Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
A notícia é recente, o conteúdo antigo, nada garante, todavia, não voltar a ser tema na comunicação social, porém, cada vez com menos relevo, por falta de novidade para leitores, radiouvintes e telespectadores.
Guerras, desde sempre, "dão pano para mangas” sobre origens, inícios, desenvolvimentos e epílogos que as preenchem, tal como o número incontável e crescente dos que mais lucram com elas: tudo quanto reflicta dramas, mortes, atrocidades. Preferencialmente em directo ou em primeira mão, porque teoricamente apelativos, excitantes.
Provocadores de guerras e dos chamados "desastres naturais”, cada vez mais os mesmos - repetidamente em simultâneo - não são , contudo, os únicos a encher os bolsos à custa de desgraças alheias; aumento universal da quantidade de órfãos, viuvezes, estropiados, famintos.
Os "vendedores de banha da cobra”, igualmente, chamados "farmacêuticos” de rua, também enchem as algibeiras, a par de quem os recomenda, lhes fornece o produto do crime e ensina a usá-los em desfavor de doentes, os únicos seres humanos autenticamente genuínos, na verdadeira acepção da palavra, nesta corrente transbordante de malfeitores.
Os compradores forçados, por circunstâncias tantas, são os únicos sem culpas naquela fiada de oportunistas. Integram-na impulsionados apenas pela aflição de verem filhos, pais, mães, quaisquer outros entes queridos, contorcerem-se de dores, suplicando à morte que os leve, pois antes ela "do que tal sorte”.
Os angolanos já sofreram os efeitos das guerras que jamais quiseram, pelo contrário, foram forçados a enfrentá-las. Muitos ainda padecem com mazelas contraídas naqueles tempos. Que existiram, apesar de comportamentos de alguns, por vezes demasiados, fazerem parecer que não. A generalidade, porém, até por aquela conjuntura, dispensa novos carniceiros.
O número de medicamentos - fora de prazo, mas, outrossim, dentro dele - imposto aos angolanos, neste 24º ano do século XXI, é exorbitante por faltarem, onde jamais deviam esgotar, nas unidades hospitalares, constituem instrumentos de crimes de lesa-pátria, também Ela gravemente ferida a golpes de cobardia, egoísmos, nepotismos e quejandos .
O recente anúncio - feito pelo responsável nacional do Serviço de Investigação Criminal - da apreensão, no Mercado do Kikolo, de mais de três toneladas de medicamentos naquelas condições, atesta o regabofe ainda reinante em certas unidades de saúde pública.
Os medicamentos, tanto com prazos expirados, como os outros, não conseguem, por eles próprios, mudar de lugar. "Branco é galinha os põe”. Foram "mãos ligeiras” que lhes trocaram o pouso, com a colaboração de "olhos vendados”.
A responsabilidade da folia, que salpica, por arrastamento, todo o sector público da saúde angolana - com sobejas provas, em múltiplas circunstâncias, de competência, abnegação e profissionalismo - cabe, igualmente, aos que têm o dever profissional, jamais por generosidade, de fiscalizar e que para isso são pagos.
Três trapaceiros foram recentemente detidos, num mercado de Cacuaco, por traficarem, atrevidamente às claras - em bancas idênticas às de decentes comerciantes -, medicamentos, adulterados e dentro do prazo, ausentes em unidades públicas de saúde! Quem lhes facultou os palcos de actuação? Outros vendedores, "acima de quaisquer suspeitas”? "(Ir)responsáveis da praça? Quantos, uns e outros, receberam pela burla?
Três toneladas, sejam do que forem, é, convenhamos, quantidade excessiva para outros tantos vendedores. Mais perguntas, até ao momento, sem respostas: há quanto tempo actuavam na mesma superfície? Onde guardavam os "medicamentos” subtraídos à má fila? Ninguém estranhou a marosca? Os restantes facilitadores do crime já estão detidos? E interrogados? As caras do trio "farmacêutico” foram divulgadas e para isso convidados jornalistas. E as dos restantes intervenientes no esquema? Espera-se, em nome da transparência, que as balanças, que simbolizam a Justiça, tenham pesos e medidas iguais, pois ladrão é tanto o que rouba como quem o avisa da presença da vítima.
