Opinião

Angola persegue sucesso por geração espontânea

Honorato Silva

Jornalista

A popularidade do futebol eleva o seu Mundial à condição de evento desportivo mais seguido da humanidade, embora sejam os Jogos Olímpicos, pela multiplicidade de modalidades, a maior concentração de atletas. Atrás do fascínio da bola, correm todos os países. Das mais fortes economias às menos robustas. No entanto, povos iguais no sonho legítimo de desfilar na gala planetária.

24/11/2023  Última atualização 06H15
Depois da presença inédita em 2006, na Alemanha, os angolanos alimentam, a cada quatro anos, a vontade de voltar a ver a bandeira hasteada e a ouvir o entoar do Hino Nacional, nos estádios que colhem o Campeonato do Mundo, evento dominado pelas nações futebolisticamente mais bem apetrechadas, apesar da presença de debutantes, que de vez em quando fazem jus ao carácter democrático dessa disciplina desportiva, por permitir a queda de gigantes aos pés de pequenos, à semelhança da surpreendente vitória de David, na disputa desigual com Golias.

Mas não basta ter vontade, apesar de o sucesso estar intrinsecamente ligado ao tamanho e à força da nossa fé. Acreditar na capacidade de realizar uma tarefa, com vista à materialização do objectivo preconizado, é o primeiro passo a ser dado, para que no final se possa sorrir. E tudo obedece a uma planificação. Têm de ser definidos, à partida, os meios destinados ao fazer do caminho.

No caso das nossas Palancas Negras, a fome não está a casar com a vontade de comer. Quiçá por falta das vitaminas capazes de abrir o apetite futebolístico da Selecção Nacional, face ao longo jejum, sem propósito aparente, visto estarem contabilizados seis jogos saudados em seca de vitórias, com o empate (0-0) a perfilar-se como a tendência dos resultados. Entre jogos oficiais e amistosos, nos últimos três meses já foi observado quatro vezes.

Pela forma aligeirada como são preparados os nossos compromissos, fica a impressão de que os organismos decisores, Federação e Governo, o último representado pelo Ministério da Juventude e Desportos, limitam-se a surfar a onda de emoção pura dos adeptos, isso em comparação às condições postas à disposição dos adversários, nomeadamente logística para concentração e treinos, incluindo celeridade e eficácia na realização das viagens de ida e volta, por forma a evitar a exposição de jogadores e equipa técnica a esperas infindáveis em aeroportos e, inclusive, retenção fora de casa, como aconteceu há dias em Cabo Verde, por razões administrativas.

Ver a sua selecção no Campeonato do Mundo de futebol é "desejo de consumo” de uma esmagadora e ruidosa maioria dos habitantes terrenos. Todavia, é impossível lá chegar montado no sucesso por geração espontânea, meio por nós escolhido para consumar a repetição de tal feito, 17 anos depois, quando o baptizado Mundial das américas, nos Estados Unidos, Canadá e México, em 2026, vai assinalar exactas duas décadas desde as aparições memoráveis das Palancas Negras nas cidades alemãs de Colónia, Hanover e Leipzig. A conquista do direito de jogar aos olhos do planeta exige algo superior à minúscula estrutura da FAF. Demanda envolvimento de Estado.  

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