Diz-se que constitui um gesto de fraqueza o exercício de se queixar aos entes e e organizações estrangeiros sobre os problemas da nossa terra, para depois receber como resposta a exortação óbvia segundo a qual “as soluções devem ser encontradas entre vós mesmos”, da mesma maneira como as sucessivas iniciativas externas para acabar com a guerra se comprovaram ineficazes.
Um dos edifícios que conta a história do Kwitu, depois da guerra pós-eleitoral, dizem ser a Catedral da Paz, templo da Igreja Evangélica Congregacional de Angola, construído pelos crentes citadinos depois do cerco à cidade.
Aqui cultuaram e continuam a cultuar dirigentes inesquecíveis como Sabino Salongue, João Marcos Bango, Celita Adolfo, Samuel Catumbela, Alice Kakeke (de feliz memória), Isabel Changuendela, Cândida Celeste, entre tantos outros. A lista é grande e estende-se aos filhos, netos e outros evangelizados todos os dias.
Mas é sobre o João, um menino engraxador do Kwitu, e seus amigos Miguel e Kasoko que vos conto.
Encontrei-os à entrada de uma unidade hoteleira que dá de caras com a Catedral da Paz. O João, o mais expedito, mal viu o carro parar, endireitou a cara, fazendo uma de coitado e faminto, seguido de um sinal pedinte.
- Me dá lá só kapão, faxavori! - Terá soltado. Algo assim.
Apreciei as suas vestes e o cabelo pintado.
- Porra! Maltrapilho e cabelo pintado, deve ser um pequeno grego. - Ensaiei sem o soltar.
Fiz resistência em baixar o vidro lateral e decidi mesmo não atendê-lo.
Esperto (isso mesmo), o rapaz que vim a descobrir que responde por João, cônscio de que a sua artimanha tinha caído ao ralo, olhou para o lado oposto e meteu-se a assobiar. Talvez recitando uma música ou um hino da "nembele” IECA, o que tocou a sensibilidade do meu companheiro de viagem.
- Camarada Matoumorro, o rapaz convenceu-me. Vou dar-lhe uma moeda. - Disse-me o camarada Jesus Cortex, sacando duas notas de Kz 200 que dividiu aos três: uma para o artista de cabelo louro e outra para o Miguel e o Kasoko que são irmãos.
Estacionada a viatura, eis que os rapazes reapareceram.
- Pai, vêm engraxar sapatos. - Chamaram em coro.
Dividimo-nos. Eu dirigi-me ao João e o camarada Jesus ao Miguel a quem soltamos conversas sobre a importância de frequentar a escola, mesmo ajudando os pais com menos poder para sustentar satisfatoriamente os filhos.
- Ó meninos, o quê que fazem com o dinheiro?
- Nós ajudamos a mamã. Engraxamos, eu e o meu irmão, e damos o dinheiro à mamã. - Respondeu o Miguel, demonstrando inteligência.
Acrescentou que a caixa do seu irmão havia sido roubada e estavam a trabalhar com apenas uma, a ver se a mamã juntava o dinheiro que fazem para mandar ao carpinteiro confeccionar mais uma caixa de engraxador. Ficamos comovidos.
- Vocês estudam? - Indaguei. Fazia-o sempre no plural.
- Eu estudo a quarta classe. - Respondeu o Miguel.
- Eu estudo a sexta. - Complementou o Kasoko, o irmão mais velho do Miguel.
- E tu João?
- Eu também.
O João era o mais vivido. Noutro tempo, dir-se-ia o mais espertinho. Tinha argumentos para tudo. Era resoluto e um pouco ameaçador em relação aos outros. Chegámos a cogitar que no tempo das kitotas seria, no mínimo, um sargento, fosse num exército ou numa milícia.
- Mas, ó João, tu com cabelo pintado entras na escola? O professor deixa-te entrar?
Os amigos, sabendo que ele estava a faltar à verdade, começaram a rir-se dele.
- Estás a rir o quê, sô burro? Ó pai, eu estudo. Podemos ir na minha casa para tirar certeza com a minha mãe. -Desafiou-nos.
- Ok. Não precisas de te exaltares. Vamos lá. Que classe então estudas e a que hora vais à escola? - Amenizei.
- Ó pai, eu estudo de manhã, mas hoje não fui, porque não tem sabão para lavar a minha bata.
Os dois amigos riram-se novamente das suas invencionices, elevando novamente os seus nervos aos píncaros.
- Vamos então na minha escola para tirar certeza. Vamos. Ó Miguê, você assim já está a gozar demais. Vamos na minha escola.
- João, acalma-te, filho! Diz-nos quem é a tua professora?
- É professora Maria! Ó pai, esse burro fala à toa. Ele é que não estuda. A vida dele é só pedir dinheiro nos mais velhos. - Acusou o João ao Miguel que parecia de sua idade. O Kasoko, que disse estudar a sexta classe, parecia dois ou três anos mais velho e era quem menos falava. Era o que estava sem caixa de engraxador.
Nisso, os dois irmãos que frequentavam a escola começaram a ler as placas de identificação das lojas e demais sinalética, desafiando o João a fazê-lo também. Apontaram para um atelier e desafiaram-no.
- Ó pai, vamos tirar as provas. João, se estudas ainda lê ali.
Encurralado, o João inventou que não lia à distância.
- Ali em cima não vejo bem, mas nas letras de baixo está escrito arfaiate.
Foi a prova de que era apenas um menino esperto, mentiroso e não alfabetizado.
O camarada Jesus, tal como o seu homónimo nascido na pequena cidade de Belém da Judeia, pegou a mão do João e levou-o para uma catequese, daquelas que um menino com todo o futuro ainda pela frente precisa de ouvir. No final, deu-lhe mais uns trocados.
- Quando voltarmos ao Kwitu quero encontrar-te a estudar. - Recomendou Cortex, esperando que João cumpra o conselho de Jesus.
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