Sociedade

Uma família de colegas

Domingos Mucuta | Lubango

Jornalista

Socorro-me da máxima do antigo Presidente americano, John F. Kennedy, segundo a qual “às vezes, é preciso parar e olhar para longe, para percebermos o que está perto de nós”, à guisa de início destas linhas escritas no calor da nostalgia, que contrasta com o frio do Lubango, poucos dias depois de deixar a Redacção Central do Jornal de Angola, em Luanda

04/06/2023  Última atualização 09H52
© Fotografia por: Edições Novembro

Estive na capital do país no quadro de uma iniciativa do presidente do Conselho de  Administração da empresa Edições Novembro, Drumond Jaime,  de intercâmbio entre os quadros das direcções  provinciais e da sede,  em Luanda.

Estar naquela gigante redacção, num primeiro instante, "assusta”. É grande demais para um pequeno  repórter "provinciano”, pensei à chegada. Primeiro, pelo tamanho,  comparativamente à redacção do Lubango, na Huíla. Segundo, pelo  desafio de qualquer repórter de Luanda escrever sempre cônscio de  que o faz para as páginas da edição do dia seguinte. Foi preciso  encarnar o espírito.

Na Redacção Central, cujo  secretário é o veterano jornalista António Félix, a brincadeira tem  hora. Podes brincar quando quiseres, mas não ouse fazer brincadeiras na hora de ponta, quando todos estão concentrados a escrever e a organizar os fragmentos noticiosos. Dele ou de um outro  editor de fecho vem a justa e necessária reprimenda. Todo o cuidado é  pouco.

É na Redacção Central onde o jornalista  deve aplicar, no espírito e na letra, as técnicas e os conhecimentos do  livro "A arte de fazer jornal diário”, do jornalista brasileiro Ricardo Noblat. Quem é do interior do país, como eu, que ainda não leu este manual de apoio jornalístico, convém fazê-lo, caso se queira impor  naquele meio, onde a notícia é uma batata quente sempre à solta, para  evitar queimaduras nos dedos.

É aqui onde percebemos também que a família não é só a consanguínea, porque o  espírito de entreajuda e de união reina ali na Redacção Central. Aliás,  sempre que precisei de ajuda estava um colega disponível para o efeito.  Para ter uma ideia, cada jornalista na redacção tem no seu computador  credenciais de utilizador, ou seja, o "ID” de acesso. Durante quase 15  dias não foi necessário a área de informática criar uma senha de acesso  para mim. Usei credenciais de qualquer colega presente para trabalhar e  em qualquer computador vago (excepto dos editores).

César  Estêves, Nilza Massango, Manuela Gomes, Pedro Bica, Omar Prata, o  editor Faustino Henrique, Mazarino da Cunha e tantos outros apoiaram-me  com as suas credenciais, sempre que fosse usar um computador para  redigir um texto ou tratar de fotografias.

O nível  de solidariedade entre colegas ultrapassa as barreiras da  competitividade profissional. Vi a Nilza Massango a "dar fuba”, diga-se,  a extrair o áudio da cobertura feita pelo colega da Editoria Política  Mazarino da Cunha, como forma de o ajudar a despachar, enquanto este  tratava de outro material para ganhar tempo.

Vi outros  colegas a fazer o mesmo, com normalidade, dentro do espírito de  entreajuda, cujo objectivo último é o de assegurar a entrega do material a  tempo ao editor e garantir ao cidadão o direito à informação. São  detalhes que chamam a atenção sobre a importância da união. De outro  modo, quem nunca se viu aflito para extrair vários áudios dum evento? Na  Redacção Central, pode ter a mão da Nilza Massango, da Edna Dala ou de qualquer outro colega  disponível.

Sobre o  intercâmbio em Luanda, a experiência valeu, pois foi uma oportunidade de  aprendizagem com companheiros de trincheira,  desde jornalistas mais experientes até  estagiários. Serviu também para perceber que todos são importantes no  processo.

Isso é visível logo pela manhã, com os motoristas, que asseguram o  direito ao transporte de casa para o serviço e vice-versa, fazendo com  que o funcionário não despenda dinheiro do seu bolso para ir trabalhar  (seria bom que fosse também assim nas "províncias”, onde, ao que se sabe de muitas direcções, os carros apoiam mais pessoas alheias à empresa do  que os colaboradores. Quão evoluídos estaríamos socialmente!).

O  edifício do Jornal de Angola está totalmente remodelado. Perdi-me nos  primeiros dias para chegar à Redacção ou ao gabinete da  sempre prestativa Teresa Alexandre, das Relações Públicas. A  superestrutura está empenhada na criação de condições materiais e  sociais para que o trabalhador esteja focado na produção e na  produtividade, ao invés de se preocupar com questões básicas como pegar o táxi de ou para  casa.

A felicidade dos  trabalhadores, fundamental para o desempenho e aumento da performance  profissional, está resgatada. As direcções provinciais precisam de ser monitorizadas ou orientadas para seguirem a mesma dinâmica. No interior, há  poucos quadros, mas é onde mais dificuldades e barreiras impostas  impedem o progresso e desmotivam os quadros.

O  presidente do Conselho de Administração é uma pessoa de fácil acesso. É impossível interagir com ele e ficar alheio ao que o homem pretende para  a empresa. Drumond Jaime não se fecha em copas, tão pouco tem complexos  de superioridade. Deve ter-se negado a "engolir o rei” quando alguns lhe tentaram impingir.  É um líder que dá abertura aos  funcionários, com ideias construtivas, no sentido de estes apresentarem  contribuições, visando o desenvolvimento da empresa. Sabe ouvir. Presta  atenção às preocupações dos funcionários. "O que adianta eu ter o melhor  apenas para mim quando todos são importantes para o sucesso da Edições  Novembro? Por isso, Mucuta, fala se alguma coisa vai mal, porque essa  empresa é também tua”, chama atenção o PCA.

É incrível como, coincidentemente, o administrador para a Área de Conteúdos,  Cândido Bessa, os editores  Augusto Cuteta, Adriano de Melo e Sérgio Chivaca e os repórteres com quem conversei reforçaram essa ideia em conversas separadas.

Ou seja,  este espírito de posse colectiva e de irmandade está generalizado em  Luanda. Há mais atenção e valorização na política de gestão das pessoas.  É estando em Luanda que se percebe, de facto, a dimensão desta grande  empresa de Comunicação Social. A dinâmica em curso dissipa dúvidas e  acalenta esperanças de que se está a  resgatar e a promover a união para que sejam alcançados os resultados preconizados.

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