Reportagem

Cacongo mostra potencial turístico e agrícola

José Bule e Pedro Vicente | Cabinda

Cacongo, localidade onde a natureza é “simpática”, reúne todos os atributos de beleza numa área total de 1.732 quilómetros quadrados, na qual o povoamento de mangais é uma realidade e o casamento entre o mar e as águas do rio Chiloango é um verdadeiro espectáculo de se ver.

20/03/2024  Última atualização 08H30
Automobilistas levam 40 minutos para fazer o percurso da cidade de Cabinda até à vila de Lândana, sede de Cacongo © Fotografia por: António Soares | Edições Novembro

O evento natural é, talvez, um dos maiores do município que dista a cerca de 45 quilómetros da cidade de Cabinda, onde o mar, as florestas, planícies, rios e lagos definem as linhas que o configuram.

No século XV, quando os portugueses chegaram a Cacongo, a localidade era habitada por povos congo e dominada pelo reino de Cacongo, um dos pequenos tributários do Reino do Congo.

Cacongo desenvolveu-se paralelamente, como um agitado centro de comércio na meia-rota entre a Ponta da Banana e Cabinda, ao Sul, e Massabi e Ponta Negra ao Norte.

Na localidade, havia, no século XIX, casas de comércio francesas, belgas, britânicas, neerlandesas, brasileiras e portuguesas. Do seu porto e da pequena baía, partiam navios a vapor em direcção ao rio Congo, Europa e outros portos africanos.

A sua localização intermediária e prosperidade comercial transformou-a no centro catequista para a baixa bacia do Congo, principalmente a partir de 1873, após a inauguração da Missão de São Tiago de Lândana, dirigida, na altura, por padres do Espírito Santo.

Em 1886, a Prefeitura Apostólica do Congo Português (depois Baixo Congo no Cubango) foi transferida de Mbanza Congo para a localidade e ali permaneceu até 1914, quando a Sé passou a ser Cabinda. Apesar disso, manteve-se, até 1940, como um importante centro paroquial e de seminário de formação, o mais frutífero dos tempos coloniais.

Um resquício deste período é a emblemática Igreja da Missão de Lândana, inaugurada em 1904, e, actualmente, classificada como Património Cultural. Cacongo foi criado a 8 de Janeiro de 1941. Até 1975, a localidade era conhecida como "Vila Guilherme Capelo”.

Hoje, na vila de Lândana, saltam à vista as residências velhas, abandonadas e outras com moradores sem capacidade financeira para as conservarem da melhor forma possível. A maioria carece de obras profundas de reabilitação.

Segundo o administrador de Cacongo, Armando do Carmo, a péssima imagem que a vila municipal apresenta tem os dias contados. Alguns edifícios serão demolidos para dar lugar a novos. Além disso, está prevista a construção de novas infra-estruturas rodoviárias.

Neste momento, na localidade, estão a ser erguidas 300 residências sociais para acomodar as famílias em situação de vulnerabilidade. Está, ainda, previsto, para este ano, o arranque das obras de reabilitação da malha rodoviária da vila municipal.

Locais turísticos

Cacongo dispõe de locais turísticos muito atractivos, mas a ausência de serviços hoteleiros desencoraja a presença de visitantes.

Ao Jornal de Angola, o administrador Armando do Carmo revelou que já existe um Plano Director com boa carteira de investimentos na área hoteleira, para dar resposta aos visitantes que procuram desfrutar de espaços exóticos na localidade.

"Vamos aproveitar a orla marítima do município para construir hotéis e restaurantes, a fim de proporcionar mais conforto aos turistas”, anunciou.

Da cidade de Cabinda até à vila de Lândana, sede de Cacongo, os automobilistas realizam o percurso em menos de 40 minutos. Apesar de haver alguns buracos na via, a estrada que liga o município à capital da província oferece condições mínimas que facilitam a circulação de pessoas e bens.

Com uma população estimada em mais de 50 mil habitantes, maioritariamente camponeses, Cacongo tem vindo a mostrar, sobretudo nos últimos anos, sinais claros de crescimento económico nos mais variados domínios.

Em Cacongo, a agricultura está em franco crescimento. Os agricultores da região dedicam-se, essencialmente, ao cultivo da banana, batata-doce, feijão macunde, mandioca, abacaxi e outras culturas.

A banana destaca-se entre os alimentos agrícolas mais produzidos na localidade. Segundo o chefe da Estação de Desenvolvimento Agrário (EDA) local, no ano passado, foi possível colher cerca de 90 toneladas do produto.

Victor Macaia avançou que o município possui quatro projectos agrícolas de grande impacto, nomeadamente, o projecto Cadeias de Valor Agrícola, Combate à Fome e à Pobreza, o Programa Integral para Cabinda (PIC) e o de Fomento Agrícola.

