Reportagem

Município do Negage aguarda por potenciais investidores

Leonel Kassana

Jornalista

Considerado como um dos principais pulmões económicos da província do Uíge, o município do Negage, está aberto a todo tipo de investimento, tirando partido do seu potencial agrícola, favorecido por um clima húmido, com quedas abundantes de chuvas.

30/06/2023  Última atualização 08H50
Várias unidades industriais já estão em funcionamento no muncípio do Negage, que tem muitos espaços disponíveis © Fotografia por: DR

Chuvas que dão garantia da fertilidade dos solos e, logo, o desenvolvimento, em alta escala, de culturas como o milho, mandioca, feijão, batata doce e rena, banana, café, hortofrutícolas e outros.

 No Negage, há terras aráveis a perderem de vista, para as quais autoridades querem atrair todo o tipo de capital, algo que é feito, por exemplo, por via da exibição das potencialidades da região, como aconteceu, recentemente, na feira agropecuária na cidade do Uíge, realizada em paralelo com o Conselho de Governação Local, orientada pelo Presidente da República, João Lourenço.

O mesmo acontece noutros fóruns, em que o município participa, no seguimento de uma estratégia mais "aguerrida", aproveita  para "vender" a imagem de uma região que tem tudo para ser uma das principais referências agrícolas de Angola.

Ao longo dos trinta e sete quilómetros, que separam a cidade do Uíge do Negage, são visíveis várias propriedades agrícolas familiares e muitos produtos do campo, a serem a vendidos em pequenos mercados, demonstrativo da auto-suficiência alimentar e segurança nutricional das comunidades. Um detalhe de reportagem e que deve ser assinalado, a sinalizar a abundância de alimentos no Negage: nas ruas, em reabilitação, não são visíveis imagens de gente, de mão estendida, a pedir esmola aos automobilistas e trausentes, tal é o empenho das pessoas na agricultura e pesca.

Aliás, é na agricultura que repousa toda a economia do município, com muitas cooperativas, associações e produtores individuais, a receberem assistência de técnicos ao serviço da EDA (Estação do Desenvolvimento Agrário).

 

Números que fazem o Negage                    

Os números disponibilizados ao Jornal de Angola pela  Administração Municipal do Negage, dizem bem do "peso" do sector agrário. Nesta altura, estão catalogados 10 cooperativas, 25 associações de camponeses e 1.027 fazendas familiares, que chamam a si a produção de cereais, leguminosos, tubérculos, café e outros produtos, disponíveis no mercado.

O Negage tem, também, a importância de "domiciliar" aquela que é considerada a maior unidade de produção de soja no Norte do país. Esta-se a aqui a falar de fazenda agropecuária conhecida como "Barragem do Maço", além de carne, ovos, milho e  hortaliças diversas.

Às cooperativas, associações de camponeses, famílias organizadas, ex-militares e famílias vulneráveis foram distribuídos diversos imput's agrícolas, adquiridos pela Administração, num incentivo que permite aumentar substancialmente os níveis de produção em todas as fileiras podutivas.

Delfina Henrique é a administradora municipal do Negage. No posto há um ano e oito meses, solícita, recebeu-nos, num sábado, no jango do seu vasto Palácio, sem muitos formalismos, até porque, disse-nos, acabava de chegar de uma actividade de campo.

A passagem da equipa de reportagem do Jornal de Angola pelo  Negage havia sido combinada, ainda na cidade do Uíge, na feira agro-pecuária.

"A administração preparou mais de 300 hectares de terras aráveis, que foram distribuídos a mais de  60 famílias vulneráveis e ex-militares, para combater a fome nesta franja da população", explicou Delfina Henrique, indicando que esse apoio enquadra-se no PLAFF.

Ela  prevê dias melhores para a agricultura, com a aquisição do que é chamado "factores de produção", como tractores e suas alfaias, para o  apoio aos camponeses na preparação dos terrenos agrícolas, bem com fertilizantes.

A administradora destaca, também, como factor de produção, o melhoramento das vias de comunicação, como a do Gozolo, para viabilizar o escoamento dos bens alimentares em direcção aos centros de consumo. No Negage, como em todos os municípios do Uíge, o elevado estado de degradação das vias de acesso impacta negativamente na produção, com muitos bens a deteriorarem-se nos campos.

