Sociedade

Cidade das “acácias rubras” começa a recuperar brilho do passado

Arão Martins / Benguela

Jornalista

As Avenidas 31 de Janeiro e do Curinge, na cidade de Benguela, estão a receber novo asfalto, no âmbito das Obras das Infra-estruturas Integradas.

17/05/2024  Última atualização 12H35
© Fotografia por: fotos de Arão Martins | Edições Novembro

A colocação de asfalto envolve várias etapas. Primeiro, a área é preparada, nivelada e compactada. Depois, uma camada de base é adicionada, seguida do asfalto. Este é então espalhado e compactado usando equipamentos especializados, como rolos compactadores.

O trabalho é dinâmico. Após a compactação, a superfície é finalizada para garantir uma boa aderência e durabilidade. No processo, são visíveis as equipas de trabalhadores e máquinas em movimento dia e noite para a colocação do asfalto.

A dinâmica aumenta, sobretudo, porque há necessidade de concluir o trabalho rapidamente, minimizando o impacto negativo no tráfego.

Para António João, morador do bairro Quioche, se no início, devido à interdição do trânsito, haviam mais comentários pela negativa, hoje, com a nova configuração e os ganhos à vista, as pessoas olham mais para os benefícios.

A colocação do asfalto é uma das notas positivas com que Benguela assinala, hoje, os 407 anos, desde que ascendeu à categoria de cidade.

Benguela, disse, destaca-se pelo forte potencial turístico, fonte de riqueza e ponto de diversificação da economia da região. "Mas é preciso que se criem  melhores estradas, não só em direcção aos pontos turísticos mas começando pela urbe, que se encontra em condições de degradação, sobretudo, nas vias não abrangidas pelas obras”, sublinhou.

Benguela dos sonhos

O regedor municipal de Benguela, Francisco Domingos Tchinduli "soba Chico”, disse que as obras em curso vão permitir à população ter uma cidade renovada, com que todos sonham.

"O pensamento que o Presidente da República, João Lourenço, teve de ir buscar o governador Luís Nunes, a partir da província da Huíla, foi a mais acertada, porque, além dos trabalhos que está a realizar nas obras das Infra-estruturas Integradas, mudou, também, a forma de pensar de muitos cépticos”, acrescentou.

Quem vem de fora, exemplificou, vendo a Praia Morena, pensa que é um paraíso.  "Vendo à distância, poucos acreditam que este local está dentro da província de Benguela, pensa-se que está fora do país”, disse, frisando que o trabalho é visível e tudo coopera para o bem.

O soba indicou que muita coisa está a ser feita, indicando como exemplo a circulação na Estrada da Maxi, que está mais confortável, muito diferente do passado.

Francisco Domingos Tchinduli "soba Chico” apontou ainda o trabalho feito no Museu Nacional de Arqueologia. Para quem viu aquela infra-estrutura no passado, frisou, nota-se uma transformação profunda. "Na conversa com o povo, é visível a satisfação do trabalho de profundidade que está a ser feito”, disse.

Identidade única

Ismael Rufino, morador da cidade, descreveu a Praia Morena como "identidade única”. Reconheceu, contudo, que Benguela enfrenta, actualmente, alguns desafios, como o fornecimento de energia, água e saneamento básico.

Embora haja melhorias consideráveis no fornecimento de energia e água, segundo Ismael Rufino, ainda assim, verifica-se, em alguns bairros, deficiências nesses serviços.

A localização geográfica de Benguela, reconheceu, garante um destino acessível para o turismo.

"Estamos a assistir a um investimento da parte do Governo, que faz acreditar num futuro risonho”, disse.

Desafios a vencer

A munícipe Teresa do Carmo Samacongo Victorino disse que Benguela, apesar de ser uma cidade linda, ainda tem muitos desafios na área do saneamento básico e o aumento do número de crianças e idosos pedintes.

 "Como munícipe, gostaríamos que o Governo criasse políticas públicas para retirar essas pessoas das ruas e colocá-las nos centros de acolhimento, para terem mais dignidade”, defendeu.

O facto de Benguela ser um destino para muitos turistas oriundos de vários pontos para desfrutarem das praias e da gastronomia local foi destacado como algo positivo. Clara Bimbi Sessa valorizou a hospitalidade da população local.

Património histórico-cultural

O historiador Joaquim Grilo disse que Benguela é detentora de um enorme e valioso património histórico-cultural, onde despontam edifícios, monumentos, centros históricos e culturais. Este potencial, salientou, é suportado por estruturas de apoio, onde se destaca o Porto do Lobito, com excelentes condições para a recepção de cruzeiros.

Para o historiador, o turismo ferroviário é outro produto de interesse que pode funcionar na perfeição com a actual capacidade e extensão do Caminho-de-Ferro de Benguela, enquanto as ligações aéreas estão salvaguardadas, com o Aeroporto Internacional da Catumbela.

