Política

Três perguntas a oito empresários

Pedro Narciso |

Jornalista

1-Em que sectores de actividade Angola pode tirar benefícios? 2- Que projectos estruturantes Angola devia contar com a Itália? 3- Em que mercado italiano Angola pode investir?

27/05/2023  Última atualização 08H25

Alfeu Vinevela

Empresário do sector agrário do Bié

1-  Julgo que o País devia estar disponível para receber o investimento italiano e canalizá-lo para todos os sectores de actividade não petrolífera. E apreender a fórmula utilizada por eles  que capacitou o sector das micro, pequenas e médias empresas,  autêntico motor da economia italiana.

2 - Tudo aquilo que se pode produzir  e exportar, desde já produtos do campo. É preciso uma transição do modelo económico. Um modelo que garanta uma economia para além do petróleo, tirando partido dos seus activos endógenos e das suas vantagens económicas.

3 - Acho melhor dispensar aos italianos as terras aráveis que nós possuímos, entretanto pouco exploradas para transformar em campo de produção. É uma oportunidade derradeira para um desenvolvimento sustentável e para os nossos empresários. 

Maria Nascimento

Presidente da Federação das Mulheres Empreendedoras

1 -  Desafios gigantescos, sobretudo ao nível das infra-estruturas, do ambiente macroeconómico, da eficiência do mercado laboral e do mercado de bens, do desenvolvimento do sistema financeiro, da dimensão do mercado, da sofisticação dos negócios e da inovação.

2 - Reafirmamos a importância do sector do turismo como sector chave, sector motor, sector criador e gerador de escala e de qualidade para o conjunto da economia e a necessidade de formatação da política económica em função desta assunção.

3 - Apostar apenas no mercado nacional, sobretudo para economias de pequena dimensão, é uma estratégia suicida. É preciso insistir na internacionalização. Produzir um produto ou serviço que não permita a sua internacionalização pode asfixiar o crescimento exponencial da empresa.

Luís CupeÑala

Presidente da Câmara de  Comércio Angola-China

1 -  A   Itália é um dos países mais desenvolvidos da Europa e, consequentemente, do mundo, com experiências seculares em vários sectores. As indústrias transformadoras e extractivas, construção, tratamento de água,  são para mim sectores de eleição.

2 - Nos grandes projectos do Executivo para o próximo quinquénio, nomeadamente o Planagrão, o  Planapesca e o Planapecuária, cruciais para a  segurança alimentar e para  diversificação da economia do País. Ou seja, são na verdade projectos de que o país precisa.

3 - Precisava-se de arranjar parcerias muito fortes para investirem com sucesso num país como a Itália. Internacionalizar exige mais capacidade financeira, melhor gestão,  conhecimento do mercado internacional e parcerias locais.

JOSÉ SEVERINO

Presidente da Associação Industrial de Angola

 1 -  Há anos, os italianos queriam  fazer em Angola  o mesmo exercício que tinham feito com um total de 12 países e com um sucesso absoluto: um centro de formação para a utilização da maquinaria que se compra em Itália e assegurar a assistência das mesmas.

2 - Um país como Angola, que tem uma política forte para desenvolver uma indústria manufactureira através de projectos muito bem conseguidos como   o Planagrão, entre outros,  a maquinaria   fabricada na Itália é a melhor  opção, sem sombra de dúvida.

3 - O nosso capital espalha-se por múltiplas vantagens  como  plataformas petrolíferas e de gás, recursos hidroeléctricos incomensuráveis, potencialidades agrárias, posição geográfica influente no Atlântico Sul, porta para o interland africano e seu mercado exponencial.

Luís Chiminha

Empresário do sector da restauração

1 - É um dos países mais auto-suficientes a nível alimentar  da Europa, onde é possível encontrar excelente cultivo de trigo e arroz. Por isso, pode ser um grande parceiro para Angola, numa fase em que o projecto Planagrão começa a dar os primeiros passos.

2- As máquinas italianas ajudariam o sistema de reboque e de transporte de cargas no que concerne ao plano de construção de uma rede ferroviária, com ligação com os países fronteiriços. E  a concluir os projectos da construção de portos.

3 - É notória a elevadíssima qualidade dos materiais de construção e de revestimentos italianos, do mobiliário doméstico, de escritório e dos aparatos para iluminação. É um sector de que lhe é reconhecida uma competência de primeiro nível. Temos boa madeira, para exportar. 


Ernestina  A. Chipita

Presidente da Cooperativa de Pesca Artesanal Tômbwa

1 - É crucial    garantir, essencialmente, investimento estrangeiro no intuito de  assegurar a passagem de Angola para um patamar de desenvolvimento sustentável. A indústria transformadora é a minha grande aposta.

2 -  Julgo que  seriam bons parceiros. Já o foram na década de  1980, aqui no Tômbwa, quando da  Idruconsult, uma empresa italiana que esteve envolvida na construção de infra-estruturas de salga e seca, assim como um laboratório de análise de pescado seco.

3 - A política de exportação é como um ciclo normal de vida. Nenhuma criança nasce adulta. É preciso investimento, cuidados, atenção para que ela [a criança] se desenvolva. É a mesma coisa que se passa com uma empresa. Creio que não é ainda o momento certo para investirmos forte em Itália.


Georgina Neto

Presidente da Associação das Mulheres Empresárias do Uíge

1 - Esta é a melhor ocasião para a diversificação da economia de Angola. A aposta deve agora centrar-se, também, na agricultura, indústria, no turismo e na criação de pequenas e médias empresas angolanas. E a Itália tem experiência suficiente para nos passar.

2 - Sendo o quinto país do mundo que recebe mais turistas, cujo número ascende aos 46,1 milhões, conforme  noticiaram, devíamos aproveitar a larga experiência para envolvê-los nos pólos de Calandula, Bacia do Okavango e no grande projecto Okavango- Zambeze.

3 - Os desafios são de índole estratégica e estrutural e exigem o recurso à inovação, ao empre-endedorismo e ao sector em-presarial, enquadrados numa estratégia global, amplamente partilhada pelos principais intervenientes. Quando isto for um facto, podemos pensar em mudar  para os mercados da Europa.

Francisco Abílio Lubamba

Empresário agropecuário  do Cunene

1 - Urge a criação de veículos de financiamento que se  podem transformar  num banco de desenvolvimento  conjunto com a missão específica de promover os negócios, potenciando também a utilização dos mecanismos de cobertura de riscos internacionais.

2 - Também  devíamos contar com este país para  nos ajudar a recuperar unidades fabris emblemáticas, actualmente degradadas, sobretudo no Sul  do País, por exemplo a  fábrica de sumo  localizada na Matala.

3 - O sector do café, uma área em que os italianos são excelentes. Também importante é o sector das Pescas, pois possui  a segunda frota pesqueira da União Europeia, com 14 mil embarcações. E até, o sector das Pescas italiano já cá  esteve na década de 1980, se a memória não me falha, no Namibe.


 




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