Este é o quadrado com que as autoridades estão a lidar, na hora de definir prioridades, das muitas com que são confrontados. Perguntámos a Delfina Henrique sobre a estratégia para auxiliar agricultores familiares no escoamento da produção. "A administração ajuda na transportação dos produtos agrícolas aqui e, depois, há gente a levar até a capital da província e outros pontos do país", respondeu. Reconhecendo que as dificuldades de escoamento são transversais a todos os municípios, a administradora é mais específica, ao explicar que estão disponíveis alguns meios de transportes. "No Negage, existem duas viaturas", sublinha.

Segundo explicações da administradora, no seguimento do programa de combate à pobreza, "alguns quilómetros "já foram intervencionados. "Vamos tocar naqueles que estão numa situação precária, onde vamos colocar algumas máquinas e, no PIIM, julgo que vamos resolver o problema da ligação com comunas", sublinha, tranquilizando às populações.

PIIM promove qualidade de vida

No Negage, as autoridades esmeraram-se a mostrar o que está a ser feito com os fundos do PIIM, um dos principais instrumentos para a melhoria do nível de vida das populações.

O Plano Integrado de Intervenção nos Municípios, contempla a construção de uma escola de 12 salas de aulas no Cacua Grande.  Outras duas, com sete salas cada, estão em execução no bairro Cassamba e aldeia de Zanda.

 Já concluídas, essas infra-estruturas apenas aguardam  pelo seu apetrechamento, enquanto a primeira tem uma execução física de mais de 80 por cento.

Os 10 quilómetros de ruas da cidade, que passaram por obras de resselagem, como se diz noutro espaço desta peça, bem como um kit de saneamento básico, também fazem parte das acções do PIIM. Na sede municipal, obras de infra-estruturas administrativa e autárquica e Esquadra Integrada para serviços estão, igualmente em andamento.

Café, bandeira do Negage

Como em toda o território do Uíge, no Negage o café é descrito,  como a "bandeira" do município, tal a quantidade de produtores do chamado "bago vermelho" em praticamente todas as aldeias, a merecer, por isso, um capitulo à parte nessa reportagem do Jornal de Angola.

"Existem muitas fazendas de café em todo o território do município do Negage. Digo mesmo que não há uma única comunidade que não tenha uma propriedade de café dos populares", refere a administradora, acrescentando que houve uma altura em que produção estava a registar um acentuado decréscimo na região.

"Estamos a trabalhar com os nossos cafeicultores, apoiando-os com imputes, para conseguirem desbravar mais espaços, como acontece com outros produtores familiares, que recebem sementes", palavras de Delfina Henrique.

 

Aposta no repovoamento animal

No Negage, um município  que ocupa grande parte do chamado Planalto de Camabatela, conhecido pela suas condições excepcionais, para a criação de gado, no triângulo de ligação entre as províncias do Uíge, Malanje e Cuanza-Norte, está em marcha um programa de repovoamento animal,  havendo já o registo de mais 35 criadores. Juntos, totalizam mais 5.986 animais, entre bovinos, caprinos, suínos, ovinos e aves diversas.

O segmento da pecuária é, pois, outra área para a qual as autoridades do Negage "piscam o olho" aos potenciais investidores. "Negage é Camabatela, os animais não têm dificuldades de forragem, pois temo-lo em grandes quantidades", sublinha a administradora, indicando que com o gado proveniente do Sul de Angola e Congo Democrático se pode repovoar o município.

Delfina Henrique acrescenta com o efectivo "muito bem" às condições climatéricas do Negage", o que pode abrir caminho a mais disponibilidade de carne de origem animal na província do Uíge e arredores.

Detentor de recursos hídricos, o quanto basta, com rios grandes e pequenos de curso permanente, com o Lulovo, Luanga,  o Dange o Luquixe, lagoas, o Negage não, poderia deixar de fora um sector considerado importante na cadeia alimentar da população, como a piscicultura.

Algumas lagoas, como nos foi explicado, são artificiais, resultantes de represas em antigas explorações pecuárias e, por isso, adequadas para a prática de piscicultura, sendo chamadas de terra entre-os-rios. Nesta altura, existem 106 criadores de peixe com  307 tanques, que têm apoio estatal, como confirma Delfina Henrique, que fala na aquisição de 50 sacos de ração.

