andar fora de hora, à noite? Eu não! Mesmo num beco da minha casa, nunca mais, antes que não apanhas uma bassula, uma queda desses ‘artistas’”, retorquiu, para acrescentar que o aumento da delinquência contribuiu para a paralisação das discotecas.

A dançatriz com veia humorística diz que é nesse tempo de paz que se devia ter a tranquilidade almejada, mas tudo está ao contrário. "Mesmo estando a andar com o cavalheiro este tem de ter garra, senão os dois são arrumados instantaneamente”, (risadas). E, apontando para o Centro Recreativo Tapamar, nas proximidades do local da entrevista, acrescentou.

"Esse Tapamar já bateu, tal como o Havemos de Voltar. Lá em frente aparece o Dunas, e tem ainda o Etc., o Tosco, o Malembe e o Bongo. Você nem vê a distância ao sair dos bairros Forte Santa Rita e Popular até chegar  lá, principalmente nessa época da quadra festiva e passagem de ano”. E acrescenta: "as nossas mães preparavam roupa brancanova, sapato também novo e caíamos na noite, festejando”.   

Domingas Kapunga  lamenta a descontinuidade no funcionamento das casas nocturnas e sugere que se recriem ou dinamizem as casas de cultura em toda a periferia, para os mais velhos, e não só, recordarem os seus tempos livres da mocidade, com a garantia de um policiamento de proximidade, por forma a evitarem o stress, os pensamentos vãos e as patologias do fórum psicossomático."Ao invés de estarem em casa a remediar-se com o micro aparelho com Bluetooth e seguir as músicas de Sapalo, Mangelengele ou ainda ‘é liamba…’, e só meneando a cabeça”, (risos).

Lançou um repto aos jovens a terem calma, não enveredarem pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas e pelas drogas, mas ir mantendo a tranquilidade necessária, "sem espantar-se ou atrapalhar-se muito com a Cuca”.

"Vá devagar, em câmara lenta, porque o mundo não acaba por aqui, pois gira e está que nem uma bola de cautchú. Ai-ué, senhor jornalista, fez-me lembrar os meus tempos da juventude. Foram bons momentos” (risos).



John Suíça e as lembranças do Tapamar

Jorge Miguel Paulino, vulgo John Suíça, foi segurança (porteiro) do Centro Recreativo e Cultural Tapamar, propriedade do finado José Armando, um mecânico e bate-chapa de reconhecida idoneidade na província, e não só.

John Suíça fez a guarnição no Tapamar durante cinco anos, em companhia dos colegas Boneco, actual professor na instituição escolar marítima Hélder Neto, e outro que não importa citar o nome, agora nas vestes de polícia penitenciário. Suíça disse que o trabalho não era tão duro, bastava dominar o terreno, isto de sexta-feira a sábado, revelando que o Tapamar era um centro recreativo e cultural que conquistava mais pessoas, sobretudo homens, por causa da afluência das damas.

O ingresso era avaliado entre os 25 e os 50 kwanzas, e, para fazer jus à política comercial, John Suíça priorizava a entrada de mulheres, a custo zero, com a finalidade de estas, por sua vez, atraírem mais gente do sexo oposto.

"Todo o indivíduo que precisasse de uma dama tinha que descair para o Tapamar, que já existe desde 1980, porque todas elas acorriam para lá. Desde sempre os jovens foram atrás das moças e isso acontece até aos dias de hoje”, comentou, lembrando que um copo grande de fino era vendido a 25 kwanzas e uma cerveja N’gola a 125.

Assegurou que os menores de idade não tinham acesso às casas nocturnas. E caso entrasse um, por distração dos porteiros, o proprietário era multado pela Fiscalização. Para se ter acesso a um copo de fino era necessário comprar uma refeição, tal como acontecia nos restaurantes ou bares. Sem isso, "era impossível tu saboreares uma bebida sequer”.

Jorge Miguel Paulino nasceu aos 12 de Março de 1974, no Namibe. É pai de 15 filhos. Recorda que no intervalo entre 1994 e 1997 ter assistido várias vezes a brigas por causa de alguém que se aventurava a dançar com a dama de outrem, estando embriagado. "Se apanhasse um soco, defendia-se e o caso era resolvido de imediato, porque a Polícia sempre esteve ao lado da população”.

