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União Europeia e OTAN afinam estratégia contra a Rússia

Os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu e o secretário-geral da OTAN assinaram, esta terça-feira, a terceira Declaração Conjunta de Cooperação para fazer face a novos desafios, com realce para aquilo que designam contínua ameaça da Rússia e a crescente influência da China.

11/01/2023  Última atualização 05H25
Presidente da Comissão Europeia e o secretário-geral da OTAN traçam plano de defesa comum © Fotografia por: DR

Elevar a cooperação entre os Estados-membros da União Europeia (UE) e os países que compõem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) "para o próximo nível”. A mesma ex-pressão foi utilizada pela presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, e pelo secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, para descrever o propósito da assinatura desta declaração.

A entrar em 2023, os três líderes apresentaram o principal desafio que os países ocidentais têm pela frente: a ameaça da Federação Russa que continua presente e sem fim à vista quase um ano depois do início da Ucrânia.

Nas palavras de Stoltenberg, as ambições do Presidente russo, Vladimir Putin, "falharam redondamente”. Putin ambicionava conquistar Kiev em poucos dias, mas os ucranianos resistiram e ripostaram, o que levou a um conflito que está a entrar no primeiro ano e cujo desfecho não se vislumbra, enquanto se acumulam o número de vítimas mortais, a destruição de infra-estururas críticas em território ucraniano e a inflação exacerbada pela guerra continua a progredir.

Stoltenberg acrescentou que, em paralelo, falharam também as intenções de dividir os países ocidentais, que em uníssono apoiaram a Ucrânia desde 24 de Fevereiro, inicialmente através do acolhimento de refugiados e a imposição de sanções a Moscovo, e agora com a perspetiva em cima da mesa de enviar ainda mais armamento.

O secretário-geral da OTAN advertiu, pela segunda vez em menos de uma semana, para a necessidade de perceber que o panorama da segurança na Europa nunca mais vai ser o mesmo e que os países (Estados-membros da UE e/ou da OTAN) têm de estar preparados.

Em consonância com Stoltenberg, Ursula von der Leyen e Charles Michel disseram que a ameaça russa aproximou ainda mais o bloco comunitário e a aliança militar, mas a China também levanta preocupações. A ideia de que po-derá querer capitalizar esta destabilização na Europa para se apresentar como a grande potência a nível mundial faz com que Bruxelas e a OTAN tenham de olhar para Pequim com atenção redobrada.

"A ameaça russa é a mais imediata, mas não é a única. Também assistimos às tentativas crescentes da China de remodelar a ordem internacional em seu proveito, e por isso temos de reforçar a nossa própria resiliência”, declarou von der Leyen, ladeada por Michel e Stoltenberg. A presidente da Comissão Europeia especificou que a declaração conjunta dedica um dos 14 pontos à China, um 'player' gigante no panorama geopolítico internacional que agora impulsionou uma era de "crescente assertividade” das suas políticas, que "apresentam desafios” que UE e OTAN têm de enfrentar. Entre as prioridades está a intensificação do "combate às ameaças híbridas e cibernéticas, e ao terrorismo”, numa altura em que o que se ouve mais são tentativas de ingerência em processos eleitorais e ataques a infra-estruturas críticas por 'hackers', muitas vezes atribuídos a Moscovo. "Intensificaremos a cooperação em tecnologias emergentes e disruptivas e no espaço. E vamos abordar as iminentes implicações da crise climática para a segurança e reforçar a resiliência das nossas infra-estruturas críticas”, disse a antiga ministra da Defesa alemã.

Von der Leyen resumiu o último ano em duas palavras: "unidade e determinação” da UE e da OTAN, enquanto o presidente do Conselho Europeu referiu que saiu o tiro pela culatra a Putin: "Vai ter mais OTAN e vai ter mais UE. Na verdade, estamos mais próximos do que nunca”.


Finlândia e Suécia próximas da organização

O secretário-geral da OTAN disse, ontem, estar confiante na ratificação dos protocolos de adesão da Finlândia e da Suécia à organização pela Turquia, apesar de Estocolmo ter dito que há exigências de Ancara que "não pode cumprir”.

"Sei qual é a importância de finalizar o processo [de adesão dos dois países] com a ratificação nos parlamentos húngaro e turco e estou confiante de que isso vai acontecer”, sustentou Jens Stoltenberg em conferência de imprensa conjunta com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na sede da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em Bruxelas.

O Primeiro-Ministro da Suécia, Ulf Kristersson, disse que há exigências feitas por Ancara para validar a adesão de Estocolmo à OTAN que o país "não pode cumprir”.

"A Turquia quer coisas que não podemos e não queremos dar-lhe. Agora, a decisão da adesão à aliança recai sobre os turcos”, declarou.

No centro do impasse está a exigência por parte de Ancara de que Helsínquia e Estocolmo entreguem todos os indivíduos acusados pelas autoridades turcas de pertencerem a organizações curdas consideradas terroristas por aquele Governo, nomeadamente o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

"Estou confiante na finalização do processo de adesão da Finlândia e da Suécia e que todos os aliados da OTAN vão ratificar nos respetivos parlamentos. O mesmo vai acontecer na Turquia”, insistiu Stoltenberg, questionado pelos jornalistas.

Dos 30 Estados-membros da OTAN, apenas Budapeste e Ancara estão por ratificar estes protocolos. Mesmo assim, o secretário-geral da aliança militar recordou que este foi o "processo mais célere” de adesão na história da OTAN: "A Finlândia e a Suécia candidataram-se em Maio do ano passado.”

E no ano passado, durante a cimeira da OTAN, em Julho, em Madrid, houve a "decisão histórica de um acordo entre a Turquia, a Finlândia e a Suécia”, nomeadamente em matéria de "luta contra o terrorismo”, para acelerar a adesão à organização dos dois países.

"A Turquia tem preocupações reais com o terrorismo, nenhum país da OTAN sofreu tantos atentados quanto a Turquia”, reconheceu Jens Stoltenberg.

Em simultâneo, a Finlândia e a Suécia já têm garantias de segurança de vários países, nomeadamente os EUA, "através de reuniões bilaterais, e já participam nas reuniões ministeriais da OTAN”.

"Hoje é inconcebível que a Finlândia e a Suécia enfrentem alguma ameaça militar sem que a NATO reaja”, assegurou o representante máximo da organização.

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