Reportagem

Cuando Cubango: Vias de acesso inviabilizam projectos no sector do turismo

Ezequiel Ndala| Menongue

O mau estado das vias de acesso aos municípios do interior da província do Cuando Cubango continua a ser apontado como o principal entrave aos investimentos no sector turismo, que alberga o maior projecto turístico transfronteiriço Okavango/Zambeze (KAZA).

08/01/2023  Última atualização 11H28
© Fotografia por: DR

À reportagem do jornal Ventos do Sul, a chefe de departamento provincial do Turismo, Andreia Muhitu disse que muitos investidores nacionais e estrangeiros fogem em investir na província por causa do estado avançado de degradação das vias de acesso que ligam a cidade de Menongue com os municípios do interior, sobretudo nas áreas turísticas do projecto KAZA.

"As vias de acesso constituem a principal mola impulsionadora para o desenvolvimento de qualquer sociedade e o ramo do turismo não é diferente”, disse, acrescentando que a província do Cuando Cubango tem grandes potencialidades para alavancar o sector da Hotelaria e Turismo, mas necessita de um investimento público e privado para atrair milhares de turistas para esta parcela do país,” afirmou.

Andreia Muhitu apontou ainda como dificuldade o facto de a província ter até agora muitas áreas minadas que impedem a circulação de pessoas e bens, assim como a reabilitação de estradas e construção de infra-estruturas hoteleiras nas áreas com grande potencial turístico.

Considerou que por este facto o desenvolvimento do sector da Hotelaria e Turismo no Cuando Cubango, com realce para a execução do projecto KAZA, passa necessariamente pela desminagem e a reabilitação de estradas nos municípios do interior.

Andreia Muhitu disse que os turistas nacionais e estrangeiros que escalam a província  limitam-se apenas em visitar algumas áreas turísticas em Menongue, Cuito Cuanavale e Cuchi, porque são as únicas localidades do Cuando Cubango que estão ligadas por estradas asfaltadas.    

"Actualmente, a maior parte dos empresários no sector turismo procuram investir principalmente no município de Menongue, Cuchi e Cuito Cuanavale, pelo facto de terem as vias de acessos em condições para o exercício desta actividade”, afirmou.

Destacou que o sector da Hotelaria e Turismo se faz sentir também nos municípios de Cuangar e Calai pelo facto de fazerem fronteira com a República da Namíbia, razão pela qual nestas localidades a procura tem sido grande. Acrescentou ainda que por este motivo, os empresários preferem arriscar na construção de unidades hoteleiras e similares, apesar de se ter um grande problema de via de acesso para atingir aqueles municípios.        

Realçou que o grande foco do turismo no Cuando Cubango está nos parques nacionais de Mavinga e do Luengue-Luiana, onde os turistas não conseguem chegar devido ao mau estado das vias de acesso e também de algumas áreas minadas.

Segundo Andreia Muhuti, estes dois parques são os que constituem o principal pulmão do projecto Okavango/Zambeze na componente angolana que conta com uma área de cerca de 87 mil quilómetros quadrados e que abrange os municípios do Cuito Cuanavale, Mavinga, Rivungo, Dirico, Calai e Cuangar.

Andreia Muhitu mostrou-se confiante que o trabalho de desminagem e terraplanagem que está a ser feito neste momento pelos efectivos das Forças Armadas Angolanas (FAA) nos municípios de Cuito Cuanavale e Mavinga, vai contribuir significativamente para melhorar a circulação de pessoas e bens nas áreas do KAZA.

Recordou que o mesmo trabalho será extensivo em 2023 para as outras localidades da província do Cuando Cubango, tendo em vista a grande aposta das FAA que neste tempo de paz efectiva em Angola estão viradas para execução de projectos sociais que visam melhorar as condições de vida das populações.   

Para fazer jus a este projecto, 120 efectivos das FAA afectos a Engenharia Militar foram capacitados na província com novas técnicas de desminagem para que a partir do mês de Fevereiro de 2023 começam a desminar o troço Cuito Cuanavale/Mavinga, bem como as pistas dos aeródromos de Mavinga e Jamba que facilitará a aterragem de aviões de médio e pequeno porte.

Salientou que por este motivo o Executivo está a gizar planos que permitirão que o projecto KAZA seja uma realidade em Angola e na província do Cuando Cubango em particular.

"Acreditamos também que com o desenvolvimento que a província está a registar nos últimos tempos o sector turismo poderá conhecer mudanças significativas e permitir arrecadar mais receitas para os cofres do Estado e alavancar a economia do país”, disse.

 

Visitas de turistas

Andreia Muhitu falou ao Jornal de Angola, que apesar das dificuldades das vias de acessos para o interior dos municípios da província, o seu departamento registou de Janeiro a Novembro de 2022, um total de 60 visitas de turistas estrangeiros e 95 nacionais.