Comparando a juventude de ontem e a da actualidade, disse notar "muita diferença”, justificando que a de hoje "aparece a dar no duro e facilmente descamba na droga, o que não acontecia com os jovens de então, que primavam por acatar os ensinamentos dos mais velhos, respeitando-os”.

Afirmou ter encontrado menores de 10 anos a consumirem bebida alcoólica e a fazerem uso de canábis sativa, vulgo liamba, sem remorsos, principalmente no mercado 5 de Abril, considerado o maior da cidade, e, quiçá, da província do Namibe.

"Hoje em dia bebe-se muito. Antes a bebida não era dada ou permitida a crianças. Havia um controlo cerrado e quem fosse encontrado a dar ou a atender álcool a um pequenino era apertado: ou pagava a multa ou dava em cadeia. Mas agora as coisas não estão assim, encontramos muitos postos de bebida alcoólica ou fermentada. Em cada beco a criança facilmente consegue bebida alcóolica. E se tentar repreendê-la, hoje em dia, é dikulu grande (problema) que arranjaste e os pais vão contra ti. Que fazer? Limitamo-nos só a olhar”, disse resignado.

Desvendou que hoje um óbito sem bebida não é considerado por jovens e mesmo por alguns adultos. "Assim a delinquência vai aumentando a cada dia que passa. Antigamente havia algumas pancadas, uma bandidagem de leve. Mas era mais entre gangs rivais. Hoje, mano, a coisa não está fácil”, explicou.

Actualmente mecânico/motorista de profissão, John Suíça recuou no tempo para esgrimir o seu posicionamento relativamente à tropa. No seu entender, as rusgas para a tropa punham todo o jovem maior de 18 anos na linha, "pois não deambulava à toa para cometer delitos, era logo rusgado. Uns eram até encontrados nos seus próprios aposentos. Ninguém brincava como agora”.

Na sua óptica, as discotecas ou dancings não funcionam, nos dias que correm, por falta de condições, já que as coisas mudaram. "Cada um, hoje, em sua casa ou onde estiver, consegue organizar a música de sua preferência a seu jeito. A partir daí as casas nocturnas começaram a desaparecer. Se eu quiser dar uma festa, vou alugar um DJ. Naquela altura era impensável conseguir instrumento para dar uma festa”.

John Suíça atira a "toalha” aos empresários ou investidores do ramo do entretenimento, que quase ou nada fazem para a recuperação das casas nocturnas. Antigamente, afirma, os mais velhos lutavam para criarem dancings para recreação ao final de semana, sobretudo à sexta-feira, e passarem a noite com uma companheira.

A seu ver, "será impossível ressurgir alguém com a ideia de implantar novas casas nocturnas”, por entender que o dinheiro está difícil para todos, salvo se aparecer um patrocinador identificado com a causa. "O sonho de regressar aos tempos áureos todo o mundo tem, mas não será igual, o que passou, passou mesmo”.

Embora hoje pareça que as coisas estão mais fáceis de adquirir, John Suíça diz preferir o passado ao presente, porque "era melhor”. Aconselha os jovens a trabalharem com os mais velhos para tentarem mudar de comportamento."Beber ou drogar-se não leva a lado algum e por fim a Polícia cumpre o seu papel, acabando a pessoa por ser depositada na cadeia. E quando sai delá, a pessoa não consegue fazer mais nada, porque o tempo e a idade passaram”.

Para Jorge Miguel Paulino, a razão da proliferação da criminalidade juvenil na cidade de Moçâmedes e arredores, além das drogas, consiste em imitar os filmes a partir dos vídeos e outros dispositivos. Antigamente, argumenta, assistia-se aos filmes no Cine Impala ou no Cine Namibe, mas com a idade apropriada. "Agora tem filmes em qualquer canto e, com as antenas parabólicas, eles vão imitando nas televisões e acabam por pôr aquilo em prática na rua, matando os outros, sem saber que aquilo é uma montagem apenas e não toda uma verdade”, salienta, adiantando que"os nossos filhos acham que se forem ‘reis’ de um determinado quarteirão já são alguém na sociedade e esquecem formar-se para os desafios do futuro”.