Ao longo do Ano Agrícola 2023/2024, prosseguiu o responsável, um total de sete mil famílias vão ser enquadradas nos referidos projectos destinados à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Victor Macaia explicou que, em relação ao andamento do processo, pelo menos duas mil famílias vão ser integradas no projecto Cadeias de Valor Agrícola, 500 no Programa de Combate à Fome e à Pobreza, 60 são apoiadas no âmbito do PIC e outras milhares de famílias, encaminhadas no Projecto de Fomento Agrícola.

Além desses projectos, o chefe da EDA em Cacongo informou que existe, ainda, no município, um programa integrado de formação técnica para os camponeses da região.

A EDA controla, em Cacongo, 27 cooperativas agrícolas e três pesqueiras.

Falta de mercados

Se, por um lado. os camponeses se debatem com inúmeras dificuldades para escoar os produtos agrícolas, outra situação que os apoquenta é a falta de mercados na localidade.

Face à situação, os agricultores da região comercializam grande parte da produção no mercado transfronteiriço de Massabi, entre Cabinda e Ponta Negra (República do Congo), onde o comprador determina os preços a serem praticados pelos vendedores.

Como consequência disso, de acordo com o director da EDA em Cacongo, os produtores/negociantes angolanos comercializam os produtos a preços muito baixos.

"Não há consumidores, em toda a província de Cabinda, capazes de absorver as 90 toneladas de banana produzidas anualmente. Por isso, estamos a montar uma fábrica de transformação do alimento, para facilitar a vida dos produtores no quesito escoamento”, avançou.

Na época agrícola passada, disse, os camponeses da região produziram perto de 11 mil toneladas de produtos diversos e, para a presente campanha agrícola, prevê-se uma produção acima de 16 mil toneladas.

Victor Macaia destacou o facto de os camponeses não fazerem recurso a pesticidas e fertilizantes nas plantações, porque, de acordo com o responsável, Cacongo possui terras aráveis e, por esse motivo, não necessitam de produtos químicos para acelerar a produção.

O responsável explicou que, no caso das hortícolas, recorre-se a adubos para dar vida à plantação, durante o período de crescimento. "O uso deste tipo de substâncias é feito de forma moderada. Nós praticamos uma agricultura tradicional, porque as nossas terras favorecem o exercício dessa actividade, além de termos água em abundância”, sustentou.

Invasão de elefantes

Na agricultura, o trabalho exige grande dedicação e esforço. O camponês reza, todos os dias, para que chegue a fase de colheita, uma realidade que começa a transformar-se num verdadeiro pesadelo, em função dos estragos que os elefantes provocam nas plantações.

Sobre o assunto, vários agricultores manifestaram-se tristes e solicitaram, às instituições e autoridades municipais e provinciais, uma solução para o problema. "Não podemos, de maneira alguma, abater os elefantes. É crime”, alertou o responsável do IDA.

Actividade pesqueira

Ainda em Cacongo, a actividade pesqueira tem vindo a marcar passos significativos. A localidade é banhada por mares, rios, lagos e lagoas, onde abundam variadíssimas espécies de peixe.

Os pescadores, inseridos em cooperativas, têm vindo a beneficiar de redes de pesca, barco a motor e outros meios que facilitam o exercício da actividade piscatória no município.

Com o objectivo de contribuir para a diversificação da dieta alimentar, algumas cooperativas apostam forte na criação de tanques de produção de cacusso, além de produzirem ração para alimentar os aquáticos.

Mercado do peixe

Para melhorar as vendas do pescado, decorrem, na vila de Lândana, obras de construção do futuro "Mercado do Peixe”, que terá 109 bancadas, várias lojas e restaurantes.

A infra-estrutura, avaliada em 142 milhões e 857 mil Kwanzas, vai ocupar uma área de cerca de 642,32 metros quadrados. Segundo o administrador municipal de Cacongo, Armando do Carmo, as obras ficam concluídas este ano, para assegurar o processo de comercialização do peixe produzido e pescado na localidade.

Hospital atende mais de 100 pacientes por dia

Sentados à sombra de uma mulembeira, os pacientes, concentrados na triagem do Hospital Municipal de Cacongo, mostram-se calmos. O atendimento é rápido e eficaz.

A unidade comporta serviços de medicina geral, maternidade, pediatria, banco de urgência, farmácia, laboratório de análises clínicas, radiologia e ecografia. O hospital, construído em 1950, dispõe, também, de uma sala de hemograma, onde é conservado o sangue recolhido dos dadores.

Devido à falta de recursos para a testagem do sangue, a direcção recorre ao Hospital Central de Cabinda, onde, o produto vital é criteriosamente analisado para o tornar mais seguro.

O director do Hospital Municipal de Cacongo, Love Joy, avançou, ao Jornal de Angola, que todos os equipamentos em funcionamento naquela unidade hospitalar são modernos, com excepção do aparelho de ecografia. "Estamos a precisar de um aparelho de ecografia mais moderno, para termos uma melhor resolução de imagem”, disse.

