“Rosa Baila”, “Chikitita”, “Perdão”, dentre outros sucessos que marcam o percurso artístico de Eduardo Paím, serão apresentados amanhã, a partir das 19h30, no concerto comemorativo aos 60 anos natalícios do cantor e produtor.
Os escritores Agostinho Neto e António Jacinto são, hoje, às 10h, homenageados como “Poetas da Liberdade”, no Festival de Música e Poesia, que acontece no auditório do Centro Cultural de Vila Nova de Foz Côa, em Lisboa, Portugal.
Dois antigos carnavalescos na província do Cuanza-Sul recordam com nostalgia a época do Carnaval de Rua, na cidade do Sumbe. Carlos Neto, antigo rei do Fineza do Inconcom, e Isidro Boy Gonçalves, ex-dançarino do mesmo grupo, lembraram os cenários em que os grupos carnavalescos terminavam os desfiles no cemitério com danças e oferendas para os ancestrais.
A reportagem do Jornal de Angola ouviu Carlos Neto e Isidro Boy Gonçalves. O primeiro interlocutor avançou que ao deslocarem-se ao cemitério tinham que levar ofertas, como garrafões de vinho, dinheiro em moedas, óleo de palma, fuba e feijão. "Era com esses produtos com que íamos agradecer aos ancestrais, por nos ter em acompanhado durante os ensaios e os três dias de Carnaval”, conta.
Carlos Neto acrescenta que os grupos carnavalescos só se deslocavam aos cemitérios no último dia do Carnaval, depois de se apresentarem nas ruas e antes de regressarem aos bairros de origem.
Segundo o antigo rei do Fineza do Iconcom, reza a lenda contada pelos adultos da época, que os ancestrais acompanhavam os grupos carnavalescos desde os ensaios até o último dia de Carnaval.
Por seu turno, Isidro Boy Gonçalves, ex-dançarino do mesmo grupo, avançou que apesar do acto poder ser mal interpretado por muitos, reconhece ser a verdadeira cultura carnavalesca da época, porque representava o reconhecimento do grupo àqueles que em vida se dedicaram aos grupos carnavalescos.
Isidro Boy Gonçalves acrescenta que, apesar da prática ser desencorajada e considerada como a actos satânicos, ainda assim, os grupos carnavalescos da época realizavam o ritual como forma de agradecer aos ancestrais. "Para nós era histórico dançar no cemitério em memória dos ex-dirigentes e pessoas que tudo fizeram para o bem do grupo e era normal, porque representava a nossa cultura carnavalesca”, enfatizou.
Manifestação de rua
O ex-dançarino do Fineza do Inconcom, Isidro Boy Gonçalves, afirma que actualmente o Carnaval tem a comparticipação do Executivo, com a realização dos desfiles centrais, a premiação dos três melhores classificados, melhor rei e rainha, melhor dança e outros itens.
Na sua época, disse, era diferente, pois predominava o Carnaval de Rua. Isidro Boy Gonçalves recordou que antes dos grupos carnavalescos saírem à ruas, levavam a dança para junto das casas dos responsáveis dos grupos e de pessoas com influência nos bairros e outras entidades. Depois dessa odisseia, frisou, só depois é que saíam para as ruas da cidade e noutras zonas periféricas.
Naquela época, referiu, os grupos carnavalescos não se dirigiam a um lugar específico para desfilarem, sendo que o interesse era apenas dançar o Carnaval, demonstrando para as populações a cultura de cada localidade. "Era um orgulho para todos dançar o Carnaval por amor a cultura, com muitos jovens a representarem os bairros.”
O Carnaval de Rua, destacou, criava rivalidades entre os grupos carnavalescos. Lembrou que nos eventuais encontros entre os mesmos grupos, registavam-se lutas entre os integrantes do grupo rival. Essa rivalidade, sustentou, apenas vigorava no período do Entrudo.
Já Carlos Neto garante que os grupos não recebiam qualquer subvenção do Executivo, pois sobreviviam do dinheiro arrecadado durante as exibições nas ruas e da contribuição dos membros. "Hoje os grupos carnavalescos estão atrás do Executivo a exigir verbas para se fazer o Carnaval e não é desta maneira que se faz o Carnaval. Cada grupo tem que ter a capacidade de se auto-sustentar”, sublinhou.