Salientou que apesar de que grande número de turistas visitam o Cuando Cubango com o objectivo de conhecer o monumento histórico da batalha do Cuito Cuanavale, muitos lamentam o facto de não conseguirem chegar às áreas afectas ao projecto Okavango Zambeze e outros locais turísticos, cujas estradas estão em estado avançado de degradação.

Recordou ainda que o surgimento da Covid-19 em 2020 verificou-se um abrandamento no sector do turismo, onde alguns estabelecimentos tiveram que fechar as suas portas e os que sobreviveram até hoje os proprietários tiveram que se reinventar para manter o mercado hoteleiro competitivo.

Fez saber que estão catalogados na província do Cuando Cubango 30 lugares turísticos, completamente virgens e esperando apenas que os empreendedores criativos tornem esses sítios em fontes rentáveis para a arrecadação de receitas aos cofres do Estado e a criação de empregos aos jovens.

Andreia Muhitu exortou os empresários nacionais e estrangeiros a investirem nesta área que além de representar um grande ganho a economia nacional, também poderá promover outros sectores na província e de uma maneira geral do país.


CUANDO CUBANGO
Implementação do roteiro e mapa turístico atrasam fomento do turismo

A falta de materialização do roteiro e mapa turístico do Centro Histórico de Mbanza Kongo, Património Mundial da Humanidade, dificulta o fomento o turismo, a nível da província do Zaire, afirmou, ontem, ao Jornal de Angola, a chefe de Departamento do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos, Ábia Graça Fortuna.

Segundo Ábia Graça Fortuna, apesar dos principais monumentos históricos de Mbanza Kongo estarem situados no Centro da cidade, há uma necessidade de se implementar o roteiro e mapa turístico, documento que oferece descrição pormenorizada do plano de viagem, que elucida os locais a visitar, horários pré-estabelecidos, serviços inclusos e o tipo de equipamento a ser utilizado em cada etapa.

"Já se elaboraram o roteiro e o mapa turístico de Mbanza Kongo, lançados em Setembro de 2019, pela então ministra da Cultura, Ângela Bragança, em Luanda, falta apenas, a implementação do posto de informação turística na região, para venda de cartões postais e outras lembranças, para além de servir de ponto de troca de informação com as agências de viagem espalhadas pelo mundo, na hora de definir os pacotes turísticos”, disse.

Questionada sobre as causas de não implementação do referido posto de informação turística, Ábia Graça Fortuna disse não existir informação precisa sobre quando vai ser efectivado em Mbanza Kongo, por depender do Ministério de tutela.

De acordo com Ábia Graça Fortuna, enquanto se aguarda pela implementação do roteiro e mapa turísticos, os turistas, uma vez na cidade de Mbanza Kongo, podem visitar os monumentos e sítios históricos em pouco tempo, porque maior parte encontram-se confinados.

"A nível do Centro Histórico de Mbanza Kongo, em duas horas o turista nacional ou estrangeiro, pode visitar monumentos como o Museu dos Reis do Kongo, o Sunguilo, o Yala-Nkwo, o Kulumbimbi (ruínas da Catedral de São Salvador do Kongo construída no século XV, considerada a igreja colonial mais antiga da África Subsaariana), o Tadi dya Bukikua, o Mpindi Ya Tadi e o Túmulo da Dona Mpolo”, avançou.

Quanto à localização das Grutas de Nzau Evua, considera uma situação complicada para o turista que pretender visitá-las, tendo em conta os 75 quilómetros que as separam da cidade de Mbanza Kongo, por escassez de transporte, motivada pela falta de investimento no referido segmento.

"A expansão do turismo, também, está afectada pela falta de vias de acesso que permitem aos turistas chegarem até às quedas de água da Serra de Kanda, no município do Kuimba, o curso do rio Zaire, no Nóqui, assim como às belas praias e lagoas do Nzeto que necessita de investimentos. Para tal, apelamos maior criatividade dos empresários nacionais e estrangeiros para a construção de espaços recreativos e restaurantes, onde o visitante possa saborear os quitutes da terra”, disse.

No tocante à Ponta do Padrão, o Porto do Mpinda, a Igreja do Mpinda e a Pedra de Feitiço, esta última localizada a cerca de 145 quilómetros da sede do município e, sobretudo as 120 ilhas, todos no Soyo, segundo Ábia Graça Fortuna, constituem pontos turísticos que chamam a atenção dos turistas, mas necessitam de investimentos para melhor cativar o visitante e, por esta  constituírem-se em fontes de angariação de receitas.

"A nível do município do Soyo, tendo em conta os pontos turísticos que dispõe, há uma necessidade de empreendedores investirem em infra-estruturas e para a navegação, sobretudo nas 120 ilhas dispersas, porque as canoas rudimentares não oferecem conforto aos turistas, por isso, o aconselhável seria a utilização de meios capazes de movimentar turistas até ao Nóqui. Sem esquecer a necessidade de serem montados pontos para escala dos turistas com todas as condições”, disse.

