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Visita ao Sudão do Sul: Papa pede a dirigentes um “novo avanço” a favor da paz

O Papa Francisco pediu, este sábado, aos dirigentes do Sudão do Sul “um novo avanço” a favor da paz no território dividido por lutas de poder e pobreza extrema, no âmbito da visita que está a realizar ao país.

05/02/2023  Última atualização 07H05
© Fotografia por: DR

Acompanhado pelos chefes das igrejas de Inglaterra e da Escócia, representantes das outras duas confissões cristãs no Estado mais jovem do mundo, Francisco afirmou, na sexta-feira, que o "tortuoso caminho” da paz "não pode mais ser adiado”, durante um discurso muito político perante as autoridades da capital.

De 2013 a 2018, este país de 12 milhões de habitantes foi assolado por uma guerra civil sangrenta entre os partidários de dois líderes inimigos, Salva Kiir e Riek Machar, que matou 380.000 pessoas.

Apesar de um acordo de paz assinado em 2018, a violência continua e o país contava em Dezembro 2,2 milhões de deslocados internos, devido aos conflitos e inundações, segundo números divulgados pelas Nações Unidas.

Francisco disse, ontem, aos religiosos e religiosas do Sudão do Sul, onde chegou na sexta-feira, que o seu primeiro dever é dar as mãos a este povo que sofre, num encontro que manteve com o clero na catedral de Santa Teresa, na capital, Juba.

O Papa encorajou os bispos, padres e freiras a servirem o povo e a juntarem-se às suas lágrimas, num país atingido por conflitos e crises humanitárias.

Ainda ontem, o Papa argentino, muito activo na defesa dos migrantes, encontrou-se com alguns deslocados.

Cerca de 4.000 pessoas reuniram-se muito cedo, de acordo com as autoridades, para esperar pelo Papa no pátio da catedral de Santa Teresa, muitas agitando bandeiras nacionais, em clima de festa.

"Vimos aqui para receber a sua bênção. Tudo é uma questão de paz. O Papa Francisco não pode nem andar, mas ainda vem aqui para encorajar os nossos dirigentes”, declarou, à Agência France-Press (AFP), John Makuei, 24 anos, que chegou antes do amanhecer para não perder "este dia histórico”.

O Papa chegou na sexta-feira ao Sudão do Sul, no âmbito de uma visita que o levou também à República Democrática do Congo.


"Protejam, respeitem e honrem cada mulher”

O Papa alertou, ontem, que o futuro pacífico do Sudão do Sul depende da forma como tratam  as suas mulheres, num país onde enfrentam violência sexual, casamentos infantis e a mais elevada taxa de mortalidade materna do mundo.

No seu segundo e penúltimo dia em África, Francisco pediu que as mulheres e as meninas sejam respeitadas, protegidas e homenageadas, durante um encontro em Juba, com cerca de dois milhões de pessoas que foram forçadas a fugir das suas casas por causa dos combates e das cheias.

"Por favor, protejam, respeitem, apreciem e honrem cada mulher, cada menina, jovem, mãe e avó. Caso contrário, não haverá futuro”, disse.

O Papa realçou que as mulheres são a chave para o desenvolvimento pacífico do Sudão do Sul, mas precisam das oportunidades certas.

O encontro foi um dos destaques da visita de três dias de Francisco ao país mais jovem do mundo e um dos mais pobres. Acompanhado pelo arcebispo de Canterbury, Justin Welby, e pelo chefe presbiteriano da Igreja da Escócia, Francisco está a desenvolver uma peregrinação ecuménica histórica para chamar a atenção global para a situação do país e encorajar o seu processo de paz.

O objectivo da visita ecuménica é encorajar os líderes políticos do Sudão do Sul a desenvolver um acordo de paz de 2018 que ponha fim a uma guerra civil que eclodiu depois que o país, predominantemente cristão, conquistou a independência do Sudão, de maioria muçulmana, em 2011.

Ao chegar na sexta-feira, Francisco emitiu um aviso contundente ao Presidente Salva Kiir e ao seu ex-rival e agora deputado Riek Machar de que a história os julgará severamente se continuarem a atrasar a implementação do acordo de paz.

Kiir, por sua vez, comprometeu o Governo a regressar às negociações de paz – suspensas no ano passado – com grupos que não assinaram o acordo de 2018. Na sexta-feira, o Presidente católico concedeu perdões presidenciais a 71 presos na prisão central de Juba, em homenagem à peregrinação ecuménica, incluindo 36 no corredor da morte, depois de Francisco ter sustentado que a pena capital é inadmissível em todas as circunstâncias.

De acordo com a UNICEF, cerca de 75% das meninas no Sudão do Sul não vão à escola, porque os pais preferem mantê-las em casa e prepará-las para um casamento que trará um dote à família.

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