Sociedade

Adelaide Armando já é uma agrónoma de referência no município da Chibia

Estanislau Costa | Lubango

Jornalista

Adelaide Armando, 40 anos, engenheira agrónoma de profissão, é uma esposa dedicada que sabe conciliar as tarefas de casa e o lado profissional. Para o efeito, optou por gerir todo o seu tempo, do qual as acções domésticas merecem a atenção a partir das 5h30, de segunda a sexta-feira.

27/03/2024  Última atualização 08H10
Empreendedora que faz do campo o ganha-pão © Fotografia por: DR
Nesta hora, trata de preparar as roupas e material dos dois filhos mais pequenos, para às 6h40 os acordar e velar pela higiene e vestuário. O esposo trata dos seus haveres a partir das 7h00, para de seguida se juntar à mesa com os filhos e tomar o pequeno almoço.

Às 8h00, Adelaide Armando junta-se aos  colegas para cumprir com as tarefas na Direcção Municipal da Agricultura, Pecuária e Pescas da Chibia. Após o expediente, depois das 15h00, desloca-se ao seu espaço agrícola, a fim de observar o desenvolvimento das culturas e interagir com os cinco trabalhadores.

A rotina da agrónoma prossegue com as aulas numa das escolas da sede da Chibia, que começam às 18h00 e se alargam até às 20h00. Contou que tem o dia todo preenchido e faz tudo para cumprir  com todos os deveres, notadamente familiares e os de serviço público e particular.

Segundo ela, o trabalho  extra, sobretudo no campo, que garante o maior bolo para o sustento da família, tem merecido mais atenção aos fins de semana e nos feriados, já que toda a família, incluindo o esposo, aproveita para avaliar o desenvolvimento das culturas.

Adelaide Armando elogia o esposo por ser compreensível em muitas situações e ser um homem empenhado ao trabalho. "Se não fosse isso, não teria tempo para fazer adornos para as mulheres que apreciam os objectos da cultura Nhanekha Nkhumbi, utilizados em eventos culturais e outros”.

Recuo no tempo

Ela recua no tempo, para assinalar que, aos 14 anos, se soltou da casa dos pais e partiu para o município da Humpata, onde ingressou no Instituto Médio Agrário do Tchivinguiro, 25 quilómetros a Oeste da circunscrição. Foi nesta instituição onde aprendeu o ABC da agricultura.

O empenho de Adelaide Armando teve algum impacto na consolidação da prática, concluindo no tempo previsto a formação superior no Instituto Superior Politécnico da Huíla (ISPH), e com a proposta de ingressar na Direcção Municipal da Agricultura e Pescas da Chibia.

Foi o enorme espaço agro-pecuário da Sociedade de Gestão do Perímetro Irrigado das Gangelas (Sogangelas) que a levou a experimentar a agricultura industrial com a assessoria a vários produtores que adquiriram parcelas de terra ao longo do canal de irrigação para fins agricultáveis.

A criatividade e perfeição da engenheira agrónoma fizeram com que, nos tempos livres, se dedicasse à produção de acessórios como adornos usados pelas mulheres mumuilas, com realce para missangas, pulseiras, cintos femininos, sandálias, máscaras, entre outros.

Na verdade, a empreendedora Adelaide Armando cativa a reportagem do Jornal de Angola pelo vasto espaço produtivo do perímetro irrigado das Ngangelas. Conseguiu cativar dezenas de clientes de vários pontos da província da Huíla, porque além de fabricar e comercializar diversos produtos de artesanato, se dedica também à produção de sementes de cebola, alho e tomate.

"Dezenas de clientes que exploram espaços agrícolas próximo ao canal de irrigação e provenientes da Humpata, Quipungo, Lubango, Matala, Quipungo e Cacula compram aqui as plantas germinadas e preparadas para o fomento das culturas noutros pontos da Huíla, Cunene e Namibe”, disse.

Descreveu, que ao longo dos tempos, vários clientes foram se apercebendo da qualidade dos alimentos naturais e começaram a fazer encomendas, com realce para a couve, repolho, cebola, alho, alface e tomate. "Para satisfazer os pedidos, especialmente dos clientes com restaurantes, lanchonetes, hamburguerias e outros, optei por aumentar os canteiros de lavoura”, disse.

