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Surto de cólera afecta dez países africanos

A directora regional para África da Organização Mundial da Saúde (OMS), Matshidiso Moeti, disse esta sexta-feira que a principal preocupação já não é a Covid-19, mas sim o surto de cólera, que afecta 10 países africanos. “

28/01/2023  Última atualização 08H30
Hospitais têm dificuldades em dar conta das pessoas que procuram pela ajuda médica © Fotografia por: DR
"A ameaça da pandemia de Covid-19 está a diminuir, agora estamos mais preocupados com a cólera, que já se espalhou a 10 países em África, e coloca uma extrema pressão nas limitadas vacinas que existem a nível mundial”, disse Moeti, durante uma conferência de imprensa virtual a partir de Brazzaville.

No total, nas primeiras três semanas de Janeiro, foram registados no continente 20.552 novos casos de Covid-19, o que representa uma queda de 97% face ao valor registado nas primeiras três semanas do ano passado, apesar de haver uma subida dos números na África do Sul, Tunísia e Zâmbia, salientou Moeti, admitindo que apesar de os números poderem ser maiores devido às baixas taxas de teste, o importante é que o número de hospitalizações e o de mortes diminuiu para 88, o que compara com as 9.096 registadas no mesmo período de 2022.

"Pela primeira vez desde que a Covid-19 abalou as nossas vidas, Janeiro não é sinónimo de um surto, e África está a embarcar no quarto ano da pandemia com a esperança de ultrapassar o modo de resposta de emergência, passando a conviver com o vírus neste novo normal”, afirmou. Na conferência de imprensa, a OMS defendeu ainda a necessidade de incluir a vacina contra a Covid-19 no plano de vacinação normal dos países africanos.

A epidemia de cólera em curso desde Março de 2022,  no Malawi, já matou mais de mil pessoas, de acordo com o Governo, e já causou a morte a 16 pessoas em Moçambique. "Nós temos um cumulativo de 1.376 casos de cólera e 16 óbitos, que correspondem a uma taxa de letalidade de 1,2%”, disse Domingos Guiole, do departamento de vigilância em saúde pública no Misau, citado a 16 de Janeiro pela televisão privada STV, o que levou o próprio Presidente da República, Filipe Nyusi, a defender que sejam "redobrados os cuidados de higiene”.

O Centro Africano para o Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC) da União Africana, também disse ontem estar preocupado com a expansão do surto de cólera no Malawi a outros países vizinhos, nomeadamente Moçambique.

"Estamos a trabalhar de perto com as autoridades do Malawi para conter o surto de cólera, que é uma doença prevenível e tratável desde que se tenham as ferramentas”, afirmou o director interino do África CDC, Ahmed Ogwell, numa conferência de imprensa.

"Receamos que a doença possa cruzar as fronteiras do Malawi e começar a afectar outros países vizinhos, especialmente Moçambique”, acrescentou o responsável, citado pela agência Efe.

No encontro virtual, Ogwell admitiu "grande preocupação” pelos vários surtos de cólera que existem neste momento em África, como no Malawi, Burundi, República Democrática do Congo (RDC), Moçambique e Quénia, entre outros, nos quais já causaram mais de 19 mil infecções este ano.

Governação mais fragilizada

Um novo relatório sobre a governação africana divulgado,  na quinta-feira revela que grande parte do continente está "menos segura, protegida e democrática” do que há 10 anos, citando uma onda de golpes militares e conflitos armados. O retrocesso democrático agora ameaça reverter décadas de progresso feito em África, de acordo com um índice de governanção compilado pela Fundação Mo Ibrahim, que aponta 23 golpes bem-sucedidos e tentativas de golpe desde 2012.

"Esse fenómeno de golpe de estado que era comum nos anos 80 parece ter voltado à moda em certas partes da África”, disse Mo Ibrahim, um bilionário britânico nascido no Sudão que está a usar a sua fortuna para promover a democracia e a responsabilidade política na África. Segundo a Reuters, o relatório da sua fundação citou oito golpes bem-sucedidos apenas desde 2019. Mali e o vizinho Burkina Faso viram dois durante esse período, desestabilizando ainda mais uma parte do mundo já sitiada por militantes islâmicos.

Os autores do relatório também constataram que os problemas gerais de segurança são generalizados: na última década, quase 70% dos africanos viram a segurança e o estado de direito diminuírem nos seus países, refere o documento. Mais de 30 países caíram nesta categoria, de acordo com o índice.

O Sudão do Sul ficou na última posição, seguido pela Somália, Eritreia, RDC, Sudão, República Centro-Africana, Camarões, Burundi, Líbia e Guiné Equatorial.

A violência do governo contra civis e a agitação política aumentaram em toda a África desde o início da pandemia do Covid-19, diz o relatório, com os governos a usarem restrições para reprimir a dissidência.

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