Diz-se que constitui um gesto de fraqueza o exercício de se queixar aos entes e e organizações estrangeiros sobre os problemas da nossa terra, para depois receber como resposta a exortação óbvia segundo a qual “as soluções devem ser encontradas entre vós mesmos”, da mesma maneira como as sucessivas iniciativas externas para acabar com a guerra se comprovaram ineficazes.
O encontro entre os líderes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, no passado dia 17 do corrente mês em Pequim, pode ser considerado o mais importante acontecimento do século 21, até ao momento.
O mesmo constitui um recado directo e claro ao complexo EUA-NATO (deixo de fora, intencionalmente, a União Europeia, transformada, pela mediocridade dos seus líderes actuais, em simples capacho do referido complexo): não pensem na ordem unipolar "baseada em regras” ("regras” que nem o Ocidente Alargado cumpre, quando não lhe convém, tal como o demonstram os atuais acontecimentos na Palestina).
Que, depois da queda do Muro de Berlim e da dissolução do antigo mundo soviético, o sonho dos EUA é tornar-se a única potência à face da Terra, está mais do que claro. Por isso, e preocupado com as crescentes transformações ocorridas nas últimas décadas na China, "ameaçando” torná-la a principal potência mundial, tal como já o foi no passado, o Império americano definiu esse país como o seu principal inimigo.
Os sinais estão aí - e não são de agora -, podendo ser resumidos com a troca do Atlântico pelo Pacífico, em termos de prioridade geo-estratégica. Não foi preciso sequer mudar o nome da NATO para justificar as movimentações das suas unidades tão longe do Atlântico. Todos os impérios gostam de matar a cobra e mostrar o pau.
As provocações à Rússia, desde o incumprimento da palavra dada segundo a qual a NATO não seria alargada ao leste europeu até ao golpe de estado de 2014 em Kiev, que levaram Putin a invadir a Ucrânia, fazem parte de uma estratégia global, cujo alvo último é a China.
Trata-se, em resumo, de impedir que a China, em caso de um ataque militar ocidental, aberto ou dissimulado, possa contar com o apoio da Rússia, que continua a ser uma potência nesse domínio. Só os ingénuos patológicos não veem que a guerra na Ucrânia, provocada, em última instância, pelo complexo EUA-NATO, faz parte dessa estratégia.
Lembremo-nos das declarações do secretário da Defesa americano, general Austin Lloyd, no início do conflito.
Aparentemente, contudo, as coisas não estão a correr como planeado em Washington e executado a partir de Bruxelas. A hipótese de uma vitória militar russa na Ucrânia é cada vez mais provável. É claro que o complexo EUA-NATO vai tratar de impedi-la pelo menos até às eleições americanas, para não prejudicar a candidatura de Joe Biden, mas depois logo se verá.
É nesse quadro que tem de ser lida a recente cimeira China-Rússia e os vários recados transmitidos pelos países em questão, cujos destinatários não são apenas as potências ocidentais, mas todas as nações do mundo.
O documento conjunto sino-russo tem quase oito mil palavras. Destacarei apenas duas das suas passagens, que têm a ver explicitamente com as relações internacionais e a ordem mundial.
Na primeira delas, Xi Jinping e Putin condenam expressamente os países que tentam impôr aos demais uma postura hegemónica, visando impor uma ordem mundial unipolar; a China e a Rússia acusam tais países de pretenderem subverter e substituir a ordem internacional baseada no direito internacional por uma assim chamada "ordem baseada em regras” (quais?, perguntemos; e quem as define?), passando por cima da Carta das Nações Unidas.
Na outra passagem a destacar, as duas partes pedem a todos os países e organizações internacionais que "parem de adoptar políticas confrontacionais e de interferir nos assuntos internos de outros países, minando a arquitetura de segurança existente”.
Como africano, entendo que o mérito principal desta tomada de posição conjunta sino-russa é não só posicionar-se e ajudar a reduzir o papel hegemónico dos Estados Unidos, mas também resgatar a necessidade de valorizar o papel das Nações Unidas, que, nos últimos tempos, tem sido deliberadamente ignorado pelo complexo EUA-NATO e seus aliados. Mas não sou ingénuo: a China e a Rússia possuem igualmente visões e ambições expansionistas.
Sendo isso uma verdade factual, os ocidentalistas ingénuos (ou furiosos) não podem, seja como for, negar igualmente outro facto: a China não tem recorrido, pelo menos até agora, a quaisquer intervenções militares para tentar impor os seus interesses e, quanto à Rússia (estou a falar da Rússia e não da URSS), as suas intervenções têm-se limitado a alguns estados vizinhos, para responder àquilo que Moscovo considera (diga-se: em geral com razão) serem ameaças existenciais; já o rol de intervenções militares e guerras levadas a cabo e/ou provocadas em todo o mundo pelo Império americano não cabem numa crónica de jornal.
Uma nota final: em que pese toda a importância da recente cimeira China-Rússia no imprescindível debate sobre a natureza e configuração da ordem mundial, o tema não se esgota na posição dessas duas potências e no seu confronto com o Ocidente Alargado. As restantes regiões do mundo têm, necessariamente, uma palavra a dizer. Abordarei isso no próximo artigo.
*Jornalista e Escritor
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