Com uma capacidade de internamento para apenas oito camas, o hospital de Cacongo atende, em média, 105 pacientes por dia. Ali, o entra e sai de doentes que procuram ver resolvidos os problemas de saúde é cada vez maior.

A malária e infecções na pele são as patologias predominantes no seio da população, principalmente em crianças. Mas o hospital de Cacongo também recebe e trata muitos casos de hipertensão e diabetes.

"Aqueles casos que ultrapassam as nossas competências técnicas, evacuamos para o Hospital Central de Cabinda”, disse Love Joy, acrescentando que uma das principais dificuldades no funcionamento da maior unidade sanitária do município reside na sua capacidade de internamento.

Segundo Love Joy, a situação torna-se ainda mais grave na época chuvosa, período em que o número de casos de malária aumenta significativamente. O Jornal de Angola apurou que, na localidade, decorrem obras de construção de um novo hospital, com capacidade de internamento maior que a actual, e mais serviços de atendimento médico.

Orçamento do hospital

O director revelou que o hospital municipal tem um orçamento mensal de 15 milhões de Kwanzas, destinados à compra de medicamentos, materiais gastáveis e meios e equipamentos indispensáveis para o funcionamento da instituição.

"Os pacientes não têm necessidade de comprar medicamentos fora do hospital”, disse, acrescentando que a alimentação dos doentes internados, desde o pequeno-almoço, almoço e jantar, é da inteira responsabilidade da unidade sanitária.

A unidade conta com 101 profissionais, dos quais, oito médicos, 54 enfermeiros, 22 técnicos de diagnóstico e terapêutica, 11 técnicos para os serviços de apoio hospitalar, cinco funcionários do regime geral e um assistente social.

Love Joy defendeu a aquisição de, pelo menos, mais duas ambulâncias, visando tornar mais célere o processo de evacuação de pacientes, do município para a cidade de Cabinda. Actualmente, apenas uma viatura, em bom estado técnico, encontra-se disponível para o efeito.

Situação nas comunas

Cacongo possui 26 unidades sanitárias distribuídas pelas comunas do Dinge e Massabi e vila municipal de Lândana, estando, a maior parte, a necessitar de obras de reabilitação, com excepção dos centros da zona do Mandarim, 4 de Fevereiro, postos de saúde do Santo Muno, do Caio e do Sócoto.

A secretária municipal da Saúde em Cacongo, Madalena Buiti, disse que os centros e postos de saúde do município são rigorosamente abastecidos com kits de medicamentos. 

Quanto ao número de técnicos em serviço no município, Madalena Buiti informou que, em cada uma das duas comunas (Massabi e Dinge) trabalha um médico, além de oito enfermeiros e três técnicos de diagnóstico e terapêutica.

"Essa insuficiência de pessoal deve-se ao facto de muitos profissionais terem atingido a idade da reforma, além do registo de falecimento de outros tantos”, justificou.

Madalena Buiti adiantou que a comuna de Massabi é a que apresenta um maior número de casos de patologias diversas, devido à ligação com a República do Congo.

"Quando estão doentes, os habitantes de Massabi têm por hábito passar primeiro em casas de curandeiros. Só quando as coisas se agravam é que resolvem correr para o hospital”, lamentou.

Escolas em todas as localidades

No domínio do ensino, Cacongo é um bom exemplo a seguir. Há escolas em funcionamento em todas as aldeias do município. O administrador Armando do Carmo disse que, no sector da Educação, o grande problema reside na falta de residências em número suficiente para acomodar os professores, que deixam as suas zonas de conforto para trabalhar na localidade.

O estado das vias de acesso, segundo o gestor, também contribui para que os professores, muitas vezes, faltem aos seus locais de trabalho. "Estamos a trabalhar na criação de condições mais adequadas para melhor acomodar os professores”, garantiu.

Outra situação apontada pelo administrador tem que ver com o facto de existirem escolas, em algumas localidades, onde há professores, mas falta alunos, devido à questão da migração dos povos para as zonas mais próximas do asfalto.

Em Cacongo, decorrem obras de construção de 12 salas de aula, que vão servir para a criação do núcleo da Universidade 11 de Novembro. O objectivo é evitar que os estudantes residentes no município se desloquem, de segunda à sexta-feira, até à cidade de Cabinda, que dista 45 quilómetros, em busca de conhecimentos académicos.

Segundo o administrador municipal de Cacongo, Armando do Carmo, a rede escolar é composta por 203 salas de aula. "Temos um total de 414 professores e, no presente ano lectivo, estão matriculados 13.223 alunos”, avançou.

Quanto à água e energia eléctrica em Cacongo, o fornecimento é feito de forma regular. A energia depende da Central Térmica de Malembo, enquanto o líquido precioso provém da Estação de Tratamento de Água de Sassa-Zau. "Aqui temos energia 24/24 horas”, garantiu o administrador municipal.


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