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Um terço dos guerrilheiros já entregou as armas

Cerca de um terço dos antigos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) já entregaram as armas no âmbito do processo de Desmilitarização, Desarmamento e Reintegração (DDR) em curso no país, anunciou, ontem, o Primeiro-Ministro, citado pela Lusa.

13/03/2021  Última atualização 12H16
Autoridades exortam Junta Militar a depor as armas © Fotografia por: DR
"Através deste processo, até ao momento, foram desmobilizados e reintegrados 1.490 antigos guerrilheiros da Renamo, o que representa 29 por cento de um efectivo de 5.221 homens a desmobilizar”, referiu Carlos Agostinho do Rosário, no Parlamento, numa sessão de esclarecimentos do Governo. Ao número juntam-se outros 700 cuja desmobilização começou esta semana.

"Notamos com optimismo o facto de o DDR estar a conhecer progressos assinaláveis, o que é testemunhado pelo início da segunda fase do processo”, realçou o Primeiro-Ministro.
Além da desmobilização dos ex-guerrilheiros que se mantêm alinhados com o principal partido da oposição, Carlos Agostinho do Rosário destacou a rendição de oito elementos da auto-proclamada Junta Militar da Renamo, uma dissidência armada, "que decidiram abandonar as matas e aderir a este processo”.

"Apelamos aos integrantes da auto-proclamada Junta Militar da Renamo e ao seu chefe Mariano Nhongo a se juntarem a este processo irreversível de DDR ora em curso, seguindo exemplo dos que vêm aderindo a este processo”, concluiu.
O acordo de paz em Moçambique foi assinado em Agosto de 2019 pelo Chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e pelo presidente da Renamo, Ossufo Momade, prevendo, entre outros aspectos, o processo de DDR do braço armado da principal força da oposição.

Desde o seu arranque, o processo foi sempre conduzido na província de Sofala e esta semana abrangeu pela primeira vez membros da antiga guerrilha da Renamo em Manica, também no Centro de Moçambique.
Os dissidentes da Junta Militar são acusados de fazer ataques armados no Centro de Moçambique desde que foi celebrado o acordo de paz, incursões que já provocaram a morte de 30 pessoas e vários feridos.

O movimento liderado por Mariano Nhongo, antigo líder de guerrilha da Renamo, que continua nas matas com um número incerto de homens, contesta a liderança do partido e as condições para a desmobilização decorrentes do acordo de 2019.
A presença de grupos militares privados em Moçambique tem dificultado a luta antiterrorista por operarem fora das normas de parceria internacionais, considerou o coordenador interino do Contra-terrorismo dos Estados Unidos da América (EUA).

John Godfrey declarou, ontem, em conferência de imprensa virtual em que a Lusa participou, que os EUA estão "preocupados com a presença em Cabo Delgado de companhias militares privadas”. "Estamos conscientes disso, é uma característica do panorama em Cabo Delgado que complica mais do que ajuda a abordar o terrorismo”, considerou o coordenador interino, que assumiu funções na Administração de Joe Biden em Fevereiro.

O também enviado especial interino da Coligação Global para Derrotar o Estado Islâmico do Iraque e Síria (ISIS) criticou que, "por causa dessas entidades operarem fora das estruturas de parceria internacionais, tendem a ser menos responsáveis em relação à observação de direitos humanos ou leis de conflitos armados”. A Amnistia Internacional (AI) repetiu recentemente denúncias que surgiram desde 2018, sobre alegadas violações dos direitos humanos protagonizadas por forças governamentais.

Num novo relatório lançado no início de Março, a AI concluiu que além de rebeldes armados, cuja origem continua por esclarecer, as Forças de Defesa e um grupo militar privado da África do Sul contratado pelo Governo moçambicano também são responsáveis por atacarem civis durante os confrontos com os insurgentes.

As Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM) consideram falsas as informações e o Governo moçambicano nunca assumiu a contratação de companhias privadas de segurança.
O responsável norte-americano disse, quinta-feira, que os EUA "levam a sério quaisquer alegações” de violação de direitos humanos ou leis de conflito armado.

Segundo John Godfrey, as iniciativas dos EUA passam por um "processo muito rigoroso”, sob a supervisão do Congresso federal, para assegurar que indivíduos e líderes de entidades com que querem firmar novas parcerias tenham "um registo criminal limpo”.

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