Diz-se que constitui um gesto de fraqueza o exercício de se queixar aos entes e e organizações estrangeiros sobre os problemas da nossa terra, para depois receber como resposta a exortação óbvia segundo a qual “as soluções devem ser encontradas entre vós mesmos”, da mesma maneira como as sucessivas iniciativas externas para acabar com a guerra se comprovaram ineficazes.
“Não se esqueça que o nosso bom humor de hoje pode ser determinante para permanecermos e desafiarmos o dia de amanhã”
A palavra humor surgiu na medicina humoral dos antigos gregos. Naqueles tempos, o termo humor representava qualquer um dos quadros fluídos corporais (ou humores), sangue fleuma, bílis amarelo e bílis negra - que se consideravam ser responsáveis por regular a saúde física e emocional humana.
Todavia, falar de humor parece-nos não ser tão simples, sobretudo pelas encenações que decorrem disso. Os seus estudos mostram, por exemplo, o humor como virtude, como ferramenta organizacional no ambiente de trabalho e, principalmente, como uma reacção fisiológica, que arregimenta a auto-estima.
A dimensão social do humor torna-nos socialmente mais atraentes, sobretudo pelo objectivo expressivo, e coloca-nos num estado de espírito muitas vezes intrínsecos das relações interpessoais e mesmo institucionais. Porque também funciona para evocar aquilo que não conseguiria ser dito doutra forma. E aparecer em forma crítica, mais delicada (suave) ou no modo de apontar subtilmente erros.
Por conseguinte, o humor demonstra-nos estar associado à natureza psicológica e social, reafirmando até mesmo a verdade daquele velho ditado: "Se você quiser demostrar uma questão, conte uma história, mas levantar várias questões e cruzar narrativas, requer o humor”.
A sua importância para a sociedade - Segundo Barres: o humor é uma necessidade porque possibilita reduzir a dor da alma, mesmo que, por breve momento, também é um instrumento de auto-preservação, de comunicação e de criação de vínculos.
Obviamente que existem graus distintos de problemas ou preocupações marcadamente adversas, como a separação conjugal unilateral, desemprego, consumo excessivo de álcool, violência moral, fuga à paternidade, solidão involuntária, os desastres ambientais, depressão, a violência patrimonial, as mudanças climáticas, adultérios, a inflação, entre outros).
Estes condicionalismos, tendencialmente deixam-nos estressados, desorientados ou mesmo desesperados, face aos desencantos do mundo globalizado. Mas não parece existir, na verdade, um tipo específico do tema "humorístico”. Em princípio tudo pode tornar-se objecto de humor. É um facto que nos rimos tanto frívolo quanto do grave, do profano, como do sagrado, da felicidade como da desdita; do amor, da sociedade, dos outros, de nós mesmos, enfim, rimos da vida e dos sonhos, mas também, conseguimos rir destes casos e de outras baforadas.
Um testemunho famoso sobre o humor como forma de auto-preservação se registou num dos campos de concentração entre 1942/1945, subscrito pelo médico neurologista e psiquiátrico Victor Emil Franque, num período que havia perdido o pai, a mãe e a esposa. Foi com esta essencial ferramenta (humor) que lidou com aquela cruel realidade.
Isto é, habilitou-se com dotes humorísticos, cuja postura irradiou nas circunstâncias os demais, amenizaram com as adversidades da vida e se notabilizaram de forma cómica até que transitaram para a ressocialização.
Assim, sucede no referido espaço, como no ambiente hospitalar e outros. Por isso, a simpatia e atenção de alguns profissionais não são suficientes às eventuais baixas de estima (pacientes, reclusos e outros em condições homólogas). É justamente nestes momentos que qualquer manifestação de amor, carinho e atenção fazem a diferença, principalmente se acompanhados de alegria e bom humor, ou seja pela turma dos humoristas.
Segundo o radialista e humorista Pablo Wenceslau Brás, "é tão gratificante que pode levar alegrias às pessoas que estão tristes e aflitas, que perderam os seus entes queridos ou estão em causa. Acho que isto não tem preço. Ainda bem que a gente tem humor para dar uma cor a este momento tão preto e branco, com a leveza do humor é possível transformar o mundo”.
Nas últimas décadas, é notável a expansão destes operadores da arte (humoristas) e que julgamos ser oportuno potenciá-los, na capacidade de intervenção em sessões in(formais), cuja partilha arregimentam o bem-estar.
Isto sinaliza o desempenho destes no mosaico cultural. Por conseguinte, será necessário revitalizar ou construir as salas de espectáculos ou espaços adaptáveis para a recriação nos municípios, distritos e comunas. Este propósito será radiante para os entusiastas que deixariam de estar exclusivamente limitados com as exibições televisivas (TV), quer interna, quer externas.
De acordo com Fernando Nardo "o humor está na essência da rotina diária e o olhar atento do humorista é fundamental para transformar as situações e espalhar sorrisos. Com o acesso e o alcance da TV e da rádio, o humor rompe barreiras e tem sido um poderoso aliado para levar alegrias às pessoas, em tempos difíceis”.
Todavia, o senso do humor remete-nos na qualidade de bem-disposto e evita-nos desequilibrar com pouca fervura e saber ver com destreza e integridade o lado engraçado e menos dramático das situações difíceis. A cantinflagem faz bem à saúde física e mental, em face do turbilhão do quotidiano.
* Psicólogo
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