Em diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
O Lubango faz cem anos. Cem anos de tradições e variadas culturas que incluem nómadas e as mulheres mumuílas com os seios mais lindos do mundo que não vêm no guiness por causa dos puritanos calcinhas que as obrigam a colocar soutien, bandidagem que quer amputar a tradição inofensiva de forma a que elas agora para mostrarem os seios ou deixarem-se fotografar cobram…foram obrigadas a renderem sua beleza à economia de mercado.
Óbvio que nunca passaram modelos nem foram candidatas a Miss Angola… a conversa é outra do escândalo de terem levado o missismo à instância cultural… do Comité Miss Angola.
Sá da Bandeira, depois Lubango, sempre foi um centro de clima ameno, gado e legumes e ainda água da serra. E o Lubango é o boi assado à kuaniama nas festas da Umpata, lá na estação agrária, e a fuba de massango preventivo e curativo contra os diabetes… e a loja de conveniência da Chibia!
Agora, deslumbro-me com muitas notícias boas. E, de guloso, lambão pecador, fico de água na boca com o chouricinho das Marias do Bairro Bula Matadi. Maria da Conceição e Maria Albertina. Passaram sete anos que começaram no chouriço caseiro de apenas seis centímetros, daí o chouricinho. As manas foram crescendo na produção na variedade do chouriço e outros produtos derivados de cabrito ou vaca. Não me esquece que no Namibe se fazia chouriço de peixe.
Os enchidos foram trazidos pelos colonos portugueses vindos da madeira, há quem fale nos boeers mas eu descarto porque eles faziam bem carne seca que eu ainda hoje admiro.
Minhas manas Marias. Aprendi em miúdo a ajudar no porco. Só nunca quis ver matar. Depois era limpar com água quente e raspar ou com rolos de capim seco e raspar. Era a parte chata e tinha que ficar branquinho. Depois, pendurava-se no estendal da roupa, uma panela por baixo do focinho para aproveitar o sangue enquanto meu pai, sabedor daquela anatomia, abria o porco de alto a baixo, miudezas, rins e fígado, tripas para uma bacia e depois serem lavadas, tiradas as gorduras pois chouriços e morcelas iam ser enchidos nessas tripas, não havia esses rolos de tripas de hoje.
Amigas, chato era cortar toucinho para torresmos e mexer o panelão a ferver e a espirrar banha quente para a minha cara. As nossas vicanguas ficavam e amoleciam na caixa com banha que conservava os alimentos. Só muito mais tarde, em Cuba e no Brasil, aprendi que quando o torresmo está pronto, deixa-se arrefecer e depois, deitam-se, um por um, em óleo a ferver, até fazerem borbulha e ficarem crocantes. Em Surucapa, estava num SPA de rigor, pesavam-nos antes de sair e no regresso para saberem se a gente fugira às dietas. Mas nesse dia foi de violação. O torresminho crocante com o feijão tropeiro comido com colher.
Para o chouriço, pisávamos alho, colorau, folha de louro e vinho. Os pedaços de carne ficavam em vinha de alhos que assim se chamava.
Matar um porco dava chatice mas era bonito. E por isso enchei o coração de alegria por ver estas irmãs Maria a chouriçar até qualquer dia terem uma salsicharia.
Enquanto isso não acontece, metam-se num avião, ficam hospedadas aqui em casa. Vou arranjar um bom porco na chitaca dos Varelas, miúdos que eu vi crescer e herdaram as virtudes do pai pelo amor à terra, à agricultura, galinhas, patos, cabritos, bois e porcos.
Vamos fazer uma matança espectacular com os diversos sabores da vossa competência. Tragam fuba de massango. Olhem que já estou baralhado, é de massango ou massambala?
Mas esse Lubango, quando puseram lá o Liceu passou a cidade académica, usavam capa e batinha igual à de Coimbra em Portugal e aprendia-se até ao sétimo ano. E havia um clube, a Académica da Huíla, à semelhança da Académica de Coimbra. Tinha uma faculdade de letras.
Mas o Lubango tinha o encanto do complexo da Senhora do Monte, com muita água, lago, escadarias e uma infinitude de flores. Coisas boas que os colonos fizeram, obviamente com a malta a abrir estradas. Quem vai para o Namibe pelas curvas da Leba, ao longo da montanha tem a impressão de que a estrada sempre existiu.
E o museu estava e deve estar organizado. No Lubango, as pessoa cuidam das coisas como se fossem sagradas.
Manas do chouricinho. Apanhem um avião – se ainda não têm o vosso pessoa O AVIÃO DO CHOURIÇO – e venham até cá. Vou esperá-las no aeroporto com pompa e circunstância.
Já estou morrendo de saudade. Avisem só. Caté!
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