A província do Zaire, avançou, possui atractivos históricos e naturais, que se aliam às estórias míticas sobre o Reino do Congo que, podem ser usados para fomentar o turismo rural, histórico e religioso e, sobretudo, contribuir para o desenvolvimento económico da região.


Escassez de alojamentos e outros serviços

A província do Zaire, como frisou, necessita de mais unidades hoteleiras, hospedarias e pensões, que vão associar-se aos 1.015 quartos disponíveis, actualmente, com vista a garantir alojamento a quem visite à região, tanto para fins turísticos, como para negócios.

Para tal, o sector privado, segundo sugeriu, deve ter uma intervenção decisiva na construção de mais unidades hoteleiras, na criação de empresas de transporte e promoção da cultura local.

"A região, ainda, é virgem e debate-se com escassez de infra-estruturas hoteleiras para acomodar os turistas. Para ter uma ideia, a região possui apenas oito hotéis, 14 pensões, 22 hospedarias, 20 restaurantes, seis lanchonetes, dois aldeamentos e um Aparthotel, que totalizam uma oferta de 1.015 quartos”, referiu.

Por esta razão, a chefe de Departamento do Gabinete da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos no Zaire defendeu a necessidade do Executivo criar mecanismos para ceder créditos aos empresários do ramo hoteleiro com infra-estruturas por terminar, enquanto se dedica, também, na reparação das vias de acesso e alocação dos serviços sociais básicos, como água e energia eléctrica nas diferentes localidades da região.

"Lamento, o facto dos empresários do sector hoteleiro estarem muito fixados com a ideia de construir imponentes hotéis de cinco estrelas, enquanto o turista pode alojar-se em bungalow ou que ofereçam condições de acomodação e tranquilidade, que permitam ouvir o chilrear dos pássaros e manter contacto com a natureza e símbolos da cultura local”, disse.

De salientar que, Mbanza Kongo é detentora de um património material e imaterial excepcional que a levou a ser inscrita na lista do Património Mundial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a 8 de Julho de 2017, durante a 41ª sessão do Comité deste órgão, que decorreu na cidade de Cracóvia na Polónia.


Mais de 300 quartos à disposição

A chefe de Departamento Provincial do Turismo disse que a sua instituição controla mais de 300 quartos na província, correspondentes a três hotéis, 12 hospedarias e quatro pensões, assim como 25 restaurantes que garantiram centenas de postos de trabalho aos jovens.

Andreia Solange denunciou que existe alguns empresários que actuam no ramo hoteleiro de forma ilegal há muitos anos, porque os seus estabelecimentos não estão reconhecidos por lei.

Sublinhou que nestes casos o Departamento de Turismo no Cuando Cubango tem trabalhado, no sentido de ajudá-los a se tornarem legais no mercado e garantir uma boa prestação de serviço.

"Por este motivo, nós incentivámos os empreendedores neste ramo a procurarem os nossos serviços, no sentido de receberem explicações credíveis para actuarem com sabedoria e estarem legalmente”, disse.

Andreia Muhitu salientou que nos anos passados para legalizar um estabelecimento hoteleiro levava muito tempo e daí que alguns empreendedores esperavam mais de seis meses para conseguirem os documentos, o que inviabilizou com que muitas pessoas investissem no sector devido à demora no licenciamento da actividade.

Referiu que hoje com a entrada em vigor do Simplifica muitos documentos deixaram de fazer parte dos requisitos para a legalização da actividade, uma vez que em apenas uma semana e sem qualquer burocracia o cidadão pode receber a licença do seu estabelecimento.


Guias turísticos melhor preparados para os desafios

Andreia Muhitu informou que actualmente a província conta com 35 guias turísticos formados pelo Departamento Provincial do Turismo devidamente preparados para exercerem as suas actividades em qualquer ponto da região.

Destacou que a legislação em vigor qualifica o guia turístico como profissional cadastrado pelo Ministério do Turismo, cujas funções são as de acompanhar e orientar pessoas ou grupos de turistas ou viajantes, assim como transmitir-lhes informações durante viagens ou deslocamentos no país e no exterior.

Lamentou o facto de a maior parte dos guias turistas não exercerem a sua actividade, devido ao número reduzido de turistas que visitam a província, sobretudo os locais turísticos nos municípios do interior.

Andreia Muhitu recomendou aos estudantes do curso de Gestão Turística da Universidade Cuito Cuanavale, a explorarem as suas habilidades e conhecimentos, principalmente quando ainda estiverem no primeiro e segundo ano da sua formação para implementarem negócios no sector hoteleiro, de maneiras que quando terminarem não vão à procura do emprego, mas se tornem um empresário e empregador.

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