Sociedade

Dia Internacional : Enfermeiros falam sobre os valores e desafios que norteiam a profissão

Madalena Quissanga

Jornalista

Assinala-se, hoje, o Dia Internacional da Enfermagem, instituído pelo Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE), em homenagem ao trabalho e à contribuição dos profissionais de Enfermagem na protecção da vida.

12/05/2024  Última atualização 09H14
Profissionais de Enfermagem cuidam do paciente e têm a responsabilidade de executar a prescrição passada pelo médico © Fotografia por: Arsénio Bravo| Edições Novembro

A celebração reconhece igualmente a importância desses profissionais na recuperação e no salvamento de vidas, seja em hospitais ou outras instituições que necessitam de cuidados de saúde.

A propósito da data, o Jornal de Angola ouviu alguns profissionais desta classe, que falaram sobre os valores e desafios que norteiam a profissão.

Luzia António, enfermeira parteira, exerce a profissão há 23 anos, no serviço de Ginecologia e Obstetrícia, na área de Parto do Centro de Saúde da Samba, em Luanda. Luzia António disse que "ser enfermeira significa ser uma pessoa amável, que se doa para cuidar a vida dos pacientes.

"É muito gratificante. É como se fosse uma mãe a cuidar do bem-estar dos filhos”, sublinhou.

Sendo uma profissão em que exige atenção, coragem, flexibilidade, empatia, doação de si mesmo e sensibilidade, Luzia António confessou que não tem sido fácil, pois, sentem a aflição do paciente, quando este geme de dores.

Em relação à valorização da profissão, a entrevistada indicou que se sente valorizada e progredir na carreira. "A verdade é que para alguém te valorizar, temos que o fazer primeiro. Quando mostramos a nossa competência profissional, não há como não sermos valorizados”, salientou.

Na questão de interacção com os utentes, a profissional reconheceu que tem sido fácil quando as situações que os levaram à unidade sanitária têm uma solução imediata.

"Há aqueles momentos em que alguns utentes se excedem. E ser enfermeiro também significa compreender, ter diplomacia, ser didáctico e ter capacidade de colocar o utente no seu devido lugar”, disse.

A enfermeira apelou aos colegas a exercer a função com zelo, nobreza e humanização. "Precisamos de fazer valer a nobreza, levando em conta os princípios da ética e deontologia. Com isso, ajudaremos os utentes”, disse.

Humanismo

O enfermeiro do Banco de Urgência Agostinho Sebastião, na especialidade de Anestesiologia e Reanimação, realçou que ser enfermeiro é doar-se, salvar vidas, acompanhar o médico e, algumas vezes, o pilar principal na ausência de outros especialistas.

A exercer a profissão desde 2018, também no Centro de Saúde da Samba, confessou que tem sido gratificante quando exercida com humanismo. "Quando associamos a ética e a empatia, nos sentimos maravilhosos, porque a Enfermagem deve ser considerada uma arte, em que as pessoas devem se sentir cuidadas e satisfeitas com a prestação da assistência em saúde”, argumentou.

O profissional apelou aos utentes para não hesitarem em procurar uma unidade sanitária, para assistência médica, nem devem pensar que vão ser maltratados. "Nós não maltratamos. É dever dos profissionais de Enfermagem e não só, prestar assistência com humanismo aos nossos utentes, para que saiam satisfeitos, porque também nos sentimos felizes em saber que salvamos uma vida”, disse.

 
Condições de trabalho

Quanto às condições de trabalho, o profissional reconheceu são aceitáveis. "Não digo boas 100%, mas 90%. Favorecem por aquilo que são os cuidados primários de saúde, para atender os nossos utentes a nível das unidades hospitalares, porque lidamos com utentes que de vários pontos, sem conhecimento da patologia e onde deve ser atendido. Nós encaminhamos para a secção de acordo com a patologia que o aflige, para a devida assistência médica”, disse.

O profissional apelou aos utentes a recorrerem às  unidades hospitalares logo aos primeiros sintomas da doença, não esperando o agravamento da situação.

Sobre a progressão na carreira, Agostinho Sebastião disse estar satisfeito e encorajado em fazer várias especialidades.

Passagem de testemunho

Anica Filho, licenciada em Ciências de Enfermagem e Psicologia Clínica, trabalha há 28 anos no Hospital Geral Especializado do Kilamba Kiaxi, na área de Saúde Reprodutiva, Banco de Urgência e Sala de Partos.

A enfermeira está grata em trabalhar para salvar vidas humanas e contribuir na formação e passagem de conhecimentos a novos profissionais que ingressam no ramo.

A profissional de Enfermagem sente-se encorajada por ajudar as comunidades carenciadas e participar em campanhas de saúde nas comunidades.

 
Valorização da classe

Este ano, o Sindicato dos Enfermeiros de Angola (SINDEA) comemora a data sob o lema "Nossos Enfermeiros, nosso futuro, o poder económico do cuidado”.

O secretário para a área Jurídica Económica e Laboral do Sindicato dos Enfermeiros de Angola (SINDEA), Evaristo Quizenga, apelou para maior valorização da classe, respeito, coesão e o reconhecimento da entrega dos profissionais.

O profissional apela ainda para o cumprimento da progressão nas carreiras, a abertura de vagas e a admissão de novos profissionais na função pública.


Reconhecimento a Florence Nightingale

O Dia Internacional do Enfermeiro ou Dia Internacional da Enfermagem foi criado pelo Conselho Internacional dos Enfermeiros. A data escolhida remete para o aniversário de Florence Nightingale, considerada a fundadora da enfermagem moderna.

Florence Nightingale nasceu a 12 de Maio de 1820, em Florença. Filha de pais ingleses, foi criada na Inglaterra, onde teve uma educação aprimorada. As visitas aos doentes que fazia com a sua mãe foram cruciais para que decidisse iniciar um trabalho mais regular junto de aldeões doentes. Esta experiência orientou-a para a Enfermagem. Inscreveu-se no curso de Enfermagem das ordens católicas religiosas em Kaiserwerth, na Alemanha, tendo completado o curso em três meses.

Com as diversas viagens que fez pela Europa, observou as várias vertentes da Enfermagem e publicou estudos comparativos entre os diversos países. O seu principal desejo era a fundação de uma escola de Enfermagem, com novas bases. O que viria a acontecer a 9 de Julho de 1860, depois da experiência que passou na assistência aos soldados durante a guerra da Crimeia, em 1853.

A nova escola assentou em princípios inovadores que transformaram o mundo da enfermagem até aos dias de hoje. A direcção da escola passou a estar sob a responsabilidade de uma enfermeira, o ensino tornou-se mais metódico através da prática e a selecção das candidatas passou a basear-se em critérios como o ponto de vista físico, moral, intelectual e aptidão profissional. Nightingale foi responsável pela introdução do ensino teórico e esquematizado da Enfermagem. O sistema de escolas de Florence difundiu-se rapidamente. De tal modo que, no fim da Primeira Grande Guerra, mais de mil escolas funcionavam com muitos livros de formação técnica e abundância de publicações profissionais.

A comemoração é uma homenagem a todos os enfermeiros, destacando a importância que têm na prestação de cuidados gerais e especializados à população.

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