Durante os dias de Carnaval, contou, todos os grupos carnavalescos eram obrigados a exibirem-se nas ruas, diferente dos desfiles carnavalescos a que hoje se assiste. Carlos Neto destacou o facto dos mesmos saírem apenas com objectivo de exibirem-se para os prémios.
O antigo rei do Fineza do Inconcom sublinha que no primeiro dia de Carnaval, era proibido aos grupos exibirem-se diante das instituições públicas. No segundo dia, explicou, os grupos passavam pela administração, como forma de mostrar a riqueza da maior manifestação cultural do país.
Ao falar do seu percurso no Carnaval, Carlos Neto recordou os ritmos dançantes da época. Destacou a quimbuelela, cazucuta e semba.
O carnavalesco disse que a rivalidade era saudável e contribuíam para o engrandecimento do Carnaval de Rua, sempre que os grupos se cruzavam.
Constituição dos grupos e vestimenta
O ex-dançarino Isidro Boy Gonçalves recorda que os grupos antigamente eram constituídos por um rei, uma rainha, um conde, uma condessa, o comandante, dançarinos e o gentio bravo, que era a pessoa responsável por guiar o grupo no momento que saíam às ruas, bem como garantir o espaço do grupo durante as apresentações.
No que diz respeito ao vestuário da época, Isidro Boy Gonçalves enfatizou que em cada bairro ou rua onde existisse um grupo carnavalesco, a pessoa que tivesse domínio da costura, era responsável por criar os trajes dos dançarinos e não só.
Cada elemento do grupo, esclareceu, levava o seu pano à costureira para que fosse feita a roupa do Carnaval, com destaque para as saias, calções e outras vestimentas apropriadas ao Carnaval da época.
Ao fazer uma viagem ao passado do Carnaval de Rua, Isidro Boy Gonçalves não poderia deixar de manifestar as canções e instrumentos musicais utilizados na época.
Com um semblante de nostalgia, o ex-dançarino diz que as canções variavam de grupos, porque alguns interpretavam canções em homenagem a alguém que morreu ou uma pessoa importante do bairro.
A música também servia como sinónimo de rivalidade, porque em alguns casos, os grupos carnavalescos criavam canções com insultos dirigidos aos grupos rivais, procurando criar insegurança aos dançarinos.
Sobre os instrumentos musicais, Isidro Boy Gonçalves disse que os mais utilizados, na altura, eram a marimba, kissanje, bate bate, reco reco, gaita, batuque, caixa e bumbú.
Palmira Leal viu a festa
Após a conversa com Carlos Neto e Isidro Boy Gonçalves, a reportagem do Jornal de Angola ouviu Palmira Leal, que na época assistia ao Carnaval de Rua.
Palmira Leal contou como viu e viveu o Carnaval do ano passado. Na sua perspectiva foram momentos únicos e ímpares. Afirmou que o Carnaval é uma festa popular, que era vivido intensamente pelas pessoas em ruas embelezadas. O Entrudo, segundo Palmira Leal, não era reconhecido apenas pela dança, mas também pela música e indumentária que os grupos usavam, completando o verdadeiro ambiente carnavalesco.
"Antigamente era bonito ver o Carnaval. Actualmente, os grupos só saem às ruas no dia do desfile central. O que se faz agora é desfile e não Carnaval”, disse.
Palmira Leal recorda que era difícil ficar em casa na altura do Carnaval, salientando que ela e demais pessoas do bairro acompanhavam os grupos carnavalescos em grandes distâncias. "Agora prefiro não acompanhar os grupos carnavalescos porque o que se vê não representa a cultura no seu verdadeiro sentido da preservação e valorização da matriz cultural angolana”, desabafou.
A antiga assistente recordou que no antigamente o Carnaval terminava no cemitério e "não nos importávamos em ficar até a meia noite. Era muito emocionante acompanhar aquele momento, as canções e os batuques em muitos casos chorávamos de emoção”, disse.
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