Cheique Pop Dancing, o preferido pela elite

Outra discoteca que em tempos de antanho marcou os apreciadores da música e da dança em Moçâmedes, e não só, é a Cheique Pop Dancing, nas proximidades da Empresa Portuária do Namibe. Era o sítio preferido de muitos jovens, à semelhança de Arlete Simão, uma namibense que gosta de desfrutar da vida dançando em lugares similares. Arlete contou que lá a pista de dança e o serviço de restauração e bar eram subterrâneos. "Era bonito e dava gosto sempre lá estar”.

O seu proprietário, Francisco Pedro João, agora algures em Luanda, assinalou que Cheique Pop tinha instalações rústicas, das primeiras construções de 1937. Actualmente, "com uma inovação espectacular”, aguarda a sua reabertura para receber, além dos habituais dançantes, também os novos turistas. "A boîte Cheique Pop Dancing movimentou a província, em particular a cidade de Moçâmedes, concretamente de 1982 até bem perto de 1990, com diversão nocturna para os turistas quer nacionais quer estrangeiros, bem como os marinheiros que desembarcavam dos barcos comerciais e escolhiam para diversão este renomado empreendimento”, escreveu Francisco Pedro João no WhatsApp.

Francisco Pedro João acrescentou que recebia, igualmente, delegações de alto nível do Governo em missão de serviço, que escalavam o local "para um relaxe, na companhia dos governantes locais”. "Foram momentos inesquecíveis com os citadinos do Lubango a optarem pelas praias lindas de Moçâmedes. Eles caíam nas nossas instalações para tirarem um tempo livre”, recorda.

As instalações eram verdadeiramente impressionantes.Do exterior não se dava importância às mesmas, já que eram típicas da década de 1930.No interior era um verdadeiro lugar de lazer, com cor e luz agradáveis, realça o senhorio Tio Pedro, como é carinhosamente tratado pelos mais próximos, sublinhando que o Cheique Pop Dancing iniciou o movimento de trazer para o Namibe grupos musicais e artistas individuais da capital do país. Mencionou Os Jovens do Prenda, Os Kiezos, Semba Tropical, Pedrito, Mamborró, Prado Paim, António Paulino, Robertinho e Carlos Burity, dentre outros.     

O Planetário do falecido Walter, no casco urbano, a discoteca Portugal (no extinto Bairro da Nação Tchindukutu), o Bambi (Bairro Valódia ou Platô) e o Tosco, de Victor Kambombwela - exímio agente revendedor do gás de cozinha na cidade -, a Penumbra, no município da Bibala, e o Octógono, a Discoteca Arroto, os Centros Recreativos Ruína, Kurima, Alexandrense, o Centro Social João Firmino Tchinanga e Galeão-Centro Recreativo do então Independente do Tômbwa, ambos no município com o mesmo nome, também foram os locais frequentados por dançantes da época das respectivas localidades.



Farra nas aldeias de antigamente

O mais velho Bernardo Augusto, popularmente conhecido por Singa Vimbanda, garante que em Moçâmedes "mesmo no tempo colonial os jovens também se divertiam”.

Conta que naquela época a juventude passava primeiramente pela educação dos jangos. "Havia kimbos no tempo colonial que não tinham escolas para formar a juventude. Mas a educação que eu vi de perto, praticamente, os jovens antes de irem à escola para estudar, já vinham com uma instrução diferente”.

Sustenta que havia muito respeito entre as pessoas e o ambiente, em termos de diversão, "era mais aplicado” no tempo  seco, porque durante toda a época chuvosa "a juventude ia no contrato trabalhar nas mãos dos brancos”.

Depois de um ano o jovem regressava ao seu kimbo ou aldeia com dinheiro e a intenção única de comprar bois, a canga, a corrente e a charrua para poder abrir os campos agrícolas.No seu dizer, "em Angola (…) os povos sobreviviam da agricultura e não dependiam do emprego no Estado”.

