Coronavírus

Variantes ameaçam o regresso à normalidade

A Comissão Europeia já propôs um novo plano de preparação de biodefesa contra a Covid-19, destinado a "preparar a Europa para a crescente ameaça das variantes" do coronavírus.

28/02/2021  Última atualização 14H08
Autoridades de saúde, governos e cientistas viram agora a atenção para as variantes do vírus SARS-CoV-2 © Fotografia por: DR
O surgimento de novas variantes do vírus, que os especialistas admitem ter uma maior capacidade de transmissão, tem levantado questões como a eficácia das vacinas já existentes e a possibilidade de gerarem casos mais graves da doença. São novas "ameaças" que têm centrado a atenção dos especialistas.

Como surgem
Quando um vírus faz cópias de si mesmo, essas alterações são consideradas mutações. Um vírus com uma ou várias novas mutações é considerado como uma variante do original. Algumas mutações podem levar a alterações nas características de um vírus, como a sua maior ou menor capacidade de transmissão e o nível ou gravidade de uma doença que pode provocar.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, tende a alterar-se mais lentamente do que outros vírus já conhecidos, como o Influenza, que causa a gripe.

Até agora, centenas de variações do SARS-CoV-2 foram identificadas em várias partes do mundo, com a grande maioria a ter um reduzido impacto nas propriedades do coronavírus original. Desde o início da pandemia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) está a trabalhar com uma rede global de laboratórios especializados em investigação e na realização de testes para melhor compreender o comportamento do SARS-CoV-2.

Estes grupos de pesquisa sequenciam o SARS-CoV-2 e compartilham os resultados em bancos de dados públicos, incluindo o GISAID, uma organização de pesquisa reconhecida pela Comissão Europeia e parceira do PREDEMICS, um projecto sobre a previsão e prevenção de vírus zoonóticos (com capacidade de serem transmitidos por animais aos humanos) com potencial pandémico.

Esta colaboração global permite aos cientistas de várias partes do mundo rastrear o vírus e as suas mutações de forma mais eficaz e rápida. A rede global de laboratórios da OMS inclui ainda um grupo de trabalho sobre a evolução do SARS-CoV-2, dedicado especificamente a detectar novas mutações e a avaliar o seu previsível impacto.
A OMS tem reiterado a recomendação para que todos os países aumentem o esforço de sequenciamento do vírus e que compartilhem estes dados internacionalmente, num esforço global de monitorização e resposta à evolução da pandemia.


A ameaça à retoma europeia
O Banco Central Europeu (BCE) considera que as novas estirpes do novo coronavírus representam um risco para a recuperação da economia da Zona Euro. Na acta da reunião de política monetária de Janeiro, publicada recentemente, o BCE nota que "persiste uma grande incerteza, especialmente no que respeita à dinâmica da pandemia e à implementação atempada das campanhas de vacinação".
A Comissão Europeia já propôs um novo plano de preparação de biodefesa contra a Covid-19, face à ameaça das variantes do coronavírus, assente numa melhor detecção das estirpes, maior rapidez na aprovação de vacinas e aumento da sua produção.
Denominada "Incubadora HERA" - a sigla da fu-tura Autoridade Europeia de Preparação e Resposta a Emergências de Saúde -, a nova estratégia é justificada pelo Executivo comunitário com a necessidade de "preparar a Europa para a crescente ameaça das variantes" do coronavírus.

De acordo com o Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC), a variante B.1.1.7, reportada pela primeira vez na Grã-Bretanha, parece estar em vias de se tornar dominante sobre as estirpes anteriores na UE, aponta a Comissão, advertindo que "outras estirpes e mutações poderão emergir no futuro".
Para preparar a Europa para este cenário, a Comissão Europeia propõe então uma estratégia que envolve investigadores, empresas biotecnológicas, fabricantes, reguladores e autoridades públicas, para monitorizar variantes, trocar dados e cooperar na adaptação de vacinas.
De acordo com Bruxelas, o plano irá focar-se em três grandes pilares: a detecção, análise e adaptação a variantes de vírus; aceleração da aprovação de vacinas adaptadas às novas estirpes e um aumento da produção em massa de vacinas contra a Covid-19, novas ou adaptadas.


