Cultura

Trajectória musical de Zé Abílio recordada por colegas de palco

Manuel Albano |

Jornalista

O músico Zé Abílio, que morreu em 2016, aos 49 anos, vítima de doença, será homenageado, hoje, a partir das 14h00, numa actividade músico-cultural, a ter lugar no espaço Língua, junto ao Centro de Saúde do Sambizanga, rua 12 de Julho, em Luanda.

18/05/2024  Última atualização 13H25
Homenageado faleceu em 2016 e foi uma figura emblemática da sua comunidade, no bairro da Lixeira, no Sambizanga © Fotografia por: DR

Em declarações ontem ao Jornal de Angola, o irmão mais velho do homenageado, o também músico António Pedro Caetano "Caeta”, um dos  promotores da iniciativa, explicou que a intenção é não deixar esquecer o legado de Zé Abílio, pelo contributo prestado em prol das artes, em particular da música angolana.

É nesta ordem de ideias, sublinhou,  que a comunidade do Distrito Urbano do Sambizanga se uniu para render, no período da tarde de hoje, um tributo com música ao vivo num espaço aberto, próximo da residência do malogrado, como forma de revisitar os sucessos de Zé Abílio do disco "Destár”, nas vozes de Sesé, Lolito da Paixão, Massoxi e do próprio António Pedro Caetano.

Os músicos, assegurou, vão ser acompanhados instrumentalmente pela Banda Kizua, com a participação do trio NCM, em que devem ser exploradas canções da autoria de Zé Abílio, como "Mamá Kuiba”, "Titita”, "Bangão Vutuca”, "Sumba Tata” e "Yengui”.

Quem está a seguir as pegadas do pai, na continuidade da obra deixada por Zé Abílio, é o filho Nandinho, actualmente a residir no Namibe. De acordo com o tio, embora o sobrinho seja um funcionário bancário, é o que está a cantar e a seguir o legado de Zé Abílio. "Esse sim, é o que nós contamos como um herdeiro das obras do pai. O meu irmão foi de uma família de músicos. Na sua maioria nós somos todos músicos. Eu, irmão mais velho, sou cantor, pertenci à  Banda 21 de Janeiro, nosso pai cantava, nosso irmão Pombinha canta, minhas irmãs, toda a família praticamente é de músicos”, contou o irmão.

Zé Abílio destacou-se pelo legado deixado na divulgação e preservação da música angolana de raiz, como um dos defensores do semba, género musical com o qual fez carreira ao longo de mais de 30 anos. Tem as suas impressões digitais como instrumentista no Progresso de África, Musangola e Gingas.

Zé Abílio despediu-se dos palcos num sábado, tendo participado num último show em Luanda, a 3 de Dezembro de 2016. O malogrado foi deitar-se às 23 horas de domingo, 4 de Dezembro de 2016, depois de ter passado bem o dia, mas acordou de madrugada a queixar-se de dores na região do coração e viria a falecer já no Hospital Josina Machel, em Luanda, às seis horas de segunda-feira.

O falecimento de Zé Abílio não só deixou mais pobre a música angolana em geral, mas em particular a cultura do Distrito Urbano do Sambizanga, já que tal como Bangão e outros nomes de referência, eram os cantores que faziam a alegria das gentes daquele bairro emblemático da cidade de Luanda.

Zé Abílio foi uma figura emblemática do bairro Lixeira, onde há 57 anos se notabilizou como homem de mil ofícios, como na música, em que era cantor e guitarrista, no futebol e na mecânica.

Zé Abílio e Os Kiezos

No dia 17 de Novembro de 2015, Zé Abílio afirmava com satisfação a sua integração num dos conjuntos mais emblemáticos do país, Os Kiezos, após um espectáculo no Centro Recreativo Kilamba, no Rangel, em que autografou o disco de estreia "Destár”, o que lhe valorizou a carreira e permitiu amadurecer como artista.

Participou no último disco dos Kiezos com os sembas de sua autoria "Mamá Kuiba”, "Titita”, "Bangão Vutuca”, "Sumba Tata” e "Yengui”. O músico apresentou o disco "Destár”, a 3 de Outubro de 2014, em Luanda,  na Praça da Independência, em que constam 11 temas nos estilos semba, rebita, kilapanga, cabecinha e bolero, interpretados em português, quimbundo e kikongo.

Do homem cujo slogan era "A bicha está a andar bem”, que ficou na boca dos residentes do bairro Lixeira, onde nasceu, teve o seu mérito reconhecido no dia do seu funeral, a 8 de Dezembro de 2016, quando os grupos carnavalescos União Kazukuta do Sambizanga e União Operário Kabocomeu prestaram uma homenagem muito sentida, ao interpretarem as canções da sua autoria, com as quais estes grupos  venceram o prémio BAI da Canção, no Carnaval de Luanda, em 2008 e 2014.

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