"Num tempo determinado, os jovens acumulavam dinheiro e depois alugavam, num fim-de-semana, uma farra,consubstanciada num gira-disco. Numa sexta-feira, por exemplo, depois de caucionar o salão onde iriam dançar, recebiam ou emprestavam o aparelho e passavam algum tempo a limpar os discos. Já no sábado, quando fossem 20 horas, eles abriam o cenário e cada cavalheiro tinha que trazer a sua dama ou a companheira de que gostasse, mas com base no respeito”, refere.

Sublinha que eram noites dançantes que limitavam a entrada a menores de idade e também a idosos, "para não atrapalhar a rapaziada, por forma a manter o sigilo no silêncio”.Apagavam o candeeiro "e a partir daí era só disputa, pois com a companheira, no cantinho, ‘dançava-se’ como se quisesse, porque na escuridão já ninguém vê o outro”, (risos).

Noutras ocasiões, pagava-se o ingresso no valor de cinco escudos, quem não tivesse perdia e a companheira era engatada por outras pessoas. Isto obrigava a que, durante a semana, o jovem fizesse algum trabalho para adquirir algum dinheiro.

Questionado se havia motins, Singa Vimbanda fez questão de aclarar que alguns, embriagados, insultavam outros "mas a confusão no dancing não durava além de 30 minutos, cessava logo. Era evitada para não estragar o ambiente dos demais. E se o indivíduo continuasse contumaz e o caso chegasse ao Soba, aí era já a maka grande na sanzala, porque o Sobado antigamente metia medo nos kimbos. Polícia aí era somente o soba”.

"Bastava que alguém fosse queixar-se ao soba, pronto. O provocador do distúrbio levava uma carga de surra que bastasse, para depois pagar uma multa que nem imaginava na sua vida. A partir daí o indivíduo dizia ‘me fica’ pela primeira e última vez, afinal com a confusão não se resolve nada”.

Singa Vimbanda recorda que nas sanzalas o aparelho moderno de som que surgiu, em primeira instância, foi o gramofone, trazido pelos jovens que vinham da África do Sul, juntamente com outros bens essenciais, depois do termo do contrato. Mas antes disso o bulumbumba, um instrumento acústico tradicional, em formato de uma azagaia, acoplado a uma meia cabaça e ligado por um fio, é que os mais velhos tocavam. "Seguiu-se o batuque com apito, que contagiava a rapaziada da aldeia”, conta o velho Singa, para surgir então o gira-disco 504, e, por fim, o pequeno gira-disco com uma coluna de 12 bandas, isto já no ano de 1974.

Aparição dasungura

No Bairro dos Eucaliptos, que o acolheu aquando da sua chegada ao Namibe, concretamente em 1987, Singa Vimbanda bailava mais a sungura, que disse ter surgido "em 1972 com os movimentos da guerra de libertação nacional, mormente no Norte do país, onde inicialmente já se ouvia um zunzum sobre a dispersão do colono português”.

Afirma que "no tempo de guerra o ambiente era razoável e o partido único organizava muito mais e dançava-se muito no bar do Pinheiro, onde com 150 kwanzas entrava-se para comer e beber, uma vez que a bandidagem era a contar nos dedos”.

E tudo corria no primado da educação ancestral e não como no tempo actual: "como eu vejo, o namoro é mesmo na rua, em paredes e não sei quanto mais por aí”.

Comparando os tempos, afiança que os dias de hoje são "terríveis”, porque "vale a pena não fugir ao leão da selva do que a pessoa, pois neste tempo a geração está mais dura e amarga como a kwanana”- um tubérculo usado para tratamento tradicional.

Disse ter assistido crianças com idades de 10, 11, 12 e 13 anos a usarem armas brancas como chaves de fenda, facas, catanas, etc., etc. "E aonde vão farrar? Onde há tempo de dizer que hoje vamos à discoteca x ou y bailar até amanhecer? Vão agredir aquilo”, diz Singa Vimbanda, dando o exemplo recente de um tumulto que aconteceu no seu bairro, envolvendo meliantes e polícias, com um final dramático.

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