A vez da indústria e comércio

Na  vila do Negage há como que uma lufada de ar fresco, em linha com a suas potencialidades e localização geográfica, o suficiente para a sua eleição para a montagem do Pólo Industrial da Província do Uíge. Algumas unidades, como a fábrica de papel acederam ao convite para se implantarem e outras estão em via de o fazer.

O Pólo industrial já está loteado e quem lá se implantar vai aproveitar, por assim dizer, todas as facilidades, como  a água, energia, vias de acesso, disponibilidade de matéria-prima e um mercado vibrante.

Paralelamente ao Pólo Industrial, já funcionam no Negage, as fábricas de água Cesse, Girangola (colchões), tijolos, duas de blocos, enquanto uma cerâmica, para loiça sanitária e outros materiais de construção deve abrir nos próximos temos, a crer no  optimismo das autoridades. E isso é algo que dá, definitivamente, ao Negage uma áurea de cidade industrial.

A administradora Delfina Henrique, reitera o convite aos potenciais investidores, de "todas as latitudes", para virem se instalar no Pólo industrial e desenvolverem o município. "Temos espaço suficiente para quem queira investir, aqui no Negage", sublinha.

Segunda cidade da Uíge, o Negage apresenta serviços de comércio e restauração, abaixo da média, claro está com algumas excepções, que omitimos propositadamente, não vá passar a publicidade. Ao todo, estão disponíveis 123 estabelecimentos comerciais, em funcionamento precário e geridos maioritariamente por oestes africanos. Há mesmo um clamor pela abertura de um supermercado.

Quem chega ao Negage, qual refúgio das gentes da sede da província e mesmo de outras paragens, tem ao dispôr quatro unidades hoteleiras. Igual número está fechado e aguarda por investimentos. À estes, juntam-se 14 bares e restaurantes, oito centros turísticos, lagoas e vários locais de interesse histórico, turístico e cultural.

A referência a esses locais torna-se necessária, numa altura em que há uma aposta crescente no sector do turismo.

Novas urbanizações para receberam obras

O Negage ainda alimenta o sonho de ver, um dia, concretizada a construção de uma centralidade para um total de 2.500 residências, projectada para o município, bem como 200 fogos habitacionais. Enquanto isso não acontece, estão a ser feitas duas novas urbanizações, uma a saída para a cidade do Uíge, numa área de 231 hectares e outra para quem vai à Camabatela, no Cuanza Norte com 123 hectares.

Ao Jornal de Angola, foi explicado que esses espaços foram preparados para receberem obras de construção de habitações de baixa, média e alta renda, bem como infra-estruturas sociais e institucionais, numa altura em que Estado tem  controlados de 260 imóveis, 32 dos quais da Administração e outros 36 erguidos na esteira do programa Angola Jovem.

Uma volta, rápida que seja, pelas várias ruas do Negage é visível a falta acentuada de conservação da maioria dos edifícios, um cenário que as autoridades municipais querem reverter, com a pintura da parte exterior, como esclareceu Delfina Henrique.

"Queremos dar uma nova imagem a essa cidade histórica. Já estão asfaltados mais de 10 quilómetros de ruas no casco urbano, estamos a colocar passeios e lancis e valas de drenagem. O próximo desafio é mesmo a pintura dos edifícios, num programa que denominamos cimento e tinta", esclarece Delfina Henrique, sublinhando tratar-se de uma acção comparticipada pelos proprietários dos imóveis.

Optimista, a administradora  Delfina Henriques, deixou, para o fim, os constrangimentos, que, como diz, uma vez superados, vão resgatar a imagem de verdadeiro "pulmão agrícola", que é o Negage.

Desde logo, a revitalização do sector agrícola e pecuário, com investidores a altura de alavancaram a economia local, mais incentivos à agricultura familiar, melhoria das ligações as comunas de e aldeias, bem como mais água potável, com a construção de novo sistema de captação, abastecimento e distribuição.

A expansão da energia, o aumento de salas de aulas e professores, a criação de um núcleo do ensino superior, infra-estruturação e construção da nova urbanização, são vistos como outros potenciais factores de desenvolvimento que se pretendem para uma população de mais de 160 mil habitantes.



Leonel Kassana | Negage

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