Diz-se que constitui um gesto de fraqueza o exercício de se queixar aos entes e e organizações estrangeiros sobre os problemas da nossa terra, para depois receber como resposta a exortação óbvia segundo a qual “as soluções devem ser encontradas entre vós mesmos”, da mesma maneira como as sucessivas iniciativas externas para acabar com a guerra se comprovaram ineficazes.
Li no semanário português Expresso: Marcelo Rebelo de Sousa está preocupado com o recente acordo militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia e disse (cito de cor) que quer “muito” conhecê-lo.
Aproveitando a deixa, comentou, em tom lamuriento, que os países africanos de língua portuguesa têm tido posições diferentes nas reuniões da ONU sobre a guerra na Ucrânia.
Não posso deixar de evocar o "compromisso” do anterior presidente da Assembleia da República portuguesa, Santos Silva, no início dessa guerra (melhor, no reinício, pois ela já vem, pelo menos, desde 2014), quando prometeu a Zelensky usar da influência lusitana junto desses países para que os mesmos condenassem a invasão russa.
Ao que parece, o saudosismo colonial português une direitistas e "neoliberais de esquerda”.Não discutirei, obviamente, o acordo santomense-russo, por desconhecer o seu conteúdo.
Como defensor do pan-africanismo e do não-alinhamento africano (sim, sei que tais valores estão pelas ruas da amargura, pelo menos entre a maioria das actuais lideranças políticas do nosso continente, mas deixem-me insistir neles), sou mesmo, em princípio, contrário a acordos dessa natureza seja com quem for, a não ser em contextos especiais, como guerras, o que não parece ser o caso de São Tomé e Príncipe.
Mas há algo que não podemos deixar de discutir: a persistência da mentalidade neocolonial portuguesa, europeia e ocidental em geral.
Essa realidade não pode ser negada sequer pelos antigos colonizados que sonham em se converter na sexta quina da bandeira lusitana ou por aqueles que confundem o desencanto com a maioria das elites no poder em África, assim como a legitimidade e a necessidade de criticá-las, com a negação de que o neocolonialismo continua a ser um dos fatores do nosso atraso comum. Ambas as realidades são verdadeiras e – vou dizê-lo – coexistem. A cumplicidade, para não dizer aliança, entre as forças neocoloniais e as elites no poder na maioria das nações africanas é um facto irrefutável, que as primeiras mascaram com as suas críticas bem pensantes, nomeadamente através da mídia e da academia, às "autocracias africanas corruptas”, e as segundas com as suas lamúrias por causa das "ingerências do Ocidente” e inflamados discursos "identitários”.
Por vezes, quando as lideranças subalternas se tornam incómodas e ameaçam expor essa cumplicidade, o democrático Ocidente não hesita em recorrer à "queima de arquivo”, como fez a França com o antigo líder líbio, Muammar Kadhafi. Ultimamente, parecem estar a emergir em África novas lideranças dispostas a quebrar esse autêntico círculo vicioso. Algumas delas têm chegado ao poder pela força e outras pelo voto.
Em relação às primeiras, recuso-me a alinhar incondicionalmente na crítica abstrata ao modo como elas têm chegado ao poder, pois a História está cheia de exemplos de mudanças positivas alcançadas pela força, quando os sistemas vedam, igualmente pelo uso da força, qualquer possibilidade de mudança interna (portanto, é fundamental analisar caso a caso e não generalizar); só para dar um exemplo, o 25 de Abril, cujo cinquentenário se comemora este ano, começou por ser um golpe de estado militar, embora sem sangue (todo o sangue já havia sido vertido em África).
Quanto às segundas, é de realçar o exemplo do Senegal, um país onde já houve quatro transições de poder sem qualquer comoção nacional.
Para terminar, acrescente-se outro facto: até agora, a cooperação com o Ocidente não tem contribuído para o real desenvolvimento de África, o que, como se conclui do que que foi escrito acima, se deve ao mesmo tempo às elites africanas que têm governado até agora (nas quais me incluo, com a dose de autocrítica que me cabe) e à persistência da mentalidade neocolonial do Ocidente em geral, que tem sido o principal parceiro do continente; por isso, algumas das novas lideranças que começam agora a surgir têm buscado outras parcerias, como a China ou a Rússia (é nesse quadro que se deve inserir, talvez, o acordo militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia).
O futuro dirá qual o resultado dessa aparente inflexão estratégica. No caso do referido acordo, o presidente Marcelo de Sousa pode – acredito eu – ficar tranquilo: os russos não partirão de São Tomé e Príncipe para atacar as costas do Algarve.
Os turistas ingleses continuarão a afluir sem qualquer risco àquela simpática região.
*Jornalista e Escritor
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