Sociedade

“Museus de História Natural e Regional de Cabinda necessitam de intervenção urgente”

Mário Cohen

Jornalista

O Museu Nacional de História Natural, em Luanda, e o Museu Regional de Cabinda necessitam de uma intervenção urgente, para a sua preservação e manutenção, segundo a directora-geral do Instituto Nacional do Património Cultural (INPC), Cecília Gourgel.

18/05/2024  Última atualização 12H30
Museu de História Natural é dos mais antigos do país e conserva diversas espécies da fauna e flora de diferentes regiões © Fotografia por: EDIÇÕES NOVEMBRO

Em entrevista ao Jornal de Angola, a propósito do Dia Internacional dos Museus, que se assinala hoje, Cecília Gourgel justificou que os dois  são prioritários, devido à importância dos acervos que albergam.

Tendo em conta a definição dada pelo Conselho Internacional de Museus, esclareceu que os museus nacionais são instituições públicas, de carácter permanente, sem fins lucrativos, que estão ao serviço da sociedade. Logo, justificou, "a preservação e valorização dos testemunhos da nossa memória serão mais eficientes se contarmos com a participação activa das comunidades, no âmbito de uma gestão participativa”.

A directora-geral do INPC informou que a instituição está encarregue da implementação das políticas públicas no domínio da investigação, conservação, salvaguarda, gestão e promoção do Património Histórico-Cultural. Foi criado por meio do Decreto Presidencial n°16/21, de 14 de Janeiro, que aprova o seu estatuto orgânico e alarga as suas atribuições para a supervisão dos museus nacionais, no âmbito do Programa de Reforma Administrativa.

Cecília Gourgel explicou que os museus são instituições permanentes, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, abertos ao público, com a finalidade de conservar, estudar, comunicar e expor testemunhos materiais do homem e do seu meio ambiente, tendo em vista o estudo, a educação e a fruição.

Neste momento, Angola tem os museus nacionais de História Militar (antiga Fortaleza de São Miguel), de Hístória Natural, de Antropologia, da Escravatura, de Arqueologia,  da Força Aérea, no Bengo, Etnográfico do Lobito e os museus regionais do Dundo, de Cabinda, da Huíla, Etnográfico do Uíge, do Huambo, dos Reis do Kongo, província do Zaire (foi alterada a designação de forma a ser enquadrado como Património Mundial), bem com a Casa Museu Óscar Ribas, em Luanda.

Museu da Escravatura

O Museu Nacional da Escravatura foi reabilitado em 2014, no âmbito do Festival Nacional da Cultura (FENACULT).

 O director-geral da instituição, Vladimiro Fortuna, informou que o museu presta serviço à sociedade no quadro da sua missão de pesquisar, recolher e expor para o público informação histórica sobre a escravatura.

Segundo o responsável, o museu tem uma exposição permanente que destaca cinco temáticas importantes para a compreensão da história de diferentes fenómenos no país e no mundo. Em destaque, estão as temáticas da escravatura e religião, exibida na primeira sala, a travessia do Atlântico, na segunda e a escravatura doméstica, na terceira . Na quarta sala, está a exposição sobre escravatura nas plantações, enquanto os temas sobre a resistência contra a escravatura, bem como a cultura afro-americana, estão na quinta sala.

O museu possui, para além da exposição permanente, mostras itinerantes que foram elaboradas  com o objectivo de circular pelo país e pelo mundo. Por isso, segundo Vladimiro Fortuna, o Museu Nacional da Escravatura é conhecido internacionalmente por ser um dos poucos no mundo que aborda a história da escravatura e do tráfico negreiro.

Devido a esta característica, disse, é um ponto incontornável no roteiro turístico nacional e é sempre lembrado quando se trata do turismo de memória, voltado para a escravatura e tráfico negreiro.

Segundo o director-geral, o acervo do Museu Nacional da Escravatura é formado por mais de 50 artefactos, maioritariamente constituídos por instrumentos de repressão, desde chicotes, grilhetas, pesos em ferro, algemas e correntes. A instituição possui, também, documentação escrita e da iconografia, que reporta ao fenómeno nas suas diferentes etapas.

Situado a sul da cidade de Luanda, junto ao mar, o Museu Nacional da Escravatura está aberto ao público, todos os dias da semana, no horário das 9 às 15horas (em grupo ou individualmente).

Museu Nacional de Antropologia

Para celebrar o Dia Internacional dos Museus, o Museu Nacional de Antropologia tem uma exposição denominada "A Valorização dos Instrumentos e da Música Tradicional de Angola”, aberta ontem.

Segundo o director-geral, Álvaro Jorge, a mostra pretende chamar a atenção da sociedade para a necessidade de estudar, compreender e repensar a função dos instrumentos da música tradicional de Angola, que ilustram tecnologias específicas e formas plásticas diferenciadas que permitem realçar a arte e a cultura dos seus fazedores e usuários.

Além de despertar o interesse dos estudantes e dos pesquisadores sobre os aspectos históricos, antropológicos e sociológicos nos processos de musealização do património histórico-cultural, acrescentou, a educação nos museus é uma ferramenta para melhorar e conservar o património cultural e natural.

O acervo em exposição, disse, é usado essencialmente para acompanhar as músicas tradicionais, bem como celebrar rituais e eventos importantes. "São instrumentos musicais bastante conhecidos e divulgados pelos angolanos, como o kissanje, tambores, vulgo batuques, reco-reco, cinguvu, violinos, entre outras ferramentas de canto”, sublinhou.

Parte destes instrumentos, realçou, são utilizados por grandes agrupamentos musicais da época contemporânea, fazendo a junção entre a tradição e a inovação,  além de estarem também presentes nos Estados Unidos, Brasil, Cuba, entre outros países da América do Sul.

Para Álvaro Jorge, isto reflecte a grande importância desses instrumentos, não só nos dias de hoje, mas também nos períodos anteriores.

O responsável lembrou que há uma dança chamada capoeira, uma expressão cultural e desportiva afro-brasileira, que mistura arte marcial, dança e música, desenvolvida por via dos instrumentos usados por  escravos levados para as Américas.

Segundo a direcção, o Museu Nacional de Antropologia recebe entre 900 e 1000 visitantes por mês.

Sensibilizar a sociedade sobre o papel dos museus

O Dia Internacional dos Museus, celebrado anualmente a 18 de Maio, foi organizado pela primeira vez em 1977 pelo Conselho Internacional de Museus(ICOM), com o objectivo de sensibilizar a sociedade civil para a importância dos museus enquanto meio fundamental de intercâmbio e enriquecimento de culturas, desenvolvimento da compreensão mútua, cooperação e paz entre os povos.

Desde então, em todo o mundo, multiplicam-se os museus que participam nestas comemorações, através da realização de actividades dirigidas aos mais diferentes tipos de público.

Para este ano, foi escolhido o tema "Museus para a Educação e a Investigação”, que pretende alertar a sociedade para o papel fundamental da educação no combate a alguns dos desafios mais prementes da actualidade, como a desigualdade social e a iliteracia patrimonial.

O tema destaca ainda o papel fundamental dos museus na educação e na investigação. O ICOM pretende sublinhar a importância destes como instituições educativas e dinâmicas que promovem a aprendizagem, a descoberta e a compreensão cultural.

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