A irrigação por gravidade no canal, segundo ela, é uma mais-valia, por permitir a actividade do campo em todas as épocas e sem exigir qualquer esforço dos produtores, fazendo com que, na hora da rega, todos se empenhem outras coisas úteis ao desenvolvimento dos campos.

Explicou ainda que, nos seus três hectares de terras aráveis, a lavoura quase que é ininterrupta, devido à permanência de água, tanto na época chuvosa como no Cacimbo. "No tempo da chuva, optamos pela lavoura do milho e quase a aproximar- se o Cacimbo, a aposta são os cereais e algumas leguminosas”, referiu

Descreveu que a forma de produção faz com que não haja escassez de produtos nos mercados. "O que pode acontecer é a subida dos preços de certos produtos do campo por haver fases que escasseiam, apesar da produção ser feita em todas as épocas, com especial atenção para o tomate, a cebola e verduras”, contou.

Justificou  que a utilização de produtos naturais para a fertilização dos solos tem há algum tempo cativado dezenas de clientes, principalmente aqueles com preferência "para alimentos limpos, sem químicos e outros compostos usados para a fertilização dos solos”.

A empreendedora afirmou que a preparação dos solos com estrume vegetal expelido pelos bois, cabritos e aves é o segredo para a qualidade dos alimentos do campo. "Para se atingir as quantidades consideráveis de estrume, urge a recolha de quantidades consideráveis de palha ou capim elefante e colocar nos currais, onde permanecem mais de quatro meses”, disse.

Clientes de vários pontos

A resiliência da angenheira Adelaide Armando é recompensada pelo grande número de clientes provenientes das províncias do Namibe, Huíla e Cunene, que afluem em massa para casa e, em alguns casos, ao campo de lavoura, com objectivo de adquirirem as hortaliças e frutas orgânicas. Há mesmo quem se antecipe nas encomendas. "Este procedimento obriga-me a criar as condições necessárias para honrar com todos os compromissos”, disse.

"Constatei que a vida no campo é de facto cativante, interessante, cheia de surpresas e, essencialmente, rentável, pela razão da alimentação ser uma necessidade vital para os seres humanos e animais, assim como haver alguém que continue a primar pela qualidade”, descreveu.

A agrónoma, nos últimos tempos, está apostada no cultivo de trigo em áreas de sequeiro. Pretende igualmentededicar-se à reprodução massiva de gado bovino, caprino e suíno que vai adquirir com os fundos que está a juntar com a venda de hortícolas  a fazendas agrícolas e produtores singulares.

A preferência pelo trigo e outros grãos tem a ver com a materialização de vários projectos que estão a impulsionar o cultivo de cereais, com realce para o Planagrão, que, além das empresas agrícolas conceituadas, está também a contemplar as associações de camponeses.

Preferiu, neste momento, alargar os espaços de produção de alho e cebola pela forte resistência à geada. "Há muitas lamentações de vastos hectares com culturas destruídas pela geada, mas quase ninguém reclamou das culturas de alho e cebola”.

Adelaide Armando  contou também que está agora a fazer alfobres para os espaços agrícolas atribuídos aos jovens agricultores. "Já tive sucesso sobretudo nos alfobres de cebola instalados nas localidades da Quihita (Chibia), Lubango e Humpata”, disse.

A agrónoma dá o seu máximo em partilhar experiências sobre a agricultura, com vista a aumentar as colheitas e também o abastecimento de alimentos aos supermercados locais, assim como às províncias do Namibe e Benguela. "O empenho, neste momento, é crescer cada vez mais, de modo a haver maior facturação”.

Desta forma, realçou, vai aumentar o número de colaboradores de 20 para 60. Os actuais clientes contribuem para um rendimento que dá para satisfazer vários encargos, notadamente com o pessoal, a aquisição de sementes, o transporte das culturas, entre outros.

Construção de mais açudes

A construção de mais açudes em vários pontos dos rios Tchimpumpunine e Cunene, defendeu a agrónoma, pode evitar o desperdício de água para o mar e as consequências da seca que tem afectado dezenas de famílias e animais de grande porte da região Sul.

Também está inquieta com os preços das sementes e fertilizantes, por atrapalhar as acções dos produtores. "Todos os insumos do campo deviam ser subvencionados pelas autoridades, de modo a criar condições para a redução dos preços dos bens do campo, nos mercados formais e informais”, defendeu a concluir a engenheira agrónoma.

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