"Notamos, em Benguela, um trabalho de profundidade. Porém,deve-se dizer que Roma e Távia não se fizeram num só dia. Significa que tudo que é trabalho leva tempo. Porém, estamos a notar um ponto fulcral e alegre, que é a recuperação das nossas estradas que estavam um caos. O actual governador provincial, Luís Nunes, arregaçou as mangas e está a trabalhar. Ele é daquelas pessoas que a forma de falar é de fazer e devia ser para toda a gente. Ele está a fazer e os frutos vão aparecendo”, disse.

Joaquim Grilo referiu que a Rua das Mouras, que andou fechada durante muitos anos, já tem novo tapete asfáltico. O mesmo acontece com a Estrada 31 de Janeiro, que considerou uma obra que poderá durar de 40 a 50 anos.

Joaquim Grilo acredita que, com esse ritmo, em 10 anos, haverá resultados muito positivos.

Recuperar as Acácias

O historiador Joaquim Grilo disse que Benguela foi conhecida como Cidade das Acácias Rubras. Lembrou que, nas antigas colónias portuguesas, havia apenas duas cidades que ostentavam acácias rubras, a antiga cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo, capital de Moçambique e Benguela. "São cidades com arborização extensa das acácias rubras. Hoje, esse título quase passa para o Luena”, lamentou.

As Acácias Rubras são uma referência de Benguela, mas, actualmente, disse, "procuramo-las como quem procura agulha num palheiro”.

"No tempo da minha infância, havia um período, entre Novembro e Janeiro, em que a cidade ficava ao rubro. Ficava toda vermelha e depois dava aquela flor vermelha e bonita. As pétalas iam caindo e o chão ficava vermelho. Era maravilhoso ver Benguela em Dezembro”, lembrou.

Acrescentou que nos jardins havia amendoeiras que também floresciam em Dezembro.

Cintura verde

Cidade do litoral com condições para o desenvolvimento da pesca industrial, captura, extracção de sal e reparação naval, Benguela é detentora de uma cintura verde de aproximadamente 20 km. Os rios Cavaco e Coringe suportam a actividade agrícola, seja ela empresarial ou artesanal.

O turismo é indubitavelmente uma marca da capital benguelense. É sustentada pelos recursos naturais inigualáveis e o património histórico e arquitectónico, onde se destacam a Catedral de Benguela, a Igreja da Nossa Senhora do Pópulo, o Museu Nacional de Arqueologia, o Centro Turístico do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), o Cine Kalunga e outras estruturas arquitectónicas como o Cine – Teatro Monumental, ainda em obras.

Promoção dodesenvolvimento local

A administradora municipal de Benguela, Paula Mariza, disse que as políticas públicas voltadas para as áreas da Saúde, Educação e Assistência Social são um exemplo para a promoção do desenvolvimento local.

Paula Mariza apontou como exemplos os projectos enquadrados nas Infra-estruturas Integradas do município de Benguela, que abrangem as vias 31 de Janeiro (Mar e Sol) / Hospital Geral de Benguela) e das Mouras (Rotunda da Cruz Vermelha/Colégio Elizângela).

O fornecimento de merenda escolar,o apoio às famílias vulneráveis, a capacitação técnica e profissional nas áreas de carpintaria, a pastelaria, a decoração, a canalização,o  empreendedorismo e a literacia financeira são outras acções destacadas pela administradora municipal.

 História da cidade

A 17 de Maio de 1617, Manuel Cerveira Pereira desembarcou na Baía das Vacas, onde fundou o Forte de S. Filipe de Benguela, futura capital do Reino de Benguela.

Em 1641, Benguela foi conquistada pelos holandeses e só em 1648 forças portuguesas, comandadas por Salvador Correia de Sá e Benevides, libertaram a cidade e expulsaram os ocupantes.

A região tornou-se mais tarde num dos mais importantes pontos para a migração e penetração dos portugueses no interior, conhecendo então uma fase de grande progresso.

Quase totalmente destruída por uma esquadra francesa, em 1705, Benguela foi reconstruída entre 1710 e 1733. Acredita-se que a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, aberta ao culto a 1 de Novembro de 1748 e classificada como monumento nacional, terá sido a primeira construção de pedra e cal da cidade.

Feira Internacional de Benguela

Para assinalar os 407 anos de Benguela, o governador provincial, Luís Nunes, decretou tolerância de ponto em toda a extensão da urbe.

No âmbito das festas, estão previstas várias actividades, com destaque para a Feira Internacional de Benguela (FIB) 2024, Feira Agropecuária, Fórum sobre o Dia Internacional dos Museus, a decorrer no Museu de Arqueologia de Benguela.

Constam igualmente do programa das festividades a 13ª edição da Feira de Gastronomia denominada Paladares Mil, provas desportivas, com destaque para o atletismo, karting, ciclismo e torneios de futebol 11, shows musicais e uma feira agropecuária denominada "O Mercadão”.

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