Investigação
As autoridades de Saúde britânicas identificaram uma nova variante em Inglaterra do coronavírus da Covid-19, que designaram por B1525, com a mesma mutação E484K encontrada noutras variantes mais infecciosas, revelou a direcção-geral de Saúde inglesa.
Além da variante B117, que já se alastrou a dezenas de países, e da nova B1525, as autoridades de saúde estão a investigar mais duas variantes, inicialmente identificadas na Inglaterra, por também apresentarem a mutação E484K, que é comum noutras variantes detetadas no Brasil e África do Sul. O Reino Unido tem estado a sequenciar o genoma do vírus de milhares de testes para tentar encontrar mutações e potenciais novas variantes para potencialmente ajudar os cientistas a desenvolver novas vacinas mais eficazes.

Preocupação na Europa
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) considera, no relatório de avaliação de risco, que os países da União Europeia (UE) e do Espaço Económico Europeu (EEE) têm "observado um aumento substancial no número e proporção de casos" da mutação detectada no Reino Unido, tendo ainda "notificado cada vez mais" casos da estirpe identificada na África do Sul.
Já a variante descoberta no Brasil "está a ser notificada a níveis mais baixos, possivelmente porque está principalmente ligada ao intercâmbio de viagens com o Brasil", observa o organismo, numa alusão à interrupção de viagens decretada por alguns países europeus.

Segundo o ECDC, a variante originária do Reino Unido tem de momento um risco "elevado a muito elevado, para a população em geral, e muito elevado para indivíduos vulneráveis", isto porque "parece mais transmissível do que as estirpes em circulação anteriormente predominantes e pode causar infecções mais graves".
Por seu lado, a mutação detectada na África do Sul "está também associada a uma maior transmissibilidade" e poderá levar a uma "potencial de redução da eficácia de algumas das vacinas", já aprovadas contra a Covid-19.

Dada a situação, e com o aumento da circulação destas variantes mais transmissíveis, o ECDC aconselha os Estados-membros (já que a saúde é uma competência nacional) a apostar em "intervenções de saúde pública imediatas, fortes e decisivas, considerando essenciais para controlar a transmissão e salvaguardar a capacidade de cuidados de saúde".
"A menos que as intervenções não-farmacêuticas (medidas restritivas) se mantenham ou sejam reforçadas em termos de conformidade durante os próximos meses, é de prever um aumento significativo dos casos e mortes relacionados com a Covid-19 na UE/EEE", avisa o centro europeu.


  SEQUENCIAÇÃO
Capacidade abaixo da recomendação


Na maioria dos Estados-Membros, a capacidade de sequenciação para identificação de variantes do SARS-CoV-2 está abaixo da recomendação definida pela Comissão Europeia para sequenciar 5%-10% das amostras positivas para SARS-CoV-2, alerta o ECDC. Embora a maioria dos países da UE / EEE esteja a investigar activamente o surgimento de variantes da SARS-CoV-2, três países não o fazem.

Muitos países estão a aumentar ou a planear aumentar a capacidade de sequenciação, mas indicaram a necessidade de apoio do ECDC. As necessidades específicas incluem suporte com capacidades de sequenciamento e protocolos e com bioinformática em particular. Para muitos países, o tempo de resposta para os resultados da pré-triagem PCR compartilhados com as autoridades de saúde pública é superior a 48 horas.

A UE pretende acelerar os procedimentos de autorização de vacinas melhoradas para responder às diferentes variantes do novo coronavírus, indicou recentemente a comissária da Saúde dos 27. "Analisamos com a Agência Europeia do Medicamento os procedimentos e decidimos que, doravante, se houver uma vacina melhorada por um fabricante para lutar contra as novas variantes, com base numa vacina já existente" e certificada, "não haverá a necessidade de passar por todas as etapas da autorização", disse a comissária Stella Kyriakides.

A Comissão Europeia tem sido criticada pela lentidão ligada ao início das campanhas de vacinação contra a Covid-19 nos Estados membros, por causa dos procedimentos de certificação das primeiras vacinas, considerados muito longos, em comparação com o Reino Unido ou com os Estados Unidos, mas também no que diz respeito aos pedidos de vacinas.

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