Opinião

Esperança moribunda

Matias Adriano

Jornalista

À partida, o título parece pecar por excesso de pessimismo. Mas perante o quadro classificativo de Angola no CHAN, após empate com a Mauritânia, esta é, seguramente, a leitura do senso comum. A passagem para a fase seguinte do torneio passou a depender de um milagre, e não estejamos aqui com floreados linguísticos ou com outros epítetos, que tipifiquem o jornalista como alguém possuído por alguma leviandade.

23/01/2023  Última atualização 08H59
Mais uma vez, ao seu estilo, Angola complicou a empreitada, não resolvendo o que devia, para que sejam os outros a fazê-lo no seu lugar. Trata-se de uma situação recorrente, bastando, para o efeito, lembrarmos as vezes que safou-se à tangente nesta ou naquela competição, e outras em que ficou pelo "quase", quando a sorte lhe saiu madrasta.

 Era suposto que depois do empate, que a determinado momento de jogo cheirou à vitória, com o Mali, entrasse para o jogo seguinte com mais atitude, maior ousadia, em busca de pontos que, não garantindo já a qualificação, lhe pudessem conferir maior dose de confiança, mesmo que na dependência do último jogo do grupo. 

 É evidente que sendo o futebol uma ciência que não obedece à lógica tampouco à matemática, tudo pode acontecer. Mas a dependência perturba a alma, corrói a mente e belisca a honra. Se calhar, não precisava a selecção submeter-se a tamanha tortura psicológica. Pois já se sabia antes como seria complexo o processo de qualificação, em função da composição do grupo, e qual seria a estratégia para evitar o presente cenário.  

 O segredo passava pela conquista de pelo menos quatro pontos, algo que esteve bem ao alcance, sendo que depois do empate diante do Mali, bastava superar a Mauritânia no segundo jogo, ao invés de ficar-se por mais um empate, bastante comprometedor às inspirações de um grupo que verteu suor no  trabalho, definindo metas e objectivos.

 Dirão alguns, e se calhar, com alguma lógica, que mesmo que tivesse vencido à Mauritânia, ainda assim, estaria condicionada. Claro que sim, mas seria uma condição mais expectante, dependeria da expressividade do resultado, sendo que o Mali jogaria em função deste, com toda pressão psicológica que tal situação podia acarretar. Mas o empate liberta malianos e mauritanianos, deixando-os independentes, dependentes de si.

 Neste caso, malianos e mauritanianos se acham em igualdade de circunstâncias, e entram para a quadra com igual propósito. Dai, também, a razão de haver uma corrente de opinião daqueles, para quem o empate com a Mauritânia terá facilitado, em parte, a empreitada a Angola.

 De resto, quando o Mali podia encarar uma Mauritânia a jogar para mero cumprimento de calendário, sem entrega, defronta uma equipa com as mesmas ambições, com o mesmo ponto focal, o que pode levar à repartição de pontos, e aí ver-se quem segue em frente entre os três. Está um quadro complicado. Uma vitória, não importa de quem, no jogo de amanhã, acaba com o sonho angolano. Portanto, a esperança é moribunda.

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