Desporto

Florbela Queirós quebra preconceitos

Honorato Silva

Jornalista

Multicampeã nacional de lançamento de peso, com as cores do Petro de Luanda, gaba a habilidade do pai, Carmindo Simões, o China, exímio futebolista do Clube Atlético de Luanda, como o descreve, que convidado em 1948, para rumar a Portugal, a fim de jogar no Sporting, negou, porque tinha de cuidar dos irmãos mais novos.

23/03/2024  Última atualização 12H20
Tributo à antiga desportista e actual psicóloga criminal © Fotografia por: DR

Do judo, modalidade praticada simultaneamente com o atletismo, lembra com tristeza as vezes em que a Selecção Nacional feminina não viajou, alegadamente por falta de verbas. Mas, das memórias registadas fora do tatami, partilha os correctivos dados a larápios, "em plena Mutamba”. Florbela Queirós Simões, é o rosto de Março Mulher.

Ter praticado ambos os desportos é uma marca mencionada com orgulho, pela psicóloga criminal destacada na Academia de Futebol do 1º de Agosto, apesar das lembranças de contratempos que convocam tristezas. "Também brilhei a nível nacional no judo. Com muita pena, mas ao mesmo tempo feliz e orgulhosa, por ter feito parte das primeiras selecções femininas, que tiveram como treinadores o malogrado "Sensei” Rodrigues de Castro, que Deus o tenha, e o "Sensei” Anacleto Coelho. Na hora de viajar, ouvíamos a triste desculpa de não haver verbas que cobrissem as despesas da equipa feminina. E lá ficávamos, sempre prontas a servir nas próximas chamadas. As desculpas eram sempre as mesmas. Hoje fico muito feliz pela oportunidade que as judocas têm. Parabéns!”

Com qual das modalidades mais se identifica?

Identifico-me  com as duas modalidades, porque pratiquei com muita dedicação.

Ao olhar para trás, Florbela avalia de forma pragmática o desporto feito em Angola. "Vejo algumas modalidades com alguma qualidade, e outras não, por falta de estrutura e massificação”.

Passar batom quando necessário

Ser judoca não levava a atleta a afrontar homens. Sabia estar no seu lugar. "De maneira nenhuma, embora tivesse alguns músculos definidos. Só com larápios, em plena Mutamba”, conta, acrescentando que conseguia ter vaidade de mulher, com batom e salto alto: "Evidentemente! Quando necessário, fazia esse casamento, sem sombra de dúvidas”.

Desafiada a analisar a presença da mulher, nesta actividade social, a lançadora de peso que integrou a missão angolana aos Jogos Africanos de Harare’95, sublinha que apesar dos progressos registados no desporto, continuam a existir grandes desafios, nomeadamente em termos de igualdade de remuneração, visibilidade e condições de formação.

"A inserção vai ajudar a superar os seus limites, aumentar a autoestima. É uma óptima maneira de manter a saúde física e mental, mostrando que são capazes de competir e se destacar em qualquer modalidade, para, então, quebrar estereótipos e preconceitos sobre o papel da mulher na sociedade. É importante também, para o desenvolvimento pessoal e social, de forma a promover a igualdade do género, criar uma sociedade mais justa, inclusiva e saudável”, argumenta.

Assédio sexual no desporto

Antiga ginasta do Benfica de Luanda  aborda sem rodeios, a questão do assédio.

"No desporto tem acontecido. É imperioso prevenir e proteger as atletas, promovendo ambientes seguros e acolhedores. Inserir a cultura contra o assédio. Educá-las para os limites, no contacto entre treinador e atleta, explicando o que decorre das necessidades técnicas da modalidade e o que não decorre. Ensinar a/e como denunciar, sem receios. Criar uma relação aberta, entre clubes, treinadores, atletas e pais”.

No topo das prioridades, coloca a necessidade de massificação do desporto, nos bairros e escolas. A criação de infra-estruturas, a nível nacional, bem como estratégias de bolsas e estágios, para o alto rendimento, em países que dominam as mais variadas modalidades. Puxa ainda pela formação profissional extensiva a técnicos, em todo o país.

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