Cultura

Grupos exibem toda a sua criatividade no desfile central do Carnaval de Luanda

O União Kazukuta do Sambizanga foi a primeira agremiação a desfilar, no final da tarde de segunda-feira, no Carnaval 2024 da capital do país, na Marginal da Praia do Bispo, sob o olhar atento do Presidente da República, João Lourenço, acompanhado da Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço.

13/02/2024  Última atualização 07H01
© Fotografia por: Vigas da Purificação | Edições Novembro

Acomodados na tribuna de honra, o casal presidencial esteve ladeado por diversas figuras do Executivo, com realce para a Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, o ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, e o governador de Luanda, Manuel Homem.

As canções, indumentárias, coreografias e alegorias foram os verdadeiros instrumentos que os grupos carnavalescos prepararam para disputar o desfile competitivo da classe A, dos adultos, à conquista do primeiro lugar da edição 2024 do Carnaval de Luanda.

Em 25 minutos, aproximadamente, os grupos carnavalescos mostraram toda a ginga, explorando as cadências rítmicas das danças. Ontem, milhares de foliões, provenientes de vários bairros de Luanda, deslocaram-se à Marginal da Praia do Bispo para dançar o Carnaval, a maior manifestação cultural do país.

Ao ritmo da kazukuta, o União Estrela Kazucuta rendeu uma homenagem à estaçãonacional TV Zimbo. Seguiram-se os grupos União Juventude do Kapalanca, que dançou kazucuta ao som da canção "Xicola Ulonga Ufunu”, e União os Petrolíferos, que dançou semba, ao som da música "Falta de Amor”.

Um ano depois do rebaixamento, o União Operário Kabocomeu, o vencedor da primeira edição do "Carnaval da Vitória”, no ano de 1978, exibiu toda a sua história através dos seus passos de dança. Foi um verdadeiro espectáculo de cor e dança. O União Amazonas do Prenda cantou e dançou apelando ao bom uso da língua portuguesa. 

Apenas os grupos União Njinga Mbande, de Viana, com a cabecinha, e o União Povo da Quissama, com sambalage, exibiram-se em estilos diferentes.

O União Njinga Mbande mostrou na pista toda a garra, características das mulheres vendedoras, com muita cor e alegria. Mais do que a beleza da dança cabecinha, o grupo deixou, no conteúdo irrepreensível da sua canção, um apelo ao desaparecimento de estilos de dança que outrora caracterizavam  a pluralidade da tradição luandense. Varina, kabetula, massemba, txianda e dizanda são alguns dos estilos que hoje são menos representados no Carnaval de Luanda. O grupo Njinga Mbande fez o apelo ao resgate dessas danças, fazendo jus à entrega do seu comandante, Tony Mulato, distinguido em 2019 com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de dança, pela pesquisa feita em prol da recuperação das danças carnavalescas, em particular da cabecinha.

À "caça” ao título que lhe foge há 15 anos, o terceiro classificado da edição passada, o União Kiela, esteve bem representado sob a liderança da comandante Maravilha dos Santos. Com Bonga Kwenda a emprestar a sua voz no intróito da música, o União Kiela desfilou todo o seu génio artístico na pista da Marginal da Praia do Bispo. O semba, dança e canto foram defendidos também na sua temática. Elevado a património nacional no ano passado e estando em curso estudos para a sua sustentação a Património Imaterial da Humanidade, o Kiela rendeu uma justa homenagem a este género de música e dança cultivados por insignes figuras da música nacional. Sob o comando de Maravilha dos Santos, a assistência viajou no refrão do Kiela. Seguiu-se o União Sagrada Esperança, que voltou a consagrar o semba no seu canto e dança.

