Reportagem

Água e energia da rede pública chega a Cangandala

Francisco Curihingana | Malanje

Jornalista

Papusseco Cangundo, residente no município de Cangandala, província de Malanje, não esconde os sinais de satisfação. Não pára de sorrir. Está muito feliz com a chegada de água potável e de energia eléctrica da rede pública na localidade.

14/06/2023  Última atualização 11H09
© Fotografia por: DR

Apesar de o bairro onde vive não estar abrangido na primeira fase do processo de distribuição, o munícipe acredita que, mais cedo ou mais tarde, tais serviços vão chegar a todos os moradores da periferia.

Igualmente satisfeita, a munícipe Fiança Gouveia não quer ficar muito tempo à espera para ver a energia e a água chegar aos bairros que circundam a vila municipal de Cangandala e, por isso, pede que os serviços sejam imediatamente expandidos, "para assegurar o desenvolvimento equilibrado da região”.

O empreendedor Tiago João Justo, que actua na área de Prestação de Serviços e Comércio Geral, lembra-se das dificuldades pelas quais passou, antes da chegada da energia ao município, para manter o escritório funcional com recurso a um velho gerador.

Explicou que as suas actividades são mais realizadas no escritório, onde é impossível trabalhar sem energia eléctrica, porque os equipamentos dependem 100 por cento disso para funcionar.

 "Mas agora já temos energia da rede pública 24/24 horas. Vou ter muitos ganhos e até já penso em alargar os serviços porque, com o gerador, algumas máquinas permaneceram desligadas. Acabou o stress de comprar e armazenar muito combustível, de gastar dinheiro para fazer regularmente a manutenção do gerador, enfim, tudo isso ficou para trás”, disse o jovem empreendedor, visivelmente satisfeito.

 Quem também salta de alegria é a comerciante Suzana Tomás, que actua no Mercado Municipal de Cangandala, local onde, há mais de cinco anos, comercializa produtos diversos. "Dou graças a Deus por isso. As nossas preces foram ouvidas. Sofremos muito com a falta de água e luz eléctrica, mas agora o nosso problema está resolvido. Os nossos filhos já não vão andar à toa para ver os diferentes programas de televisão, principalmente novelas e jogos de futebol. Estou muito feliz”, disse.

 Sobre a água, a dona Susana Tomás lembra que, muitos dos moradores iam buscar o líquido precioso num poço localizado no bairro Kaionde, a cinco quilómetros da sede municipal. "Mas hoje, graças a Deus, já temos água nos nossos quintais. Estamos muito agradecidos e satisfeitos”, concluiu.

Para o soba de Cangandala, Alexandre António "Saka”, "com a chegada da água e energia na localidade, a população vive grandes momentos de alegria, porque sabe que o desenvolvimento deste município depende da presença desses dois importantes serviços sociais”.

Em Maio deste ano, os munícipes de Cangandala passaram a contar com uma subestação de energia eléctrica ligada à barragem hidroeléctrica de Laúca, e com um sistema de captação e abastecimento de água potável para cerca de 40.537 habitantes. As obras do sistema de água, executadas ao longo do rio Cuije, ficaram orçadas em 6.751.239 dólares norte-americanos.

 Os dois equipamentos sociais foram inaugurados pelo ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, que, na ocasião, reconheceu existir ainda muito trabalho a ser feito em Malanje, numa altura em que, dos 14 municípios da província, apenas quatro estão electrificados, nomeadamente Malanje (sede provincial), Cacuso, Calandula e Cangandala.

"Ainda temos um grande desafio pela frente, que é o de electrificar os outros dez municípios, e, se tudo correr como previsto, isso será feito nos próximos quatro anos”, garantiu.

Segundo o ministro João Baptista Borges, o antigo sistema de captação e abastecimento de água já não tinha capacidade para suportar a procura, devido ao crescimento populacional. "Esse novo sistema vai permitir cobrir todo o município de Cangandala. Portanto, o trabalho de expansão da rede vai continuar a ser feito, para abranger os bairros e aldeias da periferia”, sublinhou.

O governador de Malanje, Marcos Nhunga, depois de destacar os ganhos económicos e sociais do município, referiu que, na região da "Palanca Negra Gigante”, se deu prioridade à reabilitação das vias de acesso, abastecimento de água e fornecimento de energia eléctrica.

Pediu às autoridades tradicionais do município no sentido de tranquilizarem a população, pois, "paulatinamente, todos vão beneficiar de energia eléctrica da rede pública”.

Segundo o administrador municipal de Cangandala, Dilangue Baião, a chegada desses serviços à localidade constitui uma mais-valia, pois há mais de 20 anos que Cangandala não tinha uma Estação de Tratamento de Água (ETA).

 "Este projecto permitiu a criação de 27 fontanários, dos quais 13 de duas bicas e 14 de quatro bicas, para beneficiar mais de 23 mil habitantes”, explicou.  O novo sistema de água, de acordo com o administrador Dilangue Baião, estende-se da zona norte da aldeia de Capemba de Baixo, no limite com o município de Malanje, e chega até à sede do município. "Todos os bairros ao longo da via têm fontanários e, aqui a nível da vila, a água também chega às aldeias de Cassuco e Beje”, acrescentou.