Kikolo é único local, onde crime é negócio? E nos outros municípios ? E em avenidas, ruas, jardins, becos, incluindo os da capital do país, designadamente nas proximidades de estabelecimentos de ensino, farmácias, esquadras policiais, edifícios governamentais, até nas barbas de agentes de segurança?
As detenções no Kikolo foram bem-vindas, pecando apenas por tardias e escassas. Por tais razões limitam-se a serem prenúncio do que pode vir a ser uma operação de mais parcelas, com todos os números, cuja "prova dos nove” dê o resultado real da soma.
Os responsáveis pela luta contra malfeitores sabem que somente podem dar por terminada a operação, quando os outros elementos da "quadrilha dos medicamentos” fizerem companhia aos três comparsas já atrás das grades. Quem? Os que lhes puseram nas mãos, com prazos expirados, mas, igualmente, válidos, produtos de venda interdita nas unidades públicas de saúde.
As detenções anunciadas, na semana passada, correm o risco de serem tidas apenas como "montra” para ingénuos verem, mas servem para esconder retaguarda de imundo armazém. Também podem equiparar-se a tiros de armas de pressão de ar que, no esplendor do dia, fazem cantar galos no poleiro e lobo uivar promessa de regressar.
Aquela operação policial só pode ser dada por verdadeiramente concluída, quando todos elementos da quadrilha, sem excepções, estiverem atrás das grades. Cantar vitória agora é tentar "esconder o sol com a peneira”, batota, noticiário repetido, igualzinho a muitos outros, causadores de tantos risos trocistas ou exasperados consoante o estado de espírito de cada qual.
Seja o primeiro a comentar esta notícia!
Faça login para introduzir o seu comentário.
LoginEm diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
A ideia segundo a qual Portugal deve assumir as suas responsabilidades sobre os crimes cometidos durante a Era Colonial, tal como oportunamente defendida pelo Presidente da República portuguesa, além do ineditismo e lado relevante da política portuguesa actual, representa um passo importante na direcção certa.
O continente africano é marcado por um passado colonial e lutas pela independência, enfrenta, desde o final do século passado e princípio do século XXI, processos de transições políticas e democráticas, muitas vezes, marcados por instabilidades, golpes de Estado, eleições contestadas, regimes autoritários e corrupção. Este artigo é, em grande parte, extracto de uma subsecção do livro “Os Desafios de África no Século XXI – Um continente que procura se reencontrar, de autoria de Osvaldo Mboco.
Pelo menos 21 pessoas morreram na sequência de um naufrágio que ocorreu no Rio Lufira, na zona sudeste da República Democrática do Congo (RDC), tendo 11 dos passageiros conseguido salvar-se, noticia hoje a agência espanhola EFE.
O Festival Internacional de Jazz, agendado para decorrer de 30 deste mês a 1 de Maio, na Baía de Luanda, tem já confirmada a participação de 40 músicos, entre nacionais e estrangeiros, e o regresso da exposição de artes visuais com obras de 23 artistas plásticos, anunciou, sexta-feira, em conferência de imprensa, no Centro de Imprensa da Presidência da República, CIPRA, o porta-voz da Bienal de Luanda, Neto Júnior.
A judoca angolana Maria Niangi, da categoria dos -70 kg, consegui o passe de acesso aos Jogos Olímpicos de Verão, Paris'2024, ao conquistar, sexta-feira, a medalha de ouro no Campeonato Africano de Judo que decorre na Argélia.
A representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Angola, Denise António, destacou, sexta-feira, em Luanda, a importância do Governo angolano criar um ambiente propício para a atracção de mais investidores no domínio das energias renováveis.
O artista plástico, João Cassanda, com a obra “Mumuíla Feliz”, e o escultor Virgílio Pinheiro, com a escultura “Piéta Angolana”, são os vencedores da 17.ª edição do Grande Prémio ENSA-Arte 2024, tendo arrebatado uma estatueta e um cheque no valor de seis milhões de kwanzas.
Nascido Francis Nwia-Kofi Ngonloma, no dia 21 de Setembro de 1909 ou 1912, como atestam alguns documentos, o pan-africanista, primeiro Primeiro-Ministro e, igualmente, primeiro Presidente do Ghana, mudou a sua identidade para Nkwame Nkrumah, em 1945, com alguma controvérsia envolvendo o ano de nascimento e o nome adoptado.