Cultura

União dos artistas e compositores distingue fundador do Bongos

A União Nacional dos Artistas e Compositores - Sociedade de Autor (UNAC - SA) homenageou, sábado, Clementino da Silva Gonçalves Cruz, fundador do grupo musical angolano “Os Bongos”.

23/05/2023  Última atualização 11H07
Clementino da Silva Gonçalves Cruz recebeu um diploma de mérito das mãos de Zeca Moreno © Fotografia por: Maximiano Filipe | Edições Novembro

O presidente da comissão directiva da UNAC, José Manuel Fernandes "Zeca Moreno” disse que a homenagem é merecida pela sua prestimosa contribuição na promoção, divulgação e valorização da música angolana e africana.

A descoberta e lançamento de talentos artísticos, nos anos 1970, do século XX, na cidade do Lobito, foi, também, destacada durante a homenagem a Clementino da Silva Gonçalves Cruz, que recebeu um diploma de mérito das mãos de Zeca Moreno.

A UNAC - SA disse o seu presidente da comissão directiva considera o homenageado como lendário patente na memória das gerações angolanas e que vai permanecer na história, em função dos seus feitos em prol do engrandecimento da música nacional.

Ao usar da palavra, o ho-menageado, sem conter as emoções, lacrimejou, tendo feito recurso a um guardanapo, para limpar a face, de modo a expressar os sentimentos de elevada gratidão, pelo reconhecimento, que segundo ele, surge numa altura em que completa 84 anos.

Clementino da Silva Gonçalves Cruz disse que continua apaixonado pela música e, sobretudo, pela cultura angolana, mesmo vivendo em Lisboa, por razões históricas e familiares.

"Sempre desejei visitar a terra onde cresci, no bairro do Liro, no município do Lobito, realidade que me permitiu criar as condições para o surgimento dos Bongos, um grupo que surgiu fruto de uma solicitação que me foi feita por dois amigos, Vieira e Titinho, que eram na altura, amadores na música”, destacou.

Estes amigos, avançou, por falta de dinheiro para comprar os instrumentos musicais vieram ter comigo, no momento em que existia um programa acompanhado por mim na antiga Rádio Club do Lobito, que fazia passar diversos tipos de publicidades e entretenimento, denominado "No balanço do tempo”.

O músico acrescentou que depois de ter sido convencido pelos dois interessados, adquiriu os instrumentos musicais daí ter surgido o agrupamento musical os Bongos, sendo que o Vieira, já falecido, actuava como propulsor dos tambores e o Titinho, que era o viola ritmo, actualmente a residir em Luanda.

Para Clementino da Silva Gonçalves Cruz, historicamente com o surgimento do grupo veio mais tarde integrar o Zeca, a Luciana, e daí passaram a participar em várias actividades.

O grupo, referiu, já actuava com frequência em Luanda, Sá da Bandeira (actualmente Lubango), e na cidade de Novo Redondo (Sumbe). "Também actuamos em Nova Lisboa, (hoje Huambo) e, praticamente, em quase todo o país”.

Segundo o homenageado, com as grandes realizações, tendo em conta que o grupo recebia várias solicitações, fizeram com que o Zeca granjeasse sucesso  com o tema "Madalena”, que  projectou ao nível mais alto a imagem e o nome dos Bongos.

Com nostalgia, lembrou, a realização do primeiro festival popular de Angola, que aconteceu em 1974, que teve como vencedor o cantor "Jimba” e segundo o criador dos Bongos, este, actualmente a residir em Luanda, que na altura interpretou a canção "Spinola”.

Clementino da Silva Gonçalves Cruz fez saber que em 1975 preparava-se o segundo festival popular de Angola, que não veio a acontecer, por razões políticas e outras situações menos boas, o que originou o seu regresso a Portugal, partindo de em Luanda no dia 19 de Setembro de 1976.

O artista lembrou alguns integrantes do grupo, com destaque para Marques Trindade e o seu irmão Boto, este último que actuava com o viola solo, o Titinho, que era viola ritmo, o Vieira, no tambor, e Luís Gonzaga, no reco-reco.

Percurso histórico

 do criador

Clementino da Silva Gonçalves Cruz, nascido em Almagreira, em Pombal, Portugal, pai de três filhos, sendo um natural de Luanda e os dois de Benguela.

Chegou a Angola no final dos anos 1949/50, com o seu pai, depois da segunda guerra mundial, tendo se fixado na cidade do Lobito.

O seu pai foi considerado na época o primeiro carvoeiro do Liro, produto muito utilizado na altura pela população, por ser mais prático, económico e de fácil aquisição por todos.

Teve toda a sua mocidade no Lobito. Ele ama o Lobito, onde viveu mais de 35 anos e mais tarde chegou a construir uma casa, no bairro da Bela Vista, onde viveu apenas durante dois anos. Daí, surgiu as situações que o forçaram a abandonar Angola, ao ponto de ter de regressar a sua terra natal.

O seu primeiro emprego no Porto do Lobito, na sessão de operários canalizadores, numa altura em que a água potável para a cidade do Lobito era extraída, tratada e fornecida pelo Porto do Lobito.

Em 1959, foi chamado a cumprir o serviço militar em Nova Lisboa e Luanda, até 1961, e já na mesma fase tinha o curso de escriturário, oferecido pelo Porto do Lobito.

"De regresso do serviço militar, me apercebo do lançamento de concurso pú-blico, no Porto do Lobito e na Alfândega, me candidatei aos dois concursos, ao ponto de ser admitido nas duas empresas, e como não poderia assumir as duas responsabilidades, acabei por optar em ficar na Alfândega, onde cheguei a terminar com 36 anos de serviço cumprido”, contou.

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