Já noite adentro, o União Jovens da Cacimba rendeu um louvor à beleza e tradição do Carnaval. Na voz da reconhecida compositora Tunicha Miranda, o União Mundo da Ilha, o mais vitorioso do Carnaval de Luanda, em busca do 15º título, mostrou a grandeza do seu semba. Penúltimo a pisar a pista da Marginal da Praia do Bispo, o União Mundo da Ilha não deixou os créditos em mãos alheias e mostrou porque é que é o mais titulado, distinguindo-se no quesito da alegoria e no entrosamento da coreografia. O último a desfilar foi o União Recreativo Kilamba, vencedor da edição passada. Com Dom Caetano a assumir a canção, o União Recreativo Kilamba consumou a estreia de Mony de Oliveira no comando, rendendo o destemido Poly Rocha. Mony de Oliveira mostrou-se seguro e confiante, sinal de que o legado foi bem transmitido. O grupo mantém uma forte aposta na modernidade do Carnaval de Luanda.

Para o ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, esta edição do Carnaval foi melhor que a do ano passado, quer nas três classes, quer no que diz respeito às coreografias, aos adereços e também à organização.

"Temos de continuar a trabalhar, a inovar, a encontrar receitas, a encontrar patrocinadores, para tornar o nosso Carnaval cada vez mais atractivo”, traçou. 

O governador Manuel Homem, membro da Comissão Preparatória do Carnaval, manifestou o sentimento de missão cumprida, apesar dos desafios que tiveram durante a preparação desta edição. Falando à imprensa instantes após a exibição dos grupos, o governador caracterizou positivamente o desfile, por corresponder às expectativas dos cidadãos da província de Luanda.

"Sentimos que conseguimos envolver todos os interessados no Carnaval deste ano. Para o futuro breve, temos ainda o desafio e o nosso compromisso de em 2025, nos 50 anos da nossa independência, surpreendermos Luanda”, prometeu.


Turistas presentes

O cidadão norte americano Look Man, que assistiu, ontem, na Marginal da Praia do Bispo, ao desfile da classe A do Carnaval de Luanda, afirmou que a cultura angolana é rica e merece ser partilhada com os outros povos.

Acompanhado de dois amigos, também americanos, o mesmo disse amar as danças, músicas e energia do povo angolano.

Por sua vez, o angolano Ngana Nzenza afirmou que aprecia o Carnaval há anos, e faz questão de não faltar a nenhuma edição por ser um momento único em cada ano.

Fernanda Az, cidadã  luso-americana, que foi criada em Angola, disse que, apesar de já não viver no país, gosta de voltar para apreciar a festa do Carnaval. "Através desta festa sinto que voltei às minhas raízes, à cultura que também faz parte da minha identidade”, disse.

Por último, Joana Cassuca disse ter gostado bastante desta edição do Carnaval,  apelando à população de Luanda e arredores a passar a aderir em massa a esta grande manifestação cultural do país.


Mil efectivos

O porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, superintendente Nestor Goubel, disse, ontem, que foram destacados mais de mil efectivos para garantir a segurança do Carnaval, não apenas no perímetro da Marginal da Praia do Bispo, como também ao nível dos bairros. Nestor Goubel explicou que o Comando Provincial de Luanda instalou um posto de comando durante os três dias de desfile para garantir toda a segurança aos foliões.

Por sua vez, o comissário Flávio Chingundu, comandante provincial da Protecção Civil e Bombeiros, considerou que o asseguramento dos três dias de desfiles correu sem sobressaltos, com as forças destacadas no terreno em prontidão para acudir qualquer ocorrência. Sublinhou que durante os três dias estiveram mais de 400 efectivos no terreno, com o posto de comando específico para a organização do Carnaval montado no perímetro da Marginal da Praia do Bispo.

Nelson Tiago, chefe do Departamento do INEMA na província de Luanda, detalhou que desde o dia 10 que têm atendido várias situações, sendo as mais frequentes a fadiga, glicemia e desidratação. Para garantir a cobertura do Carnaval, o INEMA destacou no local cerca de 38 efectivos, dos quais 20 enfermeiros, cinco médicos e seis motoristas, distribuídos  na Marginal da Praia do Bispo, do início ao final da pista. Para garantir o apoio fora da pista, o INEMA montou igualmente equipas no Zamba 2, no viaduto da Baía e no Bairro Azul.


Manuel Albano, Gil Vieira e Katiana Silva

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