Sociedade

Técnicos da ENDE acusados de manipular sistema pré-pago

Rodrigues Cambala

Jornalista

Várias residências com dispositivo do sistema de energia pré-pago, instalados a partir dos postes, em Luanda, têm ligações directas em função de uma manipulação efectuada, supostamente por técnicos da Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE) e das agências contratadas para apoiar na gestão de determinados bairros, com prejuízos para a empresa pública.

26/02/2021  Última atualização 10H07
Na Camama, existem algumas casas cujos dispositivos de energia são manipulados © Fotografia por: Francisco Curihingana | Edições Novembro
Segundo um morador da Camama, que denunciou o facto ao Jornal de Angola, a desactivação do sistema pré-pago, geralmente, é proposta por técnicos da Empresa Distribuidora de Electricidade, que estipulam períodos de cobrança anárquica, para que a recarga não seja feita de forma regular.
O morador, que negou identificar-se para evitar represálias, denunciou que em muitas residências da zona em que vive, o sistema de energia pré-pago deixou de funcionar em função de "acordos reprováveis a todos os níveis” entre o consumidor e supostos técnicos da ENDE. 

A fonte explicou que algumas casas têm consumo alto, em função da elevada quantidade de electrodomésticos, uma razão justificada para a adopção da tal "negociata”, que se consubstancia em dar dinheiro às mãos dos referidos indivíduos e não para os cofres do Estado, como era suposto acontecer.
Ao afirmar que a equipa de fiscalização da ENDE não tem passado nas residências, lembrou ser uma situação bastante conhecida entre os moradores da Camama, mormente nos arredores da Loja de Registo Civil.

"Os próprios funcionários da ENDE é que propõem essa forma de consumo. As pessoas aceitam, porque não vão ter contas de energia”, disse o nosso interlocutor, para assegurar que as "caixas” deixam de funcionar e a ligação passa a ser directa.
Um outro morador do Distrito Urbano da Cidade Universitária (arredores do bairro Sapu 2), no Talatona, denunciou igualmente tais actos naquela zona, liderados por supostos técnicos da ENDE. "Eles propuseram-me para fazer ligação directa para a minha casa, mas, para tal, tinha de entregar em mão 20 mil kwanzas. Recusei para evitar problemas com a Justiça, no futuro”, afirmou.

De acordo com este morador, o técnico da ENDE que o interpelou deu mostras de se tratar de uma rede organizada e ardilosa em manipular o sistema pré-pago, para fins pessoais.
"Ele disse-me que não havia problemas e se um dia alguém aparecesse em minha casa, para fiscalizar o dispositivo, devia dizer o nome dele e não resultaria em nada”, acrescentou.

"Ele insistia-me e depois deu o seu terminal para quando precisar ligar”, avançou, indicando que há muitas casas, naquela circunscrição, que têm o sistema de energia pré-pago desinstalado, por maldade de supostos  trabalhadores da Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade”.

ENDE promete punir os prevaricadores

Ao Jornal de Angola, o director interino do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa da ENDE, Isaac António, disse desconhecer tais actos, mas adverte que o comportamento é susceptível de um processo disciplinar e seguido de despedimento por justa causa.
"Um trabalhador que faz isto não está a honrar a empresa, pelo contrário está a prejudicar”, adiantou, pedindo à população que identifique e denuncie essas pessoas.

Isaac António assegurou que a manipulação do sistema de energia pré-pago causa danos nos contadores e prejuízo à empresa.
A ENDE supõe que as ligações directas podem estar na base do volume de dívida contabilizada pela empresa.
"As pessoas devem fazer denúncia, porque o dinheiro pago pelo consumo de energia serve, também, para alargar os investimentos no sector”, frisou.

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