O continente africano é marcado por um passado colonial e lutas pela independência, enfrenta, desde o final do século passado e princípio do século XXI, processos de transições políticas e democráticas, muitas vezes, marcados por instabilidades, golpes de Estado, eleições contestadas, regimes autoritários e corrupção. Este artigo é, em grande parte, extracto de uma subsecção do livro “Os Desafios de África no Século XXI – Um continente que procura se reencontrar, de autoria de Osvaldo Mboco.
A onda de contestação sem precedentes que algumas potências ocidentais enfrentam em África, traduzida em mudanças político-constitucionais, legais, por via de eleições democráticas, como as sucedidas no Senegal, e ilegais, como as ocorridas no Níger e Mali, apenas para mencionar estes países, acompanhadas do despertar da população para colocar fim às relações económicas desiguais, que configuram espécie de neocolonialismo, auguram o fim de um período e o início de outro.
Aproxima-se o 25 de Maio, data em que se celebra o Dia de África. O continente vive um período muito particular da sua história marcada por décadas de conflitos, para um novo ciclo de prosperidade, que em pleno século XXI os países do continente apostam em novos desafios do ponto de vista económico e social.
Falar de problemas que afectam a todos traz o fortalecimento e parcerias entre nações mesmo em momentos de prosperidade. A economia da África Subsaariana irá registar uma queda e, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), esta desaceleração do crescimento económico neste ano situar-se-á nos 3,6%, com um registo de abrandamento de cerca de 7,5%. Estes registos irão impactar a conjuntura de empregabilidade um pouco pelos países, sendo que a potência sul-africana registou uma taxa de desemprego de cerca de 32,9%, Angola atingiu uma taxa de cerca de 29,6%, a Namíbia com 20,9%, Cabo Verde com cerca de 12% e a Guine-Bissau com uma taxa de cerca de 11,5%.
Portanto, esperam-se nos próximos tempos enormes desafios às economias destes países na sua capacidade de geração de riqueza e criação de postos de trabalho.
Os problemas da região africana, devido à interação económica com o mundo, não excluem a análise da questão geopolítica com os conflitos na Ucrânia, em que visualizamos indícios de recessão da economia mundial, com a valorização do dólar, aumento da inflação e das taxas de juros. É verdade que os bancos centrais em todo o mundo estão perante o maior desafio inflacionista dos últimos tempos que exigirá, certamente, uma resposta robusta em termos de política monetária que enfrenta, igualmente, o maior duelo desde a crise financeira das duas décadas passadas.
Apesar de a África Subsaariana estar entre as regiões que registam os mais elevados índices de pobreza, analfabetismo e fraca produtividade, é justo dizer, que se observa uma melhoria da mudança de mentalidade das elites políticas e económicas em África, na forma como conduzem os processos de gestão pública e privada em todo o continente. Fenómenos como a descolonização, democracia e globalização são, certamente, factores fundamentais que contribuem para que o continente recupere as suas instituições políticas económicas e sociais.
Sendo que eliminar a pobreza no mundo é o primeiro Objectivo de Desenvolvimento Sustentável, é natural a preocupação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), pelo facto de ter identificado que vários países enfrentam uma crise alimentar incitada pela pandemia de Covid-19, numa análise que aponta mais de 20 países afectados, dos quais 13 estão no continente africano. Este pequeno exercício pode verificar-se por via de uma métrica que analisa o PIB per capita nominal dos países em dólares à taxa de câmbio de mercado, como a verificação da parte destinada à alimentação no consumo das famílias em cada país, bem como a percentagem da exportação líquida de alimentos, face ao PIB ou as receitas provenientes das exportações de alimentos.
A Organização das Nacões Unidas (ONU) alerta ainda que a comunidade internacional tem de agir rapidamente no sentido de se garantir acesso a alimentos, evitar a interrupção dos financiamentos dos países, evitando os cortes das cadeias de fornecimento. No entanto, admite que os diversos programas de combate à fome não têm sido bem implementados, e previne que é imprescindível retirar cerca de 100 mil pessoas da situação de desnutrição, para se atingir, em 2030, a meta de eliminação total da fome no mundo, com grande incidência nos países africanos.
Apesar dos preços dos produtos alimentares sofrerem uma ligeira redução, ainda não é suficiente para as populações, que poderão incorrer em constrangimentos do ponto de vista alimentar, com a possibilidade de redução do poder de compra. Esta situação tem mobilizado os Estados a tomarem decisões políticas e medidas para estabilizar a inflação e a espiral de preços nos alimentos, medidas consubstanciadas num controlo mais rigoroso sobre a subida dos preços.
Portanto, vários especialistas apontam a deslocação de riqueza e o surgimento de economias emergentes como uma das origens do problema da transformação produtiva em África. A deslocação de riqueza traz oportunidades para a diversificação das exportações a nível do continente, abertura de novas indústrias de transformação para a região de África. Mas cabe destacar que essas economias devem criar factores de atractividade e retenção de investimento de variadas fontes.
De acordo com a ONU, os fluxos de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) em África caíram cerca de 18%, o panorama ainda é incerto e muitas multinacionais estão a reavaliar as acções de investimento a nível do continente.
Com a nova revolução industrial, as economias africanas devem reforçar a aposta num modelo de desenvolvimento sustentável baseado no aumento da produtividade, uma vez que o crescimento económico a longo prazo depende do aumento do índice de produtividade dos países, que em termos de necessidades de financiamento necessitam cerca de 450 mil milhões de dólares até 2025.
* Economista
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