Mais de 15 mil beneficiários

Em Cangandala, o novo sistema de fornecimento de energia eléctrica está a beneficiar mais de 15 mil habitantes. A energia, de acordo com o administrador Dilangue Baião, estava restringida apenas aos moradores da sede municipal.

"Os cabos de média tensão saíram do município sede da província para Cangandala e, nessa altura, todas as suas aldeias circunvizinhas também já estão a beneficiar de energia. Fez-se uma interligação entre a rede nova com a rede antiga, uma vez que, anteriormente, o município era abastecido através de grupos geradores”, explicou.

Com os grupos geradores, lembrou, a energia era fornecida diariamente no período das 18 horas até à meia noite. "Existe, neste momento, o compromisso de que os bairros, ao longo da Estrada Nacional 140, sobretudo da aldeia Capemba de Baixo até à aldeia do Sango, nas imediações dos 200 fogos habitacionais, sejam beneficiados”.

"A ENDE deve fazer o levantamento, portanto, os contactos já estão em curso para se fazer o levantamento dos agregados familiares, número de habitações que existem em cada aldeia, para que sejam feitas as devidas marcações e o Ministério da Energia e Águas e o Governo Provincial de Malanje possam adquirir mais Postos de Transformação de Electricidade (PTE) para facilitar a expansão para esses bairros e, consequentemente, melhorar a distribuição da energia eléctrica”, disse.

Dilangue Baião acrescentou que, a nível da sede do município, existem outros desafios a cumprir, como melhorar a iluminação pública e o funcionamento dos serviços de saúde. O administrador de Cangandala garantiu que os bairros que ficam ao longo da Estrada Nacional nº 140, a aldeia de Kipakassa e o sector do Kwanza, onde existem lugares turísticos como os Rápidos do Kwanza e a respectiva praia, também vão ser iluminados.

 "Com a energia, o investimento privado vai ser uma realidade. Nós lá no Kwanza não temos só os rápidos, mas também as sete Ilhas, um lugar lindo para ser visitado muitas vezes, a Ilha do Ngola, enfim, aí está o reencontro com a nossa história”, realçou.

Para o administrador, a chegada da energia eléctrica vai proporcionar bons níveis de desenvolvimento à circunscrição. Dilangue Baião explicou que, desde o dia da inauguração dos sistemas de água e energia eléctrica, o volume de solicitações de terrenos, para a construção de empreendimentos socioeconómicos, aumentou significativamente. "Diria mesmo que as solicitações quadruplicaram”, indicou.


Dificuldades na implementação do PIIM

"O Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) em Cangandala não marcha bem”, sublinhou o administrador municipal, para justificar que dos cinco projectos destinados à localidade já foram concluídos três (duas escolas e a obra de melhoria do saneamento básico).

O grande problema reside nas obras de terraplanagem dos troços rodoviários Cangandala/Caribo/Cula Magia e Cangandala/Bembo, paralisadas há mais de oito meses. Neste momento, estão em curso acções de concertação com os empreiteiros, para poderem retomar empreitadas.

 Sobre o pacote financeiro das obras da via Cangandala/Caribo/Cula Magia, Dilangue Baião acrescentou que falta pagar 80 milhões de kwanzas ao empreiteiro, enquanto para a comuna de Bembo faltam 205 milhões de kwanzas. "Falta-nos também pagar uma escola de 12 salas de aula e outra de sete”, disse.


Falta de professores
e de salas de aula

Um total de 500 professores garantem o funcionamento do sector da Educação, no município de Cangandala, localidade que necessita de pelo menos mais 100 docentes para reduzir o número de crianças que se encontram fora do sistema normal de ensino.

 Este ano, com a entrada em funcionamento de 12 salas de aula, construídas no âmbito do PIIM, foi possível matricular mais de 20 mil alunos da Iniciação à 12ª classe.

Cangandala conta com um hospital que, além de prestar assistência médica e medicamentosa à população residente, tem vindo a atender os pacientes vindos da cidade de Malanje e do município de Mussende,  Cuanza-Sul.

Além do hospital e do centro de saúde que funcionam na comuna do Bembo, o município de Cangandala dispõe de mais dez unidades sanitárias (postos de saúde) nos sectores de Tamba, Kwanza, Kipakassa, Cacualo, Kimuezo, Gio, na aldeia de NgolaKassaxi, bem como nas comunas de Caribo e Cula Magia, que funcionam, maioritariamente, com enfermeiros eventuais.  Para a directora municipal de Saúde em Cangandala, Claudete Africana, a retirada da rubrica financeira destinada aos "Cuidados Primários de Saúde” está a condicionar o funcionamento do sector.

O Hospital Municipal de Cangandala oferece serviços de banco de urgência, consultas externas, pediatria, medicina, farmácia, entre outros. As áreas de oftalmologia, estomatologia e raio-x deixaram de funcionar por falta de especialistas, dificuldades no manuseamento dos novos equipamentos ou avaria dos mais antigos.

Com oito médicos, entre os quais uma mulher expatriada, o Hospital Municipal de Cangandala dispõe de